Não aposto nem um cêntimo

OPINIÃO27.05.201904:00

PROGNÓSTICOS só no final do jogo, disse um dia o dragão João Pinto. E tinha razão. Fazer previsões no futebol, sobretudo a longo prazo, é como tentar adivinhar os números do Euromilhões: costuma dar mau resultado. Em 2001 e 2002, na ressaca da passagem de Vale e Azevedo pelo Benfica, quando a equipa de futebol ficou em 6.º e 4.º lugares, respetivamente, muitas vozes negras se ergueram: «Não será campeão nos próximos dez anos!». Três épocas depois, como se sabe, se bem que na mais miserável época de um campeão nacional (65 pontos em 34 jogos), o Benfica venceu o Campeonato.


OITO anos depois, em 2013, o Sporting caiu mais baixo do que alguma vez se pensara ser possível: 6.º lugar na Liga. O clube estava sem dinheiro e a equipa de futebol tinha nomes como Pranjic, Boulahrouz, Fokobo, Viola, Rubio ou Jeffrén. As mesmas vozes que tinham pronunciado a queda do Benfica em 2001 e 2002 reapareceram: «O Sporting caiu tão baixo que nunca mais voltará a ser o que foi.» Três anos depois, perderia o Campeonato por apenas dois pontos. E desde a queda de 2013 ganhou duas Taças de Portugal, duas Taças da Liga e uma Supertaça. Pouco para um clube da dimensão histórica do Sporting, imenso para quem batera no fundo dos fundos dos fundos.

PORÉM, como se sabe que acontece no Sporting, o fundo dos fundos dos fundos nunca é o fundo dos fundos dos fundos. Há sempre um fundo para lá do (alegado) último fundo. E este chegou a 15 de maio de 2018: o fundo dos fundos dos fundos dos fundos dos fundos. «Nunca mais voltarão a lutar por algo grande», lançaram as mesmas vozes proféticas. Os leões tiveram, de facto, meses difíceis pela frente. Basta lançar alguns nomes para o recordarmos: Bruno de Carvalho, Sinisa Mihajlovic, Jaime Marta Soares, Elsa Judas, múltiplas rescisões de contrato e múltiplos regressos, pré-época a conta-gotas e três treinadores ao longo da época. E no final duas taças no bolso. Parece um milagre, mas, é no fundo (no caso do Sporting, o fundo do fundo do fundo do fundo), a confirmação das palavras de João Pinto: «Prognósticos só no fim do jogo.» O Sporting não voltará a ser campeão? Não se sabe. O Benfica vai ganhar oito dos próximos dez campeonatos? Não se sabe. O FC Porto, perdendo Casillas, Maxi, Felipe, Militão, Alex Telles, Herrera, Brahimi e Marega, não lutará pelo título em 2019/2020? Não se sabe. Esperemos pelo fim do jogo.

O Benfica não será o mesmo se perder João Félix. Verdade absoluta. Tal como não foi o mesmo quando Eusébio (ou Simões ou Nené ou Chalana ou Rui Costa ou Simão) deixou de jogar. Não será o mesmo, mas continuará a ganhar. Tal como o FC Porto continuou a ganhar sem Pedroto, Oliveira, Gomes, Jardel, Mourinho, Deco, Maniche, Baía, Villas-Boas, Falcao, Hulk ou James. E continuará a ganhar. O caso do Sporting parece ser diferente. Continuou a ganhar quando perdeu Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano, continuou a fazê-lo quando se viu sem Hilário, Pedro Gomes, Fernando Mendes, Osvaldo Silva ou Mascarenhas, ainda o foi quando já quase só tinha Manuel Fernandes e Jordão e, finalmente, perdeu brilho quando deixou de ter Jardel, João Pinto, André Cruz, Beto, Paulo Bento, Pedro Barbosa ou Sá Pinto. Parece precisar de muito tempo para se recolocar ao nível de Benfica e FC Porto. É aqui, porém, que me lembro da frase de João Pinto: «Prognósticos só no fim do jogo.» Ou, neste caso, prognósticos só no final de cada época. Se alguém quiser apostar números bem altos em como o Sporting não será campeão na próxima época, esteja à vontade. Eu, desculpem lá, não aposto um cêntimo.

Quem já viu o Manchester United ser campeão da Europa em 1999 não pode ser ousado no prognóstico. Quem já viu o Benfica ser campeão nacional com um plantel que tinha, entre outros, Alcides, André Luiz, Everson, Paulo Almeida ou Delibasic também não poderá ser ousado. Quem já viu o Liverpool virar um 0-3 com o Barcelona tem de ser comedido nas previsões. O Sporting bateu, há um ano, no fundo dos fundo do fundo do fundo? Sim. Agora, apesar das duas taças, continua a lutar por sair do fundo dos fundos. Não será campeão nos próximos três anos? Assim parece. Mas eu, como diria João Pinto, não aposto nem um cêntimo.