‘Jack... Pote’!

OPINIÃO05.12.202003:00

Numa semana com mais de cinquenta por cento dos dias confinado e obrigatoriamente recolhido, sobrou muito tempo para ler jornais, ver televisão, receber e enviar e-mails e usar WhatsApp, assim beneficiando de um verdadeiro jackpot de notícias, palavras, comentários e acontecimentos! Em suma: uma semana de nada fazer e pouco aprender; uma semana com alegrias e tristezas, com cenas ridículas e outras de arrogância.


O Sporting ganhou novamente. Com dificuldade e humildade, mas ganhou. As dificuldades ajudam a crescer e a humildade é a melhor arma para vencer a arrogância e contornar as dificuldades. E vão ser muitas as dificuldades enquanto liderarmos com humildade e os pés assentes no chão! As comunicações dos adversários e os cartilheiros habituais não perdem uma ocasião para intervirem, sem terem o mínimo de senso perante o ridículo das suas afirmações, para não falar da total ausência de autoridade moral.
Os ataques vêm de todos os lados e das mais diversas formas. Quem se devia preocupar com a violência no desporto, face à pandemia que afasta os espectadores do espectáculo, dedica-se agora às batalhas jurídicas sobre níveis de treinador!


Não vou aqui explicar a diferença entre o nível - instrumento que determina a linha horizontal - e os diversos níveis teóricos dos treinadores e os níveis de educação ou inteligência!


Eu sei que o treinador do meu clube, que dá pelo nome de Rúben Amorim, não tem o nível teórico exigido para ser treinador dele. Mas sei também que tem elevado nível de educação e inteligência. E sei também que tem uma capacidade de comunicação de nível acima da média, com a consequente capacidade para unir o que não andava unido. Tais qualidades causam receio e, simultaneamente, inveja, num ambiente nivelado pela mediocridade.  A sua contratação causou alguma crítica, na qual me incluo, mas reconheço hoje não só a rentabilidade do investimento como a inegável vantagem de por a nu a hipocrisia do mesmo ambiente!


A serenidade e tranquilidade são marcas predominantes em todas e cada uma das suas intervenções e são próprias de quem acredita em si próprio e dispensa o espalhafato para se afirmar. Espero que não o mandem para Elvas, porque já está com Badajoz à vista, para nós portugueses o início do resto da Europa!


Este nível, espero eu, nunca Rúben Amorim atinja, sem prejuízo de ter entendido que não necessitava de ter pedido desculpa quando agiu em consequência da injustiça. Há pessoas que não merecem pedidos de desculpa!


Jackpot foi a divulgação no Brasil da resposta do treinador do Benfica a uma jornalista da Sport TV com a consequente qualificação de uma afirmação machista. Com efeito, como ela nada tem a ver com machismo, mas tão somente arrogância, deu imenso jeito aos seus defensores habituais, que aliás já se esqueceram de que disseram dele o que Maomé não disse do toucinho.

Dizer à jornalista «também é natural, porque você não sabe o que é muita qualidade sobre futebol» é pura arrogância e tentativa de achincalhamento, como seria um professor de português dizer ao mesmo treinador: ‘também é natural porque você não sabe o que é muita qualidade na língua portuguesa’!


Como as moedas a escorrer num jackpot foram as declarações dos comentadores e cartilheiros a propósito do golo de Pedro Gonçalves ao Moreirense, alegadamente ilegal. Uns não têm idade para se lembrar de uma bola que entrou na baliza do Sporting no Estádio das Antas, mas pela parte de trás; outros esquecem propositadamente que ganharam um campeonato por causa da vitória do Paços de Ferreira com um golo metido com a mão, tão descaradamente que até o árbitro viu!

Tais comentários, face a um golo alegada e involuntariamente metido com a mão, parecem ridículos, num tempo de loas a um jogador, infelizmente falecido, que deixou a sua carreira marcada por um golo metido voluntariamente com a mão, isto é, com batota. E aqui chegado, levanto-me e aplaudo de pé o artigo de Henrique Monteiro, que, como ele disse, «estraga a festa», mas para mim revela a coragem de divergir. Quando se trata de carácter, Maria não pode ir com as outras!


Para terminar, o Sporting e o seu treinador Rúben Amorim apostaram em Pedro Gonçalves, ex-jogador do Famalicão. Parecem ter ganho a aposta.
Se não é um jackpot é, pelo menos, um jack... Pote!

Condolências

Saindo de confusões, tenho mais uma vez que desejar que descanse em paz quem serviu o futebol de forma simples, humilde, longe dos grandes holofotes.
Em épocas muito diferentes, José Bastos serviu o Benfica como guarda-redes, num tempo em que jornais desportivos não eram diários e televisões nem havia.
Vítor Oliveira serviu vários clubes, sempre com seriedade e competência, de uma forma discreta e sem qualquer tipo de arrogância. Uma vida simples, tal como a sua morte prematura. Só com ela lhe deram o devido valor!


Uma pergunta final para um jackpot especial:
Quem foi o treinador que diante de milhares ou milhões deu instruções ao guarda-redes para se atirar para o chão? A pergunta que deixo não tem nada a ver com antijogo! Uma dica: nunca treinou o Elvas!