Hoje, sim, mais do que um jogo

OPINIÃO23.10.201804:00

A intervenção de Rui Vitória, imediatamente a seguir ao esperado e fácil  triunfo frente ao Sertanenense, cujo o orçamento total não deve chegar  para pagar ao jogador do Benfica de mais baixa remuneração, pecou por absoluta inutilidade, quando se lembrou de esboçar uma comparação entre esse jogo e o que tem de realizar hoje para a Liga dos Campeões, frente ao Ajax.  

Em concreto, produziu esta afirmação: «Temos jogadores de categoria internacional que podem jogar aqui, na Taça de Portugal, ou na Liga dos Campeões. Basta terem uma oportunidade».

De acordo, apesar de se falar de realidades incomparáveis. Quanto à questão da oportunidade de que os jogadores precisam para se revelarem só ao treinador diz respeito, pois é a ele quem compete essa responsabilidade, a de escolher os convocados e de eleger os titulares para cada desafio. Mas quanto ao resto a ambiguidade é notória, porque uma coisa é impor-se a um oponente de escalão abissalmente inferior, outra, diametralmente oposta, é discutir resultados com adversários de idêntica ou superior capacidade de argumentação. 

No final do encontro com a equipa da Sertã, e pelo que ficou dito, pôde até emergir ideia de que o Benfica acabara de alcançar um feito digno de realce, quando, em rigor, não foi nada disso que se viu: «a equipa ganhou mais do que um jogo», «terminou com seis jogadores da formação», «sabíamos que somos melhores», «o futuro é muito risonho» e por aí adiante, expressões todas elas evidentes, mas excessivas para tão simples empreitada. 

Foi feliz ao dizer que tem jovens de 16 e 17 anos sob observação e também apreciada a utilização simultânea de «projetos de jogadores» como os designou, mas que prefiro identificar como jovens talentