No Belenenses? Impossível acontecer...
São conhecidos os argumentos do Clube de Futebol Os Belenenses e da empresa que gere a SAD, os tribunais já se pronunciaram e parece claro, para lá outros considerandos, que a Codecity tem direito a apresentar uma equipa, a B-SAD, na Liga, enquanto que a denominação Belenenses, o emblema da Cruz de Cristo, o hino e o lema «com a certeza de vencer» pertencem ao clube fundado há cem anos pelos rapazes da praia.
Mas, se alguma confusão houvesse quanto à natureza destas entidades, o recente caso do túnel do Jamor serviria para dissipá-las. E como? Ao nível dos princípios.
No intervalo do jogo B-SAD-FC Porto, verificaram-se incidentes graves e o treinador da equipa da casa acusou alguém, a quem se referiu em termos que me escuso a reproduzir, de tê-lo agredido a soco. Por isso, das duas uma: ou Pedro Ribeiro, como assegurou e a SIC captou o desabafo, levou mesmo um soco, e será preciso apurar os factos, até às últimas consequências; ou Pedro Ribeiro não levou soco algum, e o que importará será perceber que razões poderiam tê-lo levado a mentir.
Sérgio Conceição, treinador do FC Porto, que tinha trocado razões com Pedro Ribeiro, e tem surgido, neste caso, no olho do furacão, optou, até agora, pela estratégia do silêncio, limitando-se a um «não estou preocupado» para definir o seu estado de espírito. Não é uma defesa convincente (antes pelo contrário), mas não é a ele que compete o ónus da prova.
Coisa diferente passa-se com o técnico do B-SAD. Então clamou, alto e bom som, que tinha sido agredido a soco e depois cala-se? Não faz sentido, por nenhuma boa razão, pelo menos. E não só. Fosse ele treinador do Clube de Futebol Os Belenenses e teria a apoiá-lo a instituição em peso, receberia a solidariedade dos sócios e simpatizantes e sentiria a força centenária do Belenenses a exigir que a ofensa não ficasse sem reparação. Como joga sob a égide de uma Sociedade Anónima Desportiva, sem peso social e histórico, o único apoio que recebeu foi o de um silêncio ensurdecedor, com o qual acabou por pactuar. Mas porquê, pergunto, se, como gritou, tinha sido agredido a soco? Aos 34 anos, Pedro Ribeiro tem pela frente um desafio complicado: se, depois do que disse, vacilar (como está a fazer), a dúvida que se levantará não será quanto a atributos técnicos, mas sim quanto ao caráter.