Líder ou treinador principal!...

OPINIÃO12.06.202107:00

Rúben Amorim comunica como líder de uma equipa técnica e não como treinador principal

N ÃO cabe exclusivamente aos treinadores ou antigos praticantes falar sobre futebol, como alguns destes dizem, muito menos com o argumento de que só eles o sabem fazer. Todos podem falar e perceber de futebol, que tem inúmeros aspectos, bastando fazer como o macaco: cada um no seu galho! Nunca fui treinador (nem de bancada), e quanto a praticar a modalidade, apenas algum jeito para guarda-redes, já que com os pés, como diz o meu querido amigo Aurélio Pereira, são bons para escrever à máquina!
O meu galho - onde escrevo com as mãos, designadamente com os dedos - é, ou melhor, foi, o de dirigente e hoje é o de observador do fenómeno desportivo, enquanto comentador, através da imprensa escrita e falada, mas onde me sirvo da experiência vivida. Como tenho dito, e repetido vezes sem conta, o meu tempo de dirigente acabou, mas não acabou o tempo, antes pelo contrário, que me vem dando razão a certas ideias que há muito defendo. Tenho defendido frequentemente que para o sucesso de qualquer projecto é essencial a estabilidade, aliada obviamente a competência, do ponto de vista directivo e do corpo técnico, designadamente, do treinador. O que o Sporting Clube de Portugal tem feito nos últimos anos é, a meu ver, a demonstração do que defendo: estabilidade nos diretores e nos técnicos das diversas modalidades e sucesso absoluto, mesmo no campo internacional; instabilidade na administração do futebol e na equipa técnica e insucesso quase absoluto.
Nas modalidades, o Sporting faz-me lembrar certos países em que mudam os governos constantemente, mas a máquina do Estado tem directores-gerais que, além de competentes, têm o sentido da defesa do interesse colectivo e, portanto, é-lhes indiferente se o governo é do partido A ou do partido B. Não é o que se passa em Portugal, mas é o que se passa no Sporting. Mudam as Direcções, mas não mudam os Directores, os Seccionistas (e havia até capitães) que sempre se preocuparam e preocupam, na prática, com os superiores interesses do Sporting. E no futebol também houve esse espírito, designadamente no futebol de formação. Por isso, também aí tem havido sucesso!
Focando-me no futebol profissional, e na sua gestão pelas sociedades anónimas desportivas, já há muito tempo que elejo como fundamental num projecto a figura do treinador, cujas qualidades técnicas começam, em minha opinião, a ser secundárias relativamente às qualidades de liderança. Com efeito, o treinador principal vai ser cada vez menos o treinador no sentido tradicional, para passar a ser o líder da equipa técnica, que vai ter cada vez mais elementos, com funções muito próprias e especificas. Não me admirarei mesmo que o número de elementos de uma equipa técnica vá subindo e que passe também a haver transferências de umas equipas para outras! Colocada esta minha ideia em stand by - e veremos qual a validade dela no futuro -, importa já reflectir sobre qual é a razão do sucesso de Rúben Amorim no Sporting, independentemente, do nível da sua qualificação - a sua capacidade de liderança e a forma como a comunica. Isto não tem nada a ver com o nível técnico alcançado. Dando um exemplo, no que respeita à minha atividade profissional, houve um advogado de quarta ou quinta linha que deu um bailarico saloio num processo crime a um professor catedrático de direito penal. Uma coisa é saber muito teoricamente; outra é exercer esse saber na prática e sabê-lo comunicar. Há treinadores que têm todos os níveis, todos os cursos e até doutoramentos, e nunca serão grandes treinadores, porque lhes falta capacidade de liderança ou porque é confrangedora a forma como comunicam com quem quer que seja! É por isso que estou contra o ridículo da situação em que quiseram envolver o Rúben Amorim e da qual este saiu reforçado, bem como o bom senso.
Os treinadores, chamados adjuntos de Amorim, são seguramente bons treinadores e treinadores qualificados de diversos níveis, fazem parte de uma equipa e não se sentem diminuídos pela liderança de Rúben, antes a aceitaram numa manifestação de humildade e inteligência. E sabem porquê? Porque Rúben comunica como líder de uma equipa técnica e não como treinador principal. Este é o futuro. Esqueçam os níveis de qualificação, porque numa sociedade onde é cada vez mais importante a comunicação o que importa são os níveis a que se comunica: com a comunicação social, com os sócios e adeptos, com os jogadores e outros! Os furriéis não podem comandar uma companhia. Mas um furriel pode comunicar bem aos soldados que estão abaixo de si. Como há furriéis que falam e ninguém os ouve!...
 

