Não pode ser só «futebol»
Há explicações que se podem aceitar se falarmos só num jogo. O problema é que no caso do Benfica não estamos a falar apenas de um jogo
H Á, sempre, explicações, mais ou menos objetivas, para quando um candidato ao título (como o Benfica) perde ou empata contra um clube que, estando a fazer um campeonato digno de registo, joga para a manutenção (como o Estoril). Ou o adversário foi melhor - não é, nunca será, normal, mas pode acontecer -; ou a bola não quis entrar - aconteceu, ainda recentemente, também aos encarnados na receção ao Portimonense -; ou, vá, se estivermos a falar apenas de um jogo, o «é futebol» ou até o «pusemo-nos a jeito», ambas expressões utilizadas por Jorge Jesus para tentar explicar o empate no António Coimbra da Mota que fez a águia sair da liderança e cair para o terceiro lugar. Todas estas são, é verdade, explicações aceitáveis quando estamos a falar de um jogo que, por qualquer razão, correu mal. Faz parte. Acontece ao Benfica e acontece a todas as grandes equipas.
O problema, para o Benfica e para Jorge Jesus, é que não estamos a falar, apenas, de um jogo. Convém recordar que há três jornadas os encarnados comandavam até de forma confortável, com quatro pontos de vantagem sobre FC Porto e Sporting. Num mês, imediatamente a seguir ao extraordinário triunfo sobre o Barcelona, a águia transfigurou-se para (muito) pior: duas vitórias - se formos simpáticos e contarmos o jogo da Trofa, ganho no prolongamento, como uma vitória, a que se junta um triunfo no último lance da deslocação a Vizela... -, dois empates e duas derrotas em seis jogos. Não é normal. Nem pode, na Luz, ser visto como normal ou justificado com um simples «é futebol». Até pode admitir-se o «pusemo-nos a jeito», mas convém, então, perceber porque se tem colocado, afinal, tantas vezes o Benfica a jeito de perder ou empatar jogos que tinha obrigação de ganhar, alguns deles, até, de forma tranquila.
Perceber o que está a correr mal é, claro, tarefa de Rui Costa, da estrutura e de Jorge Jesus. Há, contudo, em algumas destas partidas - tiremos, desta equação, os encontros com Portimonense (o Benfica foi, de facto, melhor e não ganhou, lá está, porque o futebol às vezes é mesmo assim) e Vizela (a equipa sofreu muito mas acabou por ganhar) - indícios que não podem, nem devem, os responsáveis encarnados ignorar: a fragilidade das segundas linhas. Repare-se: 1) na Trofa, em vésperas da receção ao Bayern Munique, o onze escolhido pelo treinador não foi capaz de evitar o prolongamento contra um conjunto que ocupava, na altura, o 14.º lugar da Liga 2; 2) na Luz, contra o Bayern, depois de uns primeiros 70 minutos francamente positivos, a derrocada começou não apenas no golo de Sané mas, também, quando Jorge Jesus quis refrescar a equipa; 3) em Guimarães, para a Taça da Liga, depois de uma primeira parte de bom nível, um onze que misturou primeiras e segundas opções (só acha que não existem em qualquer equipa do mundo quem anda realmente distraído) foi incapaz de segurar uma vantagem de dois golos; 4) no Estoril, a vencer por 1-0, as substituições efetuadas por Jorge Jesus foram incapazes de melhorar a equipa, pelo contrário, tornaram-na muito pior.
Há, aqui, uma tendência que convém perceber, porque não pode, naturalmente, o Benfica jogar todos os jogos, durante 90 minutos, com os mesmos onze jogadores. Tal como não pode, uma equipa como o Benfica, estar apenas dependente de onze jogadores, tremendo (treinador, dirigentes, adeptos, até a própria equipa...) quando, num qualquer jogo, o treinador tem, como terá sempre, de fazer alterações. Porque tem, evidentemente, de haver uma explicação para sinais que, repito, não se limitam a uma partida apenas. Das duas uma: ou Jorge Jesus está a ler mal o jogo e lança os jogadores errados nos jogos errados (uma leitura possível ao que se passou com o Bayern, na Trofa, em Guimarães ou no Estoril) ou as segundas linhas não têm, de facto, capacidade para jogar no Benfica. Qualquer das explicações é preocupante...