Holanda e Ajax na mesma onda
O estrondoso 3-0 que a Alemanha apanhou em Amesterdão em jogo da Liga das Nações assinala o regresso da seleção holandesa à primeira linha do futebol mundial depois de quatro anos penosos marcados por falhanços nas qualificações para o Europeu de 2016 e Mundial de 2018. A goleada ao velho inimigo teutónico esteve longe de parecer um acaso. Resultou de uma exibição sólida, consistente e com a marca de ousadia e espetacularidade tradicionalmente associada às melhores versões da laranja; que confirma os sinais prometedores que vinha a dar sob a liderança de Ronald Koeman nos últimos jogos - recorde-se que também Portugal (com Ronaldo) levou 3-0 da Holanda em fevereiro passado, num particular jogado em Genebra. A geração de Memphis Depay, Virgil van Dijk, Gino Wijnaldum, Ryan Babel e Daley Blind, assessorada por uma alcateia de jovens lobos promissores (Dumfries, De Jong, Matthijs de Ligt, Bergwijn, Justin Kluivert, Van de Beek, Groenveld…), parece finalmente em condições de suceder à brilhante geração de Robben, Sneijder, Van Persie, Van der Vaart, Kuyt, Van Bommel e Gio van Bronckhorst (finalista do Mundial de 2010) e recolocar a Holanda no lugar que lhe é devido. No meu caso, que tive a felicidade de começar a ver e gostar de futebol no auge do fabuloso Ajax de Cruyff, Neeskens, Haan, Rep, Keizer e c.ª - que sustentava a imortal laranja mecânica de Rinus Michels - o regresso dos holandeses voadores é uma questão de justiça poética. A seguir a Portugal são os meus preferidos e de todas as seleções europeias que vi jogar nas últimas três, vá, quatro décadas, a da Holanda sempre foi a que me pareceu mais fiel e mais próxima do conceito (sempre subjetivo, claro) de futebol ideal: organização, audácia, vertigem ofensiva, criatividade, qualidade técnica e tática. Eterno sinónimo de golos e espetáculo, não é por acaso que a Holanda continua a ser uma das três seleções mundiais com maior número de vitórias (196) e de golos (688) em jogos oficiais (319). Façam as contas e vejam as médias…
Não sei até onde irá esta geração com Ronald Koeman ao leme (curiosamente, o antigo treinador benfiquista ficou apaixonado por Portugal, tem casa em Vale de Lobo), mas chamo a atenção do Benfica para este ressurgimento do futebol holandês porque o Ajax, que recebe os encarnados na próxima terça-feira, para a Champions, está a cavalgar a mesma onda de regeneração. Finalista vencido da Liga Europa há dois anos (0-2 com o United de Mourinho), o grande clube holandês (11 títulos internacionais em 16 finais) tem crescido e representa uma ameaça considerável aos interesses do Benfica. Reparem que antes da Alemanha ser goleada em Amesterdão, o Ajax já tinha imposto ao Bayern um surpreendente empate (1-1) na Allianz Arena de Munique, que até podia ter sido vitória não fora a classe de Manuel Neuer. Esse resultado veio perturbar as contas que o Benfica andava a fazer e proíbe Rui Vitória de perder na Holanda sob pena de ficar a 4 pontos do Ajax. O ambiente que os benfiquistas vão encontrar na Amsterdam Arena é semelhante ao que rodeia a seleção de Koeman: esperança e otimismo, se calhar mais do que os benfiquistas estão à espera. Convém lembrar que os adeptos do Ajax, muito naturalmente, não veem nas águias um obstáculo da categoria do Bayern… tão só um clube histórico que procura recuperar o brilho e as vitórias de eras longínquas - o mesmo pensarão do Ajax os adeptos do Benfica. Lembro que a última vez que o Benfica ganhou um título europeu foi há 56 anos (1962) em Amesterdão. E a última vez que chegou a uma final dos Campeões foi há 28 anos (1990) com Eriksson, no Prater de Viena (0-1 com o Milan); precisamente o estádio onde, cinco anos depois, Louis van Gaal ganharia a quarta e última Taça dos Campeões do Ajax (1-0 ao Milan). No fundo, dois velhos fidalgos com alguns pontos em comum e muitas saudades do antigo regime.
Último mas não menos importante, Portugal tem vincada tradição ganhadora com o futebol holandês. A seleção laranja é nossa cliente regular (vencemo-los no Euro-2004, no Mundial-2006 e no Euro-2012) e os clubes portugueses ganharam 20 das 30 eliminatórias disputadas com holandeses. Que o Benfica mantenha a tendência no duplo confronto que aí vem.