Já se vê o fim do túnel, ou é só uma fase
Quinta-feira passada, faz hoje oito dias, quem se deslocou a Alvalade ia sem grande fé. Era, pelo menos, o meu espírito e o daqueles que são meus vizinhos de bancada. O jogo anterior não deixara saudades. Vínhamos de um lisonjeiro empate contra o Rio Ave, obtido quase no fim da partida (84 minutos) através de uma grande penalidade, bem assinalada, mas totalmente escusada para a equipa da casa, que nos vencia por 1-0 desde o início do jogo (2’).
Da equipa que íamos defrontar, o Basaksehir de Istambul, o pouco que sabíamos tinha mais a ver com política turca; com o bairro do mesmo nome, na parte europeia de Istambul, onde vivem diversos apaniguados de Erdogan. E mais, que o clube, tendo bastante dinheiro, tem pouca ou quase nenhuma massa associativa, ao contrário dos outros clubes da cidade turca, como o Galatasaray ou o Besiktas, ambos também do lado europeu, ou o Fenerbahçe, do lado asiático (não esquecer que Istambul tem mais de 15 milhões de habitantes, ou seja, Portugal e meio).
Mal acabáramos de nos sentar e já Coates, aos três minutos, abria o marcador. Há que tempos que não víamos algo assim em Alvalade. E, mais do que isso, o Sporting pressionava a meio-campo, jogava pelas alas (até Bolasie parecia outro) e Vietto distinguia-se como um patrão da equipa. Foi com naturalidade que Sporar marcou aos 44 minutos o 2-0, dando um pouco de descanso aos adeptos, e que Vietto, aos seis da segunda parte, colocou o resultado em 3-0. Não era nada do que estávamos habituados a ver. Era muito melhor. O 3-1 resulta de um penálti duvidoso depois de um toque (não mais do que isso) dado por Luís Neto em Demba Ba. Curiosamente, Duarte Gomes, que como muitos outros comentadores entendeu que a ação de Neto não era penálti, teve uma leitura, a meu ver, correta de uma outra grande penalidade, esta cometida sobre Battaglia ainda na primeira parte, que poderia trazer o 2-0 mais cedo.
Porém, mesmo com razões de queixa da arbitragem e com a ideia de que podíamos ter ganho por cinco ou mais, saímos do Estádio, por volta das oito da noite, com a sensação de que, finalmente, tínhamos visto o Sporting a jogar como gostamos de ver.
No domingo seguinte, também em Alvalade, mas contra o Boavista, não esperava (este pessimismo endémico de muitos anos a sofrer assim me preveniam) um bom jogo. Tanto mais que a defesa era a inédita (ou quase) dupla Ilori/Neto. Mas enganei-me. O Sporting entrou com determinação. Plata, que nos minutos finais do jogo com os turcos mostrara que mexe com a equipa (foi uma pena o seu grande remate aos 90’ ter sido correspondido por uma enorme defesa), teve uma prestação superior e marcou um golo; Vietto continuou a mostrar que sabe jogar naquela posição; Sporar faturou mais um tento para o Sporting e o seu primeiro na Liga e, apesar de alguns momentos menos apurados, a defesa e o meio campo estiveram ao mais alto nível deste ano. A vitória por 2-0 só peca por escassa.
O jornalista de A BOLA que fez a análise do jogo, Rogério Azevedo, notou, e bem, algo que eu por diversas vezes escrevi: a saída de Bruno Fernandes, sendo má, por ser de um grande jogador, obrigaria a equipa a ser mais equipa. Rogério Azevedo salienta que a ausência de Bruno, agora no Manchester United, «emancipou Vietto, Plata e outros». A palavra é mesmo essa: emancipar.
Foi por isto que não percebi as críticas dirigidas a Silas quando ele se referiu a Bruno Fernandes. Sim, Silas não disse mal do maior jogador do Sporting dos últimos anos; apenas constatou que ele, pelas circunstâncias já aqui referidas, acabava por ser um entrave à emancipação dos seus colegas. Qualquer pessoa que esteja em campo com um craque tem tendência para lhe passar a bola e esperar que ele faça qualquer coisa, um milagre. É assim com quase todas as equipas em que há um desnível técnico e de experiência entre um e os outros 10.
A questão está, agora, em saber se as exibições continuam neste nível. Para isso, e para a confiança se manter, será indispensável uma boa exibição hoje à noite em Istambul. O ideal seria mais uma vitória, a terceira seguida e o quinto jogo sem perder, algo inédito no Sporting desta época. Não só porque passar aos oitavos de final da Liga Europa é um feito importante, mas também porque o Sporting tem por dever e obrigação, neste momento, alcançar o terceiro lugar. E o Braga tem uma motivação inacreditável. Basta ver os seus jogos, ao contrário dos líderes do campeonato - Benfica e Porto - que não mostram um futebol consentâneo com o valor das suas equipas.
Na próxima terça-feira, frente ao Famalicão, fora de casa, necessita-se de outra vitória. O Sporting, pelas contingências (e erros) desta época, precisa de não perder quaisquer pontos. Está um atrás do Braga, com o Rio Ave a três e o Famalicão a seis. Ora o Rio Ave recebe o Belenenses no sábado e, ganhando, o Sporting entra em campo com os mesmos pontos do que a equipa de Vila do Conde; o Braga vai ao Funchal no domingo, pelo que o facto de ser o último a jogar também é uma vantagem sportinguista. Porém se perder pode deixar fugir o Braga, ficar igual ao Rio Ave e com o Famalicão à perna. E isso pode significar fora de um lugar na Europa. Por isso, o segredo está em continuar o trabalho dos últimos dois jogos e melhorá-lo.