Junho de 2018, o fim do mundo
IMPOSSÍVEL saber, como diz Sousa Cintra, naquele otimismo exacerbado, de quem vê azul-bebé onde muitos veem negritude, se o Sporting seria campeão nacional mantendo José Peseiro até final da temporada. Impossível por razões óbvias. Sabe-se apenas que os leões estavam a dois pontos da liderança quando, à oitava jornada, Frederico Varandas despediu o treinador que Sousa Cintra contratara e que, no fim da época, ficaram a 13 do Benfica.
POSSÍVEL de avaliar, sim, o peso de Sousa Cintra e José Peseiro no período em que estiveram no Sporting. Não pensemos no Sporting de junho de 2019. Pensemos no Sporting de junho de 2018. O caos. A negritude. O abismo. O fundo cada vez mais fundo. O fim do mundo. Até que Sousa Cintra assumiu a Comissão de Gestão. Ele e mais uns quantos. Fizeram tudo bem? Não. Resolveram todos os problemas? Nada disso. Cometeram erros? Óbvio. E Cintra foi buscar Peseiro. Treinador quase sem plantel. Plantel quase sem moral.
EMPRESÁRIOS a oferecerem os seus excedentários: promessas que já não o eram; ex-craques aburguesados pelo dinheiro ganho; estrangeiros de terceira linha para substituírem os estrangeiros de terceira linha que não tinham rescindido. O tempo a apertar. O campeonato a começar. Treinos a meio-gás com jogadores, mentalmente, a meio-gás. Com medo de Bruno de Carvalho. Com medo do seu eventual regresso. Com eleições à porta. O caos. A negritude. O abismo. O fundo cada vez mais fundo. O fim do mundo. Ninguém apontou uma pistola a Sousa Cintra para que este aceitasse a liderança da SAD, claro que não, tal como ninguém a apontou a José Peseiro para ser treinador dos leões. Mas é preciso recordar o que era o Sporting em junho de 2018 e não naquilo que é o Sporting em junho de 2019.
Omais provável é que o Sporting não fosse campeão com Peseiro até final. Ou com Keizer desde o início. Ou com Klopp de ponta a ponta. O Sporting venceu duas (!) ligas nos últimos 37 anos e teve treinadores como António Oliveira, Josef Venglos, John Toshack, Manuel José, Keith Burkinshaw, Raul Águas, Marinho Peres, Bobby Robson, Carlos Queiroz, Fernando Mendes, Octávio Machado, Robert Waseige, Vicente Cantatore, Carlos Manuel, Mirko Jozic, Giuseppe Meterazzi, Augusto Inácio, Manuel Fernandes, Laszlo Boloni, Fernando Santos, José Peseiro, Paulo Bento, Carlos Carvalhal, Paulo Sérgio, José Couceiro, Domingos Paciência, Sá Pinto, Franky Vercauteren, Jesualdo Ferreira, Leonardo Jardim, Marco Silva, Jorge Jesus ou Marcel Keizer. O problema do Sporting não são os treinadores ou os jogadores. É mais profundo.