No futebol, só tem razão quem ganha...
NO futebol, só tem razão quem ganha. Não vale a pena teorizar, elaborar, presumir, efabular, cenarizar ou evoluir, se, no fim do dia, a equipa não marca mais golos do que o adversário.
Ao contrário do que sucede noutras atividades, no futebol a competência é aferida mais de meia centena de vezes ao longo da temporada, cada vez que a equipa entra em campo. E não vale a pena criar a mais fabulástica das táticas, muito menos chegar ao fim da semana de treinos com a satisfação plena de um trabalho bem conseguido se, depois, quando a bola rola sobre o tapete verde, o resultado não for satisfatório. No futebol, ser resultadista é fazer prova de vida, independentemente do facto de quem jogar melhor ficar, regra geral, mais perto da vitória. É por tudo isto que os goleadores sempre foram as cartas mais valorizadas do baralho e, crescentemente, a cotação de guarda-redes e defesas-centrais tem vindo a crescer no mercado.
Esta verdade é válida para todos, especialmente para treinadores e dirigentes, daí ser possível passar de bestial a besta, em menos do que um piscar de olhos.
Há poucas semanas, Bruno Lage, sete pontos à frente do FC Porto, vivia em estado de graça e Sérgio Conceição tinha de vir a público exigir que os dragões marchassem em ordem unida, sem divisões. Duas derrotas encarnadas e duas vitórias azuis-e-brancas depois, tudo mudou, Lage trocou de lugar com Conceição, passando a caminhar no fio da navalha, apesar de poder permanecer na frente do campeonato. Porquê? Resultados!
E esta lei não escrita do futebol também é válida para as Direções, porque a memória dos adeptos é curta e a tolerância perante o insucesso, muito escassa.
Por isso, quem quiser manter-se no poder tem de mostrar serviço, municiando a sua equipa mais representativa (a mola real de todos os clubes, sem exceção) das melhores condições para ganhar.
E, se o poder é conquistado através de eleições (ao contrário do que sucede em quase todos os clubes da Europa, onde é a maioria das ações que confere legitimidade), o cuidado tem de ser redobrado, porque a gratidão dos sócios pelos feitos do passado é invariavelmente diluída pelos insucessos do presente, que prenunciam um futuro pouco risonho. Porque, no futebol, só tem razão quem ganha.