Muito mais que um estádio
Luís Filipe Vieira tem pela frente a maior batalha desde que se tornou presidente do Benfica, em 2003 - e já com dois anos como gestor de futebol profissional no mandato de Manuel Vilarinho. Diria mesmo que o empreendimento que tem pela frente é superior à construção do estádio em tempo recorde ou de um centro de estágio e formação ao nível dos melhores do mundo. Vieira tem neste momento um problema chamado credibilidade. Não por um caso do foro pessoal como o da Operação Lex, mas por um caso institucional. É, pois, o nome do Benfica que está em causa.
Ontem, na curta declaração lida aos media (como em muitas ocasiões, não quis responder a perguntas), Vieira pareceu um líder sem chama, muito diferente, por exemplo, da energia emanada numa recente conferência de imprensa em que prometeu criar o tal gabinete de crise, garantindo que tinha acabado a «paródia», com uma certa jactância que sempre caracterizou o seu modo de estar.
Compreende-se que, na defesa dos interesses de uma sociedade desportiva cotada em bolsa, o seu presidente afirme que «nada» do que está na acusação pode ser «imputado à SAD». Estranho seria ouvirmos o contrário. Mas na acusação está escrito que Paulo Gonçalves responde «diretamente ao presidente do clube» e que Vieira tinha conhecimento de muitas das tais ofertas às toupeiras.
Sabemos como a Justiça é lenta mas não sabemos quando haverá um veredicto. Do que não temos dúvidas é que vivemos tempos diferentes, onde muitas vacas sagradas passaram a bovinos de abate: políticos, banqueiros, juízes e, agora, o futebol (e justamente o clube com mais adeptos em Portugal, logo o que pode causar maior impacto a nível político). Com legislativas à porta, eis um tema interessante para a Justiça. E para a sociedade.