Novelas
Alguém imaginaria que este viesse a ser, como está a ser, um verão tão agitado?
P ARA que os adeptos do FC Porto o compreendam definitivamente: quando, nos meios de comunicação, se questiona a transferência de Sérgio Oliveira para os turcos do Galatasaray, não se está a questionar se foi ou não um bom negócio. À partida, aliás, se é possível considerar que o Benfica até fez um bom negócio no empréstimo do avançado Seferovic (que tinha, ou terá, contrato na Luz por mais duas épocas, até 2024) aos mesmos turcos do Galatasaray - encarnados recebem já um milhão de euros de taxa de cedência temporária, e o Galatasaray, além de assumir integralmente os salários do jogador suíço, fica com cláusula de opção de compra por 2,5 milhões de euros, que se tornará obrigatória logo que Seferovic faça 15 jogos -, então nada poderia levar-nos a concluir ter o FC Porto feito um mau negócio com a cedência, já definitiva, de Sérgio Oliveira, por três milhões de euros, abatendo também um salário naturalmente elevado (um custo na ordem dos quatro milhões brutos por cada uma da três épocas até 2025, é bom não esquecer), na folha de pagamentos.
Sérgio Oliveira e Seferovic (que também custaria ao Benfica um valor da mesma ordem dos quatro milhões brutos/época) têm ambos 30 anos, são ambos bons, evidentemente, cada qual na sua posição, são ambos internacionais, serão ambos valores que poderiam ainda, depende do ponto de vista, ser ainda úteis a FC Porto e Benfica, mas clubes e jogadores lá sabem as linhas com que se cosem, e, na verdade, se consideramos bom negócio o do Benfica teremos de considerar bom negócio também o do FC Porto.
Lembro ainda - nunca é demais avivar memórias - que Sérgio Oliveira podia perfeitamente ter deixado concluir em 2021 o contrato que tinha com o FC Porto - saindo, no verão passado, a custo zero, ainda com 29 anos e com menor estigma relativamente aos 30!!! - e não o fez, aceitando, antes, renovar até 2025 para que, numa boa oportunidade, o FC Porto pudesse ainda encaixar algum dinheiro. A questão não está, pois, na natureza do negócio entre FC Porto e Galatasaray. A questão de fundo é outra: por que raio tinha a Roma - onde Sérgio jogou por empréstimo na segunda metade da última época - uma opção de compra do jogador por 13 milhões de euros e ele foi agora transferido por três?!
Ainda em junho, recordo, quando esteve em Lisboa, o treinador da Roma, José Mourinho, disse que não tinha no «cartão Visa» dinheiro suficiente para adquirir Sérgio Oliveira (aludindo, naturalmente, aos 13 milhões por um jogador de 30 anos), mas que o levaria, ele próprio, pela mão, de volta a Roma, se o FC Porto aceitasse emprestá-lo mais uma época. Ora se a Roma tinha de pagar 13 milhões (ou menos, porque descontaria, provavelmente, o valor da taxa de empréstimo) para ficar com Sérgio Oliveira, alguém poderá explicar como foi Sérgio Oliveira, poucas semanas depois, transferido para o Galatasaray por três milhões?
Pergunto ainda: pela mesmo quantia, não teria Mourinho convencido a Roma a contratar Sérgio Oliveira, um jogador, internacional, experiente e português, daqueles capazes de dar em campo a vida pelo treinador? Não quereria Mourinho ficar com mais um jogador assim?
Claro que a preferência pelo Galatasaray também deve ter sido definida pelo próprio jogador. Sabe-se, oficiosamente, que Sérgio Oliveira irá ganhar no clube turco qualquer coisa como 3 milhões de euros líquidos por cada uma das quatro próximas temporadas (e com menor carga fiscal do que em Portugal, onde ganharia cerca de dois milhões, mas com IRS mais implacável), e esse é um salário realmente extraordinário para um jogador como Sérgio Oliveira e que talvez a Roma não estivesse disposta a pagar. Na hora da verdade, ainda para mais com 30 anos, isso pesa e de que maneira, até porque Sérgio Oliveira fará, de momento, contas a que este possa ser o último bom contrato como profissional de futebol.
Na verdade, não é possível saber, pelo menos por agora, se a Roma estaria disponível para eventualmente igualar essas condições oferecidas pelo Galatasaray. E também ninguém sabe ainda, em rigor, se foi ou não Sérgio Oliveira a pedir ao FC Porto para o deixar ir para o Galatasaray ganhar o que foi ganhar, sabendo o FC Porto que o Galatasaray só estava disposto a pagar três milhões pelo jogador, e aceitando-o, quem sabe, como ato de gratidão para com um jogador que esteve tantos e tantos anos no Dragão.
Em qualquer caso, e espero que os adeptos do FC Porto o compreendam definitivamente, o que fez com que o negócio fosse questionado não foi a natureza, em si, do próprio negócio, mas a descida de um valor de 13 milhões imposto à Roma para aquisição definitiva do jogador para os… três milhões que o FC Porto aceitou do Galatasaray. Ninguém pode levar a mal que se julgue estranho um assunto até agora pouco explicado!
J Á muito pouco estranha parece-me, creio, a decisão de o FC Porto não apresentar recurso do castigo aplicado a quatro dos seus jogadores pelas ofensas públicas à instituição e adeptos do Benfica. O castigo de um jogo de suspensão para Otávio, Diogo Costa, Wilson Manafá e Fábio Cardoso pelo que fizeram há quase três meses foi, finalmente, decidido quase dois meses e meio depois de o Benfica apresentar oficialmente queixa. Com a ironia de que tanto gosta o presidente do FC Porto, é, como se vê, pouco tempo para se decidir o que não podia ter outra decisão!...
Os quatro jogadores do FC Porto insultaram ou não a instituição Benfica e os seus adeptos? Insultaram! Fizeram-no num espaço privado? Parte dos cânticos, sim, outra parte não, como aliás fica evidente pelo acórdão do Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol, que faz referência, nos casos de Diogo Costa e Fábio Cardoso, a «cânticos insultuosos» proferidos ainda no Estádio do Dragão, na celebração do título, junto com os adeptos, em dois momentos, segundo o CD, registados, aliás, na transmissão dos festejos, pelo canal de televisão ligado ao FC Porto.
Na parte em que os jogadores resolveram fazê-lo num espaço privado trataram, eles próprios, de o tornar público, através de uma rede social, não resistindo à gracinha de ficarem bem na fotografia para os adeptos portistas, sem pensarem, naturalmente por garotice, que estavam a autoincriminar-se de modo absolutamente irreversível. Tão irreversível que o FC Porto sabe muito bem que não ganha nada em recorrer; pelo contrário, talvez até corresse o risco de ver as penas agravadas.
Retifico, porém, porque se a Supertaça, amanhã, sábado, 30 de julho de 2022, fosse frente ao Benfica ou ao Sporting, talvez o despudor e a eventual falta de vergonha acabassem por levar os responsáveis do FC Porto a apresentar recurso, não para reverter o que é, sublinho, irreversível, mas, qual chico espertice, apenas para tentar suspender a decisão e permitir que os jogadores pudessem fazer o jogo.
Como é com o Tondela - com todo o respeito pelo Tondela -, os responsáveis do FC Porto preferem a sensatez de meter a viola no saco, como diz a expressão popular, reconhecer que este é um castigo que nunca seria revertido e poupar os jogadores já neste primeiro encontro oficial com que costuma abrir-se uma nova época de competições. Ou alguém, no seu perfeito juízo, imagina que os castigos aos jogadores do FC Porto pudessem ser anulados por qualquer que fosse o tribunal de recurso?!
Por último, tenho ouvido por aí comparar-se o que fizeram estes quatro jogadores do FC Porto (longe de terem sido os primeiros, é bom reconhecer) com o que possam ter feito outros jogadores em plenos campos de futebol, sob o calor da competição. Não é comparável, por muito que seja igualmente condenável, ver-se um jogador profissional, mesmo no calor de um jogo, insultar instituições e adeptos adversários.
Mas o que fizeram Otávio, Diogo Costa, Manafá e Fábio Cardoso está muito longe do calor de um jogo. É, quando muito, uma brincadeira de muito mau gosto, mas que reflete, queira-se ou não, um modo de estar, uma cultura, um estilo com que passam a conviver todos os que defendem, e defendem muitas vezes bem, um clube com a cultura do FC Porto. A diferença desta para vezes anteriores, em que foram vistos jogadores portistas a exibir-se do mesmo modo, sobretudo nas muitas festas dos muito títulos, são os castigos. Ganhar muitas vezes não pode conferir aos profissionais do futebol, neste caso, do FC Porto, o direito de insultar quem querem. Não têm esse direito os profissionais do FC Porto nem de qualquer outro clube, evidentemente. Quanto aos adeptos, se o fazem, apenas podemos lamentá-lo, na esperança de que no futuro o façam menos, quando perceberem que os jogadores já não os acompanham. Sinal de que castigos como este foram, afinal, capazes de produzir, realmente, o resultado que se deseja. Pôr fim a isto!
PS: Pela enorme admiração que me merece, espero que Cristiano Ronaldo fique no Manchester United, um clube que realmente o ama, como voltou a provar quando, há um ano, o acolheu de novo. Ainda há tempo para corrigir o (mal) que está feito e manter o respeito dos adeptos. Mas já não há muito e era bom que Cristiano o compreendesse e decidisse ficar. Creio que só honraria a sua imagem e a sua carreira!