Inglaterra em grande

OPINIÃO12.05.201904:00

- A Inglaterra em grande!

- Sim.

- Liverpool-Tottenham.

- Quem diria!

- Fale-me da Inglaterra, excelência.

- Sim, quer algumas curiosidades? É um país bem particular.

- Vamos.

- Pois. Por exemplo, vossa excelência já ouviu falar de pássaros que interferem no tempo?

- No tempo? Nas horas?

- Bem, não tanto. Nos minutos, e já é surpreendente.

- Sim?

- Pois sim. Em 1945, num certo dia, uma manada de pássaros, deixe-me usar este termo - manada - para animais voadores, pois, dizia, então, uma manada de pássaros pousou sobre o ponteiro dos minutos do Big Ben e atrasou-o cinco minutos. Já viu isto?

- O peso dos pássaros a interferir nessa coisa tão fina que não se vê, só se sente, o tempo.

- O peso de elementos que voam, os animais mais leves do mundo, a prejudicar a pontualidade britânica.

- Para a Inglaterra cinco minutos de atraso não são cinco minutos, é uma falha imperdoável.

- Ou o tempo necessário para virar uma batalha.

- A importância de cinco minutos.

- Como se viu.

- Em cinco minutos, tudo pode mudar.

- Sim, e por falar em tempo e em acontecimentos intensos, excelência, sabia que a Inglaterra participou naquela que é considerada a guerra mais rápida do mundo?

- Contra quem?

- Em África, contra o Zanzibar. Durou 38 minutos.

- Trinta e oito minutos?

- Menos do que uma parte de um jogo de futebol. Zanzibar rendeu-se.

- Uma espécie de recorde do mundo.

- E mais? É realmente um país particular.

- Pois, um país onde se vossa excelência colocar um selo da Rainha da Inglaterra virado de cabeça para baixo pode ter problemas graves com a lei.

- Oh, diabo!

- Era muitas vezes um sinal de revolta. Uma espécie de sinal. Daí a lei.

- Ups, é necessário, pois, ter atenção a colar selos. Nada de ingenuidades: os selos são um material perigoso.

- Sim, cuidadinho, Excelência.

- Cuidado com as cartas.

- E gosto particularmente de um belíssimo jardim que existe no Norte de Inglaterra.

- Eu sou um jardineiro em potência, fale-me desse jardim.

- É conhecido como o Poison Garden.

- Ups, jardim venenoso? Porquê?

- Só tem plantas mortíferas. Plantas venenosas, carnívoras, etc. Um pesadelo.

- Isso muda toda a ideia que se possa ter de um jardim.

- Sim, completamente.

- A palavra jardim sempre foi tão meiga para mim. Regar as plantas, adormecer debaixo da sombra das árvores; enfim, excelência, a preguiça e o jardim.

- Neste jardim, se quer o meu conselho, não adormeça debaixo das árvores.

- Pois, também me parece melhor.

- Dar uma volta pelo jardim passa a ser idêntico à expressão: ir para a jaula dos leões.

- Pois.

- A Inglaterra tem ainda umas belas actividades recreativas. Uma que parece excelente, excelência, é o festival que tem uma corrida de queijo.

- De queijo?

- Exactamente. Ocorre em Brockworth, Gloucestershire, em Junho.

- E como é isso?

- Parece que atiram um queijo em forma de bola por uma colina abaixo, uma colina bem inclinada, a cooler’s Hill. E partir daí começa a corrida.

- Corrida?

- Sim, o queijo pode atingir uma velocidade de 100 km/hora. É uma corrida mais com tendência para a queda. Corrida pela colina abaixo de dezenas de homens, a ver quem alcança o queijo.

- Mais ou menos fascinante, eu diria.

- É uma corrida quase sempre em posição de deitado, aos rebolões. Veja as imagens. É divertido.

- Tudo por causa de um queijo.

- De um queijo em forma de esfera, de bola, não se esqueça.

- Pois, pois, é verdade, sempre a esfera.

- Inglaterra em grande, meu caro.

- Sim, Inglaterra em grande!