Leia 'Em casa' e veja 'Em casa'

OPINIÃO11.04.202004:00

TODOS temos feito um esforço para estar em casa, o que se tem tornado mais exigente do que supuséramos. O próprio conceito, sempre aconchegante, mudou. Casa é agora este lugar onde estamos, quando antes era outra coisa: notadamente no desporto, nunca foi um sítio, antes uma condição, a casa são as pessoas e os sentimentos. Jogar em casa não é em numa casa, é num estádio, num pavilhão, numa cidade ou país. Remeteu-nos sempre para a tal ideia de companhia dos nossos, seja onde for. Agora, porém, tornou-se demasiadamente num lugar, num espaço. A casa é um doloroso aqui.


Animemo-nos, não obstante. Este espaço do lar pode ser compreendido de formas novas, pelo que deixo duas sugestões culturais, uma virada para dentro, outra para fora.  A virada para dentro é um livro, de Bill Bryson, um contador, chamado justamente Em casa.  É uma história da vida privada, uma explicação de espaços, do quarto à sala, a cozinha, a casa de banho, sem esquecer os objetos nas divisões, de onde vêm, quão luxuosas foram coisas banais de hoje, e o contrário. «As casas não são refúgios da história. São onde a história vai acabar», diz Bryson, de forma que à data da edição do livro era menos assustadora.


A segunda sugestão é um filme chamado Heima, o islandês para em casa. A banda Sigur Rós, em 2006, depois de digressão mundial regressou à Islândia para vários concertos, sem aviso, muitas vezes sem público. O resultado foi hipnótico, aproveitando a beleza da ilha e misturando-a com uma linguagem estranha, até inventada. Faz daquele lugar remoto a casa de quem, no sofá, o vê. E nele um elemento da banda diz, em sentido contrário: «A casa não é companhia, é onde nos abandonamos a nós próprios». 
 

Vídeos

shimmer
shimmer
shimmer
shimmer