Insensibilidade e falta de senso

OPINIÃO06.02.202106:05

Dramas e teorias da conspiração no jogo da horta agrícola do Jamor. E Conceição não igual a si próprio porque foi pior

SÉRGIO CONCEIÇÃO é sempre intratável na hora de perder pontos. É viciado em vitórias e qualquer outro resultado o perturba, cortando os filtros da racionalidade. Torna-se, assim, incapaz de qualquer análise fiável.
Sobre o jogo na horta agrícola do Jamor, Sérgio só não foi igual a si próprio, porque foi pior. Queria ganhar, apesar de ter rodado jogadores e de ter arriscado manifestamente mais do que deveria ter arriscado. É provável que tenha sentido raiva por ter sido, afinal, o principal responsável pela falha do plano, mas essa noção íntima apenas lhe aumentou a insensatez e, bem pior, a insensibilidade.
Naquele momento dramático em que Nanu caiu inanimado e ainda quando todos temiam o pior, Sérgio Conceição lutou por um penálti, de facto, inexistente. Os seus jogadores estavam de mãos na cabeça, alguns, sentados e perdidos em campo, os próprios adversários apenas tinham olhos e pensamentos para o companheiro que continuava a perigo. Uma ambulância a pisar o relvado dava a dimensão da gravidade da lesão, o conjunto de médicos e auxiliares técnicos tentava uma reanimação que tardava. Naquele momento, mesmo que pensasse que poderia ter havido razão para penálti, coisa que nunca seria possível à distância a que (não) viu o lance, Sérgio pressionava o árbitro para recomeçar o jogo com um pontapé de penálti. Viu um amarelo e, irritado, regressou ao banco.
Depois, no final do jogo, arrasou tudo o que, segundo ele, contribuiu para a grande conspiração antiportista. O relvado, a atitude violenta do adversário, os responsáveis pela nomeação de Fábio Veríssimo e, acima de tudo, um árbitro que, em sua opinião-certeza, deveria ter expulsado vários jogadores azuis e deveria ainda ter marcado, pelo menos, um penálti claríssimo no lance que originou a lesão de Nanu.  
Não tinha razão, mas isso pouco o importava, até porque sabia que a estrutura do clube não o deixaria sozinho e haveria de o proteger nessa ideia estafada, de tão repetida, de que há uma verdade nacional na teoria da conspiração contra o FC Porto. Também Pepe, o grande capitão, viria, certamente, em seu apoio. Porém, daí, não chegaria uma ajuda tão significativa, uma vez que a frase «já vi marcarem penáltis por menos, a favor dos rivais» deixa no ar a ideia de que Pepe não estava tão seguro. Porém, o que verdadeiramente ressalta desta crise de sensibilidade e de bom senso é a desvalorização da vida humana em face da hipervalorização do resultado de um jogo de futebol.   
 

 

 

SPORTING. Seis pontos de avanço sobre o segundo classificado, o FC Porto. Nove sobre o terceiro, o SC Braga. Onze (!) sobre o rival Benfica. Mesmo assim, Rúben Amorim dirá que não é candidato ao título. Mais por superstição, julgo eu, do que por convicção. Se está tudo a correr tão bem, para quê mudar o discurso? O certo é que o Sporting, depois de um pequeno período de alguma hesitação exibicional, voltou à consistência e eficácia que o tem caracterizado e que lhe garante, para já, liderança tão confortável quanto merecida.

BENFICA. Quando nada muda e tudo se repete, deixa de ser notícia. Podia ter ganho nos últimos minutos? Talvez, se Pedrinho não fosse... Pedrinho. Mas poderia também ter perdido, num lance alguns segundos depois. O zero redondo do resultado não se explica pelo domínio de posse de bola, mas pelo que o Benfica pode ou sabe fazer desse domínio. Quarto jogo consecutivo sem ganhar de uma equipa triste e deprimida.