Michael Hughes

OPINIÃO29.02.202003:00

Oleitor deve ter reparado que faleceu há poucos dias um senhor de 64 anos, Michael Hughes, quando o foguete que ele construíra no quintal se desgovernou e se destroçou no solo da Califórnia, na América. Queria Hughes - ao qual uns chamam terraplanista e outros parvo, ascender a 1500 metros e tirar uma fotografia que provasse, então, que o Planeta é plano e não esférico. Isto enquanto filmado para um documentário no Science Channel.

[silêncio]

Está longe de ser uma questão de agora, é verdade, porém julgava eu que mesmo os que se organizam à sombra destas ideias negadoras da ciência evitariam, hoje, sacrificar a vida pela causa. Mas não. E é justamente entre estes sacrifícios, estas oferendas ao disparate, que, constato, sinto um certo respeito por estas pessoas - miúdos, não morram a tentar provar que a terra é plana, por favor; e a Terra roda à volta do Sol, não o contrário, isto na eventualidade de, tecnologicamente, conseguirem chegar ao Sol para tentar pará-lo com as mãos. Sublinhava eu, então, este apreço pela figura do dare devil, o temerário, por esta gente sem medo da morte, como Evel Knievel, a saltar desfiladeiros de mota, o Philippe Petit, o das Torres Gémeas em corda bamba, o Alain Robert, o homem-aranha a subir prédios, o Houdini, claro, ou o Alex Honnold, o alpinista que subiu o El Capitan em free solo.

Nestes momentos, de luto, surgem também críticas a quem, como eu, considera estes homens espantosos, porquanto essa admiração seria incentivo para toda a insensatez. Não creio. Tais pessoas, tão determinadas a fazer ou provar o impossível, não precisam dos outros para nada, não necessitam, aliás, da própria vida para nada.

As pessoas corajosas conseguem provar quem são. Só as extraordinárias conseguem provar quem foram.