Não ficará para a história
Na quarta-feira, o FC Porto recebeu o Galatasaray no Dragão para a Champions. Sem cerimónias, o campeão turco entrou no jogo ao ataque e aos cinco minutos, não fosse um corte miraculoso de Maxi Pereira, já estaria a ganhar. Depois, Casillas evitou por duas vezes o golo dos turcos, brilhando naquilo que melhor faz: enfrentar, olhos nos olhos, um adversário isolado. E, adiante no jogo, por outras duas vezes, remates disparatados do Gala, poderiam ter tido consequências para as aspirações portistas. Apesar de tudo, não é verdade o que vi escrito em todo o lado: que Casillas salvou o Porto. Salvou dois golos, enquanto que o guarda-redes do Galatasaray salvou três. Mas é verdade que o campeão turco dispôs de cinco oportunidades e os portistas de quatro: eles não aproveitaram nenhuma e nós aproveitámos uma. E com isso se escreveu a história do jogo - uma vitória, três pontos para os oitavos e 2,7 milhões de euros.
Quatro dias depois, jogando na Luz, perante o seu público e com o estádio cheio, o Benfica de Rui Vitória, apesar de vir de mais um dia de descanso que o FC Porto, começou por apresentar uma formação nitidamente mais defensiva que a dos portistas, entrou medroso e demorou vinte minutos até que a equipa e o seu treinador sacudissem os fantasmas do medo que os tolhiam. Mas não é verdade que daí em diante, e muito menos durante todo o jogo, como também vi escrito, tivessem controlado ou dominado os acontecimentos: fizeram-no apenas durante os primeiros vinte minutos da segunda parte, mas sem quaisquer ameaças sérias, para além do golo. Em todo o jogo, dispuseram apenas de três oportunidades de golo, mas duas delas resultantes de jogadas com off-side pelo meio ou no final, sendo apenas real e válida a do golo - onde, pela primeiríssima vez desde que é titular indiscutível e merecido, Éder Militão falhou por centímetros um corte. Quanto ao FC Porto, jogou bem menos que contra o Galatasaray, dispôs de muito menos oportunidades, mas, mesmo assim, duas ou três reais, já na parte final. A diferença, a única diferença do jogo e do resultado, é que o Benfica converteu a sua única oportunidade válida e o FC Porto não converteu nenhuma das suas, esforçadamente arrancadas já em desespero. O futebol é assim: aquilo que o Galatasaray tinha merecido sem conseguir, consegui-o o Benfica, jogando bem menos, muito mais a medo e com incomparavelmente menos oportunidades de golo. A boa notícia, para nós, portistas, foi ver os festejos efusivos dos jogadores e adeptos benfiquistas no final, como se tão magra e custosa vitória significasse a conquista da Champions, e ouvir Rui Vitória declarar que tinha sido «uma vitória à Benfica». Se aquilo é o melhor que eles têm para dar, há muitas e justificadas razões de esperança.
2O Benfica-Porto foi um mau jogo de futebol, sob todos os aspectos, e seguramente não ficará para a história. Pela nossa parte, só podemos melhorar, pois a nossa responsabilidade no mau jogo que se viu foi muita. O que falhou no FC Porto? O mesmo de sempre - o meio-campo. O meio-campo que tem de construir jogo para o ataque, que tem de inventar e desbravar espaços. O tão desejado Herrera, mais uma vez, esteve ausente do jogo; Otávio, ao contrário do habitual, desapareceu em escaramuças sem sentido, e Corona, que o substituiu, não esteve também nos seus dias; Danilo não foi o pêndulo de ordem e de organização que a equipa precisava para sair em frente. E, lá na frente, parece-me que escapou ao árbitro e a toda a gente uma subtileza decisiva: aos 35’, numa jogada entre Rúben Dias e Marega, o defesa do Benfica corta para canto em esforço. O corte é limpo e não há penalty. Mas o jogador do Porto sai do lance agarrado à coxa esquerda, sendo assistido fora do campo pelo que pareceu ser uma contusão muscular. No relato da BTV (lastimável de parcialidade em todo o jogo e todos os detalhes!) explicaram que terá caído sobre o pé de Rúben Dias, mas uma queda sobre o pé não faz uma contusão muscular. Tratando-se de quem se trata, e para quem jogou futebol e sabe como é que estas coisas se fazem, aquilo teve todo o ar de se ter tratado daquilo a que no meu tempo se chamava uma paralítica -uma joelhada na coxa do adversário, quando ela está em extensão, praticamente impossível de ver pelo árbitro, mas extremamente dolorosa e incapacitante. O facto é que desde aí, Marega nunca mais voltou a correr como até aí... Se foi isto que aconteceu, como me parece, não sei se o jovem Rúben Dias foi, de facto, o melhor em campo, mas que foi o mais útil para o Benfica, não tenho dúvidas.
3Excelente arbitragem de Fábio Veríssimo, do ponto de vista técnico: segura, isenta e sem erros. Mas exagerada do ponto de vista disciplinar, assinalando faltas a tudo e mostrando cartões a torto e a direito, culminando com o segundo amarelo disparatado a Lema. Uma imensa dúvida, porém: o empurrão de Lema nas costas de Soares dentro da grande área do Benfica, ainda na primeira parte. «No limite da legalidade», escreveu aqui Duarte Gomes. Pois, talvez, mas se tem sido na área contrária, o estádio teria vindo abaixo e teria nascido ali o caso do jogo. Como ninguém do FC Porto quis chamar a arbitragem à colacção, foi como se nem sequer tivesse existido o lance.
4Tenho pena de não me lembrar quem foi que escreveu aqui, na véspera do derby que era de saudar que desta vez não tivesse havido bocas de lado a lado a acirrar os ânimos antes do jogo. E tenho pena de que quem tal escreveu não se tenha lembrado de ir consultar os arquivos para verificar quando terá sido a última vez que, dos lados do FC Porto, alguém responsável se terá dedicado a lançar bocas dessas antes dos jogos com o Benfica ou com o Sporting. Ou quando terá sido a última vez que as claques ou adeptos portistas causaram quaisquer incidentes dignos de registo em jogos com os rivais. É que dá muito jeito meter tudo no mesmo saco para não ter que chamar os bois pelos nomes... Mas quando se constata como o Benfica e a imprensa a si afecta pegando num incidente espúrio de um suposto adepto portista que fez uma espera a um árbitro à saída de um centro de treino para o insultar transformando-o numa «invasão de um centro de treinos por adeptos portistas», ou quando ouvimos o presidente do Benfica, a propósito do incidente ocorrido no ano passado no Estoril, em que, no intervalo do jogo e com gritos de pânico sobre a iminência da derrocada de uma bancada onde estavam adeptos portistas, estes fugiram para o relvado, transformou isso numa «invasão de campo», de facto, de que vale distinguir a verdade dos factos das lendas convenientes?
5Na hora em que já não podia sustentar mais Paulo Gonçalves, e no âmbito do acordo secreto que terá celebrado com ele em troca do seu silêncio, a direcção da SAD do Benfica fez um comunicado em que, entre outras coisas, lhe agradeceu a «lealdade» com que tinha desempenhado as suas funções. Agora, no âmbito da defesa do processo-crime do e-toupeira, em que tem necessidade de contestar a acusação do Ministério Público, a mesma SAD vem dizer que tudo o que Paulo Gonçalves terá feito foi à sua revelia e com o seu desconhecimento. A coerência vale menos que a conveniência.
6Quem viu Messi jogar contra o Tottenham só pode fazer a mesma pergunta que eu me faço: como é que podem deixar de fora da lista dos três melhores do mundo um jogador sem comparação com qualquer um que alguma vez habitou no planeta futebol?
7 E quem viu Nakajima destroçar uma nau sportinguista a quem só a Senhora dos Aflitos vinha mantendo à tona há muito tempo, e quem já antes tinha tido bastas ocasiões para reparar na categoria deste japonês de Portimão, só se pode perguntar, como eu: como é que nenhum dos grandes deu por ele ainda? Como é que o FC Porto andou para ali em trapalhadas nunca explicadas para comprar dois jogadores sem lugar possível na equipa e nunca se chegou ao único que interessava?
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