Mostra o caminho, Braga

OPINIÃO19.02.202001:00

São quatro portugueses à procura da felicidade na Liga Europa, a fortíssima segunda divisão europeia - é o que se pode arranjar depois do descalabro portista/benfiquista na Champions. Apesar de tudo, é um contingente de respeito: só quatro países têm mais clubes que nós envolvidos em competições europeias: Inglaterra (7), Espanha (7), Alemanha (6) e Itália (5). A França, por exemplo, está reduzida a Catar-PSG e Lyon. Dos nossos quatro, só o Sporting joga em casa e com o adversário teoricamente mais acessível (Basaksehir).


Comecemos pelo imparável SC Braga, que não perde um jogo europeu há mais de dois anos (última derrota: 15 fevereiro 2018) e de quem se espera que mantenha o espetacular registo no Ibrox Park, um estádio de ambiente difícil onde o FC Porto perdeu (0-2) em novembro passado. Acredito que Rúben Amorim, o Lage de 2020, volte a mostrar em Glasgow por que razão o Braga merece ser considerado a melhor equipa portuguesa da atualidade. Vindo de uma fabulosa sequência de cinco vitórias consecutivas sobre os três grandes em menos de um mês (algo inédito na história do futebol português), Rúben Amorim não tem qualquer razão para não se apresentar em Ibrox com a mesma personalidade, desenvoltura e determinação com que se exibiu no Dragão (2-1) e na Luz (1-0). Ademais, o Braga pode apostar tudo na Liga Europa visto estar há muito arredado da luta pelo título. Não tenho dúvidas sobre a maior qualidade  dos jogadores do Braga, embora se tenha  percebido nos confrontos com o FCP que o Rangers de Steven Gerrard é muito mais que a tradicional equipa escocesa de bola longa, cruzamento largo e grande pujança física. É uma equipa de jogo posicional, taticamente evoluída e com dois jogadores muito acima da média - o goleador colombiano Alfredo Morelos e o veterano médio Steven Davis.


O Bayer Leverkusen, que recebe o FC Porto, será o adversário mais forte dos quatro. Está em 5.º lugar na Bundesliga (a 6 pontos do Bayern), na luta por um lugar na Champions. Tal como o Rangers não tem cara de equipa escocesa, também o Leverkusen não parece um martelo alemão como o Dortmund, o Leipzig ou o Bayern; deve-o ao treinador holandês Peter Bosz, que impôs ali um jogo mais elaborado, mais pausado, mais soft numa palavra. O Leverkusen está em grande forma (seis vitórias e  18 golos nos últimos sete jogos), mas o FC Porto chega à Alemanha com a moral inflamada depois de passar com distinção dois testes cruciais (Benfica e Guimarães) à sua competitividade. E depois, convém não esquecer que o FC Porto é há muitos anos a equipa portuguesa mais vocacionada para as grandes batalhas europeias. Raramente falha aquilo que está ao seu alcance, embora tenha muitas dúvidas que após a colagem ao Benfica a Liga Europa seja prioridade para Sérgio Conceição e para a própria SAD portista, absolutamente carente dos milhões da (entrada direta na) Champions.


O mesmo se pode dizer do Benfica, depois de uma semana péssima em que o único ponto positivo foi não ter sido eliminado, como merecia, da Taça de Portugal. Este Shakhtar não tem a força nem a qualidade de anos recentes, mas ainda é uma equipa de bom nível, que lidera folgadamente a liga ucraniana. Não compete desde 15 dezembro e não tem, por isso, o ritmo de competição ideal; por outro lado, apresentará uma frescura física que os jogadores do Benfica neste momento não podem ter. Às tradicionais dificuldades de afirmação do Benfica na Europa soma-se o conhecimento que Luís Castro tem do rival português. Vamos ver de que maneira Bruno Lage vai à luta, mas suspeito que o Benfica continuará a olhar de esguelha para a Europa, mais ainda agora que perdeu a confortável vantagem que tinha sobre o FCP.
Feche-se com o Sporting, que recebe uma equipa turca carregada de trintões, alguns com carreiras vistosas (Junior Caiçara, Gael Clichy, Martin Skrtel, Gokhan Inler, Arda Turan, Demba Ba, Eljero Elia, Robinho). No papel, o Basaksehir tem jogadores com mais qualidade e mais experiência europeia que os do Sporting. E, se por um lado se deve lembrar que foi na Liga Europa (sobretudo nos jogos com o PSV Eindhoven) que o leão emergiu da perturbante mediocridade que lhe tem caracterizado a época, também se deve sublinhar que, desde a perda do capitão Bruno Fernandes, a equipa de Silas está a jogar um futebol pavoroso. Cada vez mais pobre, mais falho de ideias, de vivacidade, de contundência. O panorama não é animador, portanto.