CARLOS COUTINHO 

M AIS um dirigente do meu tempo, mais um sportinguista de eleição, mais um companheiro dos Stromp e dos Leões de Portugal, em suma, mais um Amigo que parte - Carlos Coutinho, 45 anos de associado do Sporting Clube de Portugal e um percurso de vida neste clube muito ligado à natação. Lembro-me perfeitamente que era vice-presidente do Sporting Clube de Portugal, sob a presidência de João Rocha (eu tinha-me iniciado no dirigismo desportivo mais ou menos um ano antes), quando o Dr. Carlos Coutinho entrou para a estrutura directiva enquanto Seccionista da Natação - 1981/1983. Depois - 1984 a 1987 - foi Subdirector e assessor do Departamento de Formação e Director da Natação.
A sua acção enquanto dirigente estendeu-se para além das paredes do clube, com participação na Associação Distrital e na Federação: em 1988, vice-presidente da Direcção da Associação de Natação de Lisboa e presidente do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Natação de 1998/2001. Ainda no plano do seu clube, foi membro da Comissão de Honra do Centenário, era membro do Grupo Stromp desde 2006, fazendo parte actualmente da Comissao Directiva deste. Ao que penso fundador dos Leões de Portugal, foi membro do Conselho Social, vice da Mesa da Assembleia Geral e era, actualmente presidente desta.
Discreto, mas eficiente, era uma pessoa de grande educação e grande afabilidade e simpatia, vivendo o seu clube com enorme fervor. No plano pessoal, além de um bom amigo, fiquei-lhe a dever - não em gratidão - alguns favores que conduziram à minha fidelização à Audi. Cada vez que entrar no meu carro vou-me lembrar dele, agora com muita saudade. Recentemente, em momento de muita tensão para mim foi muito solidário comigo, sendo decisivo nas posições que tive de tomar, o que também não esquecerei. À família, e em particular ao seu filho Pedro, que bem conheço e de que muito gosto, os meus sentidos pêsames, aliviados pelo sentimento de que saberá honrar o nome de seu Pai, como um dos grandes homens que serviram desinteressadamente o Sporting Clube de Portugal!
 

NENO

N ÃO bastava o desgosto, infelizmente esperado, do meu companheiro e amigo Carlos Coutinho durante o dia de quinta-feira, quando fui surpreendido pelo choque que me causou a morte súbita do antigo guarda-redes Neno, actualmente ligado à estrutura do V. Guimarães. Sempre que morre alguém é normal a unanimidade de opinião que se dá acerca do falecido, mesmo que isso não corresponda à opinião generalizada enquanto vivo. Quando se trata de um jogador de futebol destaca-se sobretudo a sua carreira, designadamente quando não se sabe muito ou se não quer falar do jogador enquanto pessoa. Se repararem, as primeiras horas de opinião sobre a súbita morte de Neno, não foram sobre a sua carreira desportiva - e foi bastante importante - mas acima de tudo, e de forma unânime, sobre a sua pessoa: simpático, educado, afável e, mais que um homem bem-disposto, alegre. Era um homem de bem com a vida, o que nem sempre se encontra e que nos causam uma pena a dobrar, ainda por cima quando ainda não têm idade para nos deixar.
Até a cantar - e cantava bem - ele mantinha aquelas qualidades todas, imitando bem Júlio Iglesias no tom e no romantismo. Não tinha um relacionamento com ela permanente, mas sempre que o encontrei em eventos, o seu cumprimento era de uma alegria e simpatia que não se esquecem. Ao nível do desempenho profissional, enquanto futebolista, podemos dizer que se tratou de um bom jogador o que aliás resulta das suas chamadas à Seleção Nacional. Ao nível das relações humanas Neno ficará na minha memória como uma boa memória: uma daquelas memórias que nos faz gostar do meio do futebol, naquilo que ele tem de melhor, que é o de fazer  amigos, e apagar da mesma memória o que ele tem de mau, e sobretudo aquilo que é mau demais!