Luis Díaz, o maior!
Rúben Amorim fez do futebol do leão um trator que leva tudo à frente e, um ano depois, Ajax à parte, ainda ninguém descobriu como pará-lo
COMPLETADA a primeira terça parte do Campeonato, que coincide com uma paragem para compromissos da Seleção, já depois de amanhã, na República da Irlanda, e domingo, no Estádio da Luz, diante da Sérvia, em que se aguarda a confirmação da presença de Portugal na fase final do Mundial do Catar, a realizar entre 21 de novembro e 18 de dezembro de 2022, é altura de um normal balanço da prova e de fazer exercícios de adivinhação no intuito de extrair algum dado que permita antecipar o cenário previsível em maio do próximo ano, quando for confirmado o novo campeão nacional.
A tamanha ousadia não me atrevo, mas confesso não ver surpresa alguma nem no equilíbrio entre os três candidatos ao título, nem nos lugares por eles ocupados neste momento.
Creio que o título de campeão do primeiro terço assenta bem ao FC Porto, por ter sido o mais regular e também por ser o mais desenvolto, com uma evoluída organização coletiva, aprimorada com modificações ocasionais bem executadas e que lhe oferecem peculiar capacidade de reação a todas as situações não previstas, um caleidoscópio de surpresas, como só ele é capaz de exibir.
Sérgio Conceição confessou que lhe dá prazer treinar todo o tipo de situações a partir de uma ideia base, por isso consegue controlar os adversários através de adaptações táticas que faz e desfaz com facilidade e segurança espantosas, fruto de aturado e rigoroso trabalho de casa.
Na jornada de anteontem, nos Açores, investiu no mesmo onze que escalara para o Milan e ganhou com relativa tranquilidade. Assistiu com prazer a uma nova etapa no percurso evolutivo de Luis Díaz, um jogador muito especial, de enorme talento, que expõe o seu virtuosismo em cada gesto, em cada lance, em cada golo que marca. É a figura no Campeonato que mais se tem destacado. Voltou também a apostar na prata da casa e no final felicitou os que alinharam de início, os que entraram e os que não jogaram, todos reveladores de um estado de espírito que lhe agrada, embora, lembrou, não trabalhe para oferecer vitórias mas sim para festejar títulos.
Sérgio Conceição, como já tive oportunidade de escrever, precisa de uma liga maior para espalhar a sua ambição e confirmar o seu estatuto de treinador do topo europeu, que já é.
SPORTING — É o vice do primeiro terço, a morder os calcanhares ao líder, e creio que justificadamente, pois mantém todos os argumentos que fizeram dele o campeão nacional em título e descobriu outros que o tornam mais forte.
Mais um ano de trabalho, mais experiência e a inclusão de gente de qualidade, com particular saliência para Pablo Sarabia, um praticante de classe superior que veio dar o toque de elegância que talvez faltasse ao grupo, o qual pratica hoje um futebol talvez menos frenético, mas certamente mais amadurecido, mais profundo e mais matador, que sabe aproveitar as oportunidades e proteger os objetivos desportivos do clube, mesmo que para isso tenha de prejudicar a vertente exibicional em benefício do que é essencial, somar triunfos em cada jogo.
Rúben Amorim fez do futebol do leão um trator que leva tudo à frente e, um ano depois, Ajax à parte, ainda ninguém descobriu como pará-lo. Este domingo, em Paços de Ferreira, foi mais do mesmo, apesar do treinador Jorge Simão ter sido iluminado por uma luz que, pelos vistos, só o iluminou a ele.
No resto, tudo na mesma, o Sporting a ganhar sem estar preocupado em deslumbrar. O que é uma avanço significativo na consolidação do projeto arquitetado por Rúben Amorim, outro treinador a quem não deve faltar muito para fazer as malas e partir para uma liga de maior dimensão. É uma questão de (pouco) tempo, pressinto.
BENFICA — Esteve simplesmente soberbo, mas não é por ter marcado seis golos ao Sporting de Braga que passou a ser uma equipa de outro planeta, nem a formação minhota esbandalhou as notáveis credenciais até então alardeadas, como Jorge Jesus prudentemente assinalou, assim como os nove-dois no conjunto dos dois jogos da Champions diante do Bayern falseiam a verdadeira diferença futebolística entre o colosso alemão e a águia. Ou seja, nem o futebol do Bayern vale mais sete golos que o do Benfica, nem o do Benfica vale mais cinco que o do Braga.
Reflexões filosóficas à parte, a verdade é que esta expressiva vitória teve a virtude de serenar o ambiente na Luz e fazer desaparecer as nuvens de uma crise que, do meu ponto de vista, nunca existiu. Terá havido, somente, uma preocupação compreensível, depois de o Benfica ter quatro pontos de vantagem sobre FC Porto e Sporting, à sétima jornada, apenas um à oitava (derrota com Portimonense) e ter sido despromovido para o terceiro lugar à décima (empate com o Estoril), averbando um ponto menos do que os outros dois candidatos ao título.
O único problema residiu na perda de cinco pontos para dragão e leão nas últimas quatro jornadas. À parte isso, assistiu-se a um folclore sobre plantação de notícias alegadamente falsas em hortas que são quase sempre as mesmas e cujos plantadores qualquer departamento de comunicação diligente, coisa que o Benfica deixou de ter desde a saída de João Gabriel, devia conhecer e denunciar, poupando Otamendi ao incómodo de dar a resposta óbvia a questão despropositada do canal do clube. «Uma polémica sem sentido», afirmou o capitão de equipa. Ponto final.