Mistério de Sintra
JÁ o contei em A BOLA (e tenho mais para contar): sou a Bárbara, sei que sou doente Covid-19 e, 11 dias depois, oficialmente ainda não mo disseram. Sexta-feira recebi chamada duma enfermeira (acho que da parte do delegado de saúde de Sintra) a informar-me de que não tinha notificação de que o meu teste dera positivo. Repeti-lhe que, por portas e travessas, o soubera - e que o teste estava no Hospital Egas Moniz. Em nova chamada, lamentou-se: que devido à Lei de Proteção de Dados não poderia ter pronto acesso ao resultado - e que, por aí vir o fim de semana, segunda-feira tentaria que lhe fosse, então, «fornecida a notificação». O que levou o meu pai a murmúrio atordoado:
- Já parece a guerra do Solnado, a guerra a fechar ao fim de semana…
Dei salto sos boletins da DGS e desconcertei-me com esta sua «verdade» dia 25 havia 43 casos confirmados em Sintra, no dia 26 os 43 casos passaram a 8 («totais», sim!), 8 continuavam a 27 - e esse mistério de Sintra apanhei-o, depois, deslindado (ou não) na TV por mudanças burocráticas que nas circunstâncias que vivemos são tão estrambólicas como testes ao Covid-19 estarem sob guarida da Lei de Proteção de Dados…
Dentro da minha clausura atirei-me a rever Ali de Michael Mann - e sem me sentir pior da tossiqueira, senti-me ainda melhor na metáfora que o filme me espicaçou outra vez: que ao batermos com o nariz no chão da vida, a força capaz de nos puxar para cima está sempre dentro de nós. (No caso da pandemia está, também, nos médicos, enfermeiros e afins mas nos que mais falam da sua luta, não.)
Ainda passei por Rita Hayworth & The Shawshank Redemption de Stephen King sobre dois homens em prisão perpétua, um inocente. Aliás, o conto é mais do que isso: é a batalha de quem, preso por fora, livre por dentro, nunca perde a fé de escapar (mesmo que só dentro da cabeça) do lugar onde está para lugar melhor. E é nesse ponto que eu continuo.
PS: Nisto ficção só é, de novo, eu ter escrito como se fosse a Bárbara Simões.