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OPINIÃO22.03.202206:00

Chega de choradinho. Assumam que quem ganha em campo é quem trabalha mais e melhor

JÁ não há muito que se possa dizer que já não tenha sido dito antes: as críticas às arbitragens vão continuar a dominar o discurso dos clubes para o exterior. Isso será assim enquanto não houver decisões na classificação final. Depois acalmam. Porque todos sabemos disso? Porque é o que acontece desde sempre. A estratégia não é original, não surgiu o ano passado nem no ano anterior. Existe há décadas, tem barbas brancas e hoje só difere por dispor de meios que a tornam mais visível e agressiva. Esta verdade, para mim absoluta, é mais evidente no topo da tabela, onde moram os clubes que dispõem de máquinas mais eficazes. Onde moram as equipas que centram mais atenções pela sua dimensão, história e poder mediático. A questão central não está, como nunca esteve, na legitimidade em contestar (também isto já repeti exaustivamente): todos têm direito à sua indignação e nenhuma pessoa ou instituição deve deixar de exercê-la quando se sinta lesada. O problema que aqui se coloca é o da verdade parcial subjacente a algumas intervenções públicas. Há nelas um padrão que convém continuar a desmontar: todos se queixam quando se sentem prejudicados, nenhum reconhece quando é beneficiado. É aí que perdem força e credibilidade. Repisar esta ferida é importante, ainda que a verdade incomode e seja dura de ouvir. Mas esta malta nunca se pode esquecer que há quem consiga perceber - e escrever - o que sabe ser aquilo que os move.
Pensem comigo: acham normal que se contabilizem alegados erros contra, somem-se alegados erros a favor (dos outros) e nunca se assuma, com dignidade, que já houve jogos ganhos com equívocos evidentes dos árbitros? Haverá alguma pessoa de bem que, afastada da bolha momentânea da emoção, pense que o seu clube é constantemente prejudicado e que os dois adversários são sempre beneficiados? Haverá alguém sério que consiga garantir, por A+B, que a sua equipa nunca atinge os seus objetivos por culpa exclusiva dos árbitros? Meus amigos, por favor... não gozem comigo. Não brinquem connosco.
O foco de quem insiste neste tipo de comunicação está desviado do alvo e o que incomoda é que todos sabem isso. O futebol tem valor e deve exigir muito dos seus principais intérpretes. Para crescer mais e para ser melhor tem que focar-se no essencial, só no essencial. Este folclore mediático, que serve bem a alguma imprensa e a vários dos pontas de lança oficiosos (sim, é verdade!) nunca acrescenta valor. Nunca resolveu problemas. Nunca ajudou. Pelo contrário. Confundiu, perturbou, descredibilizou. Posso dar um conselho sincero? Parem. Por favor, parem. Chega de choradinho. Chega de visão distorcida. Chega. Assumam com dignidade que quem ganha em campo é quem trabalha mais e melhor. É o mais forte e competente. O que domina as variáveis que dependem de si e ultrapassa, com classe e inteligência, as que não controla. Vamos dar esse salto qualitativo. Está mais do que na hora. Não faz sentido continuarmos a falar em centralização de direitos, valorização do espetáculo e em jogos com mais gente e patrocinadores se depois esbarramos em discursos tontos, em guerrilhas ocas e estéreis, que afastam qualquer pessoa inteligente. Caramba! O futebol não é só de três e o jogo não é só vosso! Reinventem-se. Encontrem formas de comunicar pela positiva, de inovar, de fazer melhor. Sejam originais. Marquem a diferença. Ousem! E, já agora, nunca abdiquem de defender os vossos interesses, mas de preferência com grandeza e nos locais próprios. Apresentem propostas para que o jogo evolua e, sim, para que a competência dos árbitros melhore. Batam-se pelas vossas convicções. A vossa opinião conta. Mas até aí sejam consistentes. Não flutuem em função do penálti por assinalar ou da expulsão por fazer. Lutem por aquilo que acreditam sem expedientes, sem criancices, que só vos (nos) puxam para trás e para baixo. Pode ser? Todos aqueles que gostam realmente de futebol ficariam muito gratos.