Não matem é o Sporting!
«Matam-se uns aos outros, lá dentro» foi a frase assassina proferida pelo ilustre Juiz Conselheiro Baltazar Pinto, Presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar do Sporting Clube de Portugal. Eleito numa lista que se apresentou aos sócios sob o lema Unir o Sporting, compreendo a sua desilusão porque realmente o clube nunca esteve tão desunido como se encontra agora. Não compreendo, porém, que não tenha posto os nomes aos supostos homicidas e que não promova relativamente a eles as medidas que são supostamente da competência do órgão a que preside!
Não conheço o livro que o senhor Presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar anda a ler e que reputa de «engraçado», sobre as guerras civis permanentes, onde estará incluída a Guerra Civil de 1936 a 1939 entre republicanos e nacionalistas e que terá feito, segundo alguns, mais de cento e cinquenta mil mortos. Normalmente, não são felizes no futebol as comparações de determinados acontecimentos com questões relacionadas com a Guerra Civil de Espanha. Lembro-me, por exemplo, de na época de 1964/1965, um jogo dos quartos de final da Taça dos Campeões Europeus, em que o Benfica, no Estádio da Luz, derrotou o Real Madrid por 5-1. No dia seguinte, o jornal Mundo Desportivo, que deixou de se publicar no início dos anos 70, se bem me lembro, publicava na capa do jornal este título, de uma infelicidade gritante: «O Vale dos Caídos transferiu-se para a Luz.» Este título mereceu, de resto, um protesto por parte da Embaixada de Espanha em Portugal, e com toda a razão, porque não passa pela cabeça de ninguém comparar o Estádio da Luz onde uma equipa espanhola de futebol foi goleada pelo seu adversário e o Vale dos Caídos, um memorial de mortos da Guerra Civil Espanhola!
Com todo o respeito - que é muito - pelo senhor Juiz Conselheiro Baltazar Pinto, a comparação das divergências leoninas com as guerras civis espanholas é de uma infelicidade tremenda, por ser ofensiva, pelo exagero, para os sportinguistas, e ofensiva para os espanhóis, pela diminuição de significado dum acontecimento do qual resultou grande sofrimento para o povo!
Por outro lado, e com o mesmo respeito o digo, é ofensiva a comparação com o Benfica e com o Futebol Clube do Porto: «Enquanto no FC Porto e no Benfica puxam todos para o mesmo lado, no Sporting não. Há pessoas dentro do Sporting, e muitas, muitas mesmo, uma grande percentagem, que desejam que o Sporting perca.» Não é assim! O que acontece é que, no futebol, eles ganham e nós não! Mais: se eles estivessem tantos anos sem ganhar, como nós, já teriam fechado as portas há muito tempo. Os sportinguistas, em percentagem nenhuma gostam de perder; quem não se preocupa que o Sporting ganhe ou perca são aqueles - felizmente poucos - que querem o poder pelo poder e pela defesa dos seus interesses ou de outros que não os do Sporting. Acresce que, benfiquistas ou portistas remam todos para o mesmo lado porque têm um timoneiro eleito pela maioria que os conduz de acordo com um determinado rumo, enquanto nós temos alguém ao leme do barco que não é querido da maioria e o conduz sem rumo, ao sabor das ondas!
Uma coisa louvo nas declarações do senhor Juiz Conselheiro Baltazar Pinto: a humildade que revela e que contrasta com a arrogância de alguns dos actuais dirigentes. Na verdade, confessou: «É uma tristeza. Para mim que não estava por dentro, não sabia que ia encontrar isto.» Pois é, mas para as funções que o Senhor Conselheiro exerce não era necessário estar muito por dentro, e até é bom que não esteja. Antes olhe com um espírito objetivo para o que se vai passando, julgando as pessoas e os seus procedimentos segundo a lei (e os estatutos), como fez ao longo da sua carreira profissional! De qualquer maneira, isto, só agora é assim. Não foi sempre assim!
Isto, pronome demonstrativo que significa esta coisa, deixou de ter, há algum tempo a esta parte, sobretudo no futebol (e em particular na sua sociedade anónima), lemas como esforço, dedicação, devoção e glória, num total desrespeito, não por esta coisa, mas por esta grande instituição denominada Sporting Clube de Portugal! É por isso que as modalidades do clube continuam a ganhar, porque são dirigidas por aqueles, com muitos anos de experiência e saber, esforçados, dedicados e devotos, que pensam apenas na glória do clube que amam. E o contrário disto é aquilo que se passa na primeira linha da estrutura dirigente, naquilo a que chamam Conselho Directivo e Administração da SAD, onde prima a arrogância e a inexperiência dos seus elementos ou, como diria o senhor Presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar, que não estavam por dentro, e, digo eu, que continuam por fora!...
Não, a esmagadora maioria dos sócios e adeptos do Sporting não se andam a matar uns aos outros. Podemos ter ideias e soluções divergentes, mas estamos unidos e determinados na salvaguarda do futuro do clube. Em tempo de discussão da morte assistida, não queremos assistir à morte do Sporting à mão de minorias, sejam elas quais forem!
Somos leões, não somos carneiros. E ao contrário do que pensa Rúben Amorim, possivelmente por não estar ainda completamente integrado, não desistimos da equipa, porque não desistimos do Sporting. Como diz a imortal badalada:
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Nota final: Já que o meu artigo se inspirou nas declarações do eminente jurista, Conselheiro Baltazar Pinto, Presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar do Sporting, e para não nos matarmos uns aos outros, gostaria de saber a sua opinião sobre a conformidade ou não do n.º 1 do artigo 49.º dos Estatutos do SCP com o disposto nos números 2 e 5 do artigo 175.º do Código Civil. Com uma clarificação desta matéria talvez se evite que as eleições do Sporting deixem de ser um concurso para um emprego!