Nós, a equipa
ESCREVO este texto sexta-feira, ontem para si caro leitor, que o lê hoje. Faço-o de casa. Calhou estar de folga e como a coluna de opinião é publicada, há quase onze anos em A BOLA, sempre aos sábados, isto afinal já me aconteceu dezenas de vezes. Acontece, porém, que amanhã devia voltar à redação e, respeitando o jornal recomendações para contenção da propagação da covid-19, também ficarei em casa uma semana. E por isso me parece que hoje é, afinal, diferente, triste. Mas vai passar. Claro que vai. Assim façamos todos o que nos tem sido pedido. E para quem não sabe o que nos tem sido pedido, não é aqui que irá lê-lo, porque você, leitor, tem um dever de cidadania que o obriga a manter-se informado por especialistas.
Não exageremos nos medos, é só o que arrisco recomendar. Não pensemos já em desportos pós-apocalípticos, mas se porventura também precisar de se entreter em casa com outros exagerados, ficcionados, opções não faltam. Recomendo o filme Juggers - Gladiadores do Futuro, de 1989, com Rutger Hauer e Joan Chen, passado num mundo esquecido dos conceitos sociais e no qual emerge um jogo violentíssimo, mortal, o jugger, praticado por equipas nómadas que desafiam os povoados que visitam. A bola é uma caveira de cão. E morre gente à pancada, com tacos de basebol e sticks de hóquei - há até, já agora, um desporto que emergiu deste filme, que se joga em vários países, de forma amadora, simulando a violência. A bola é feita de esponja que imita uma caveira de cão.
Saibamos, portanto, separar bem a ficção da realidade. Porque a realidade somos nós, aqui, uns com os outros, não uns contra os outros. Não corramos para os supermercados para ficar com tudo para nós, porque nestes tempos o conceito de nós deve alargar-se. O nós, cá em casa, não sou só eu, a minha mulher e as minhas filhas. O nós, para mais nestes tempos, deve incluir também as pessoas que eu nem sequer conheço.