Não peço desculpa

OPINIÃO13.06.201900:54

NÃO peço desculpa a quem põe o seu clube à frente da Seleção Nacional. Para tudo há o tempo certo, mas ouvi e li alguns assumirem que o clube (paixão e interesses) está sempre muito acima. Não peço desculpa por ser do CLUBE DA SELEÇÃO.
Não peço desculpa a quem criticou a Liga das Nações como mais uma chatice que tira jogadores aos clubes… Desde o 1.º dia aplaudi a nossa Federação, com ênfase no diretor-geral, Tiago Craveiro, por terem sido os motores e planeadores desta nova competição (Craveiro apresentou o projeto à UEFA ainda na era Platini). Graças à magnífica liderança de Fernando Gomes, a FPF passou a ter voz bem ativa nas mais altas instâncias do futebol (frise-se: não só neste caso).
Tirando os 3 dias da final four - em Portugal, para isso sendo obrigatório que a nossa Seleção lá chegasse… -, a Liga das Nações preencheu as datas antes reservadas para jogos-treino, os tais amigáveis, por regra, eles sim, descoloridos, mais ou menos enfadonhos, quase nada adiantando… Óbvio: muitíssimo melhor competir a sério!  
Portugal, campeão da Europa, também a Liga das Nações conquistou. Excelente preparação e motivação para o Euro-2020. A quem desvalorizar esta conquista… lembro: a prova foi dividida em 4 níveis e o principal (Liga A) foi restrito às 12 Seleções mais cotadas no ranking. Eis como 4 alcançaram a fase final: Portugal eliminou Itália e Polónia; Holanda impôs-se a França e Alemanha; Inglaterra levou a melhor sobre Espanha e Croácia; Suíça bateu Bélgica e Islândia. Não foi coisa pouca ultrapassar tubarões. Os quais, creio, irão querer desforra em 2021.
Portugal venceu Holanda revigorada e cheia de talentos (tem, quanto a mim, a melhor dupla mundial no centro da defesa - De Ligt-Van Dijk -, soberbo médio -De Jong, já a caminho do Barcelona - e… lembrem-se do Ajax na Champions). Portugal ganhou a final porque jogou muitíssimo bem. A sua melhor exibição nos últimos anos. Taticamente roçando perfeição, jogadores em alto nível, e, claro, ganas de conquista.
Fernando Santos corrigiu erros da meia final - ganha, fundamentalmente, por Sua Majestade Cristiano Ronaldo. Como então escrevi, a variante losango do 4x4x2 exige muito treino, impossível em 5 ou 6 dias… Agulhas acertadas com regresso ao 4x3x3 - amiúde, 4x4x2, pois Bernardo, na ala direita, também precioso foi ao recuar e muito bem defender - e jogadores devolvidos ao seu sítio (Bernardo e Bruno Fernandes). Fernando Santos bateu Ronald Koeman no confronto tático.
A partir dessa base crucial, José Fonte rendeu o lesionado Pepe como tão bem rendera Ricardo Carvalho nos 3 últimos jogos do título europeu; Rúben Dias foi imperial (mau grado 2 penáltis…; é com enorme salto na sua cotação que o Benfica mais deve preocupar-se… se não quiser perdê-lo); dupla Danilo-William em grande no binómio poder atlético-qualidade técnica (Fernando Santos tem vindo, há vários jogos, a dimensionar William: de bom n.º 6 para ainda melhor n.º 8); Bernardo Silva encheu o campo com a criatividade do seu extraordinário talento e… incrível frescura física após superdesgastante temporada no City que tudo ganhou em Inglaterra; Ronaldo, até quando reduz brilho, arrasta adversários com ele sempre híper preocupados…; e Gonçalo Guedes exibiu a velocidade, a força e a alma de que João Félix estivera a léguas frente à Suíça - num fortíssimo aviso de que ter muito talento potencial é curto em competição a este nível…

CLARO que temos Seleção. E vão 12 consecutivas presenças em fase final das grandes competições. Antes das era Fernando Santos, destaque para 3.º lugar no Euro-2000 (Humberto Coelho ao leme), 2.º no Euro-2004 e 4.º no Mundial-2006 (Scolari), 3.º no Euro-2012 (Paulo Bento). Sob batuta de Fernando Santos, campeão da Europa (enfim!), 3.º na Taça das Confederações-2017, oitavos de final no Mundial-2018, conquista da Liga das Nações.
Temos Seleção porque o previsto eclipse, com tanta veterania, após o Mundial-2014, foi mandado às malvas por estupendo rejuvenescimento! Mesmo dos 23 campeões da Europa, há 3 anos, só 9 estiveram na fase final da Liga das Nações. E há campeões europeus com condições para regresso; vide João Mário, André Gomes, Adrien, Renato Sanches, Anthony Lopes, Cédric. Mais: lesão afastou da última convocatória o jovem ponta de lança André Silva, que vinha sendo titular. Não esquecer o lateral-direito Ricardo Pereira (esteve no Mundial-2018, em alta prossegue no Leicester) e o extremo Bruma, jovem que muito bem respondeu às chamadas. Havendo mais qualidade a despontar (imperioso combate ao deslumbramento, raiz da tremenda deceção no Mundial sub-20!).  
Parabéns, futebol português. Parabéns, Fernando Santos. Parabéns, Federação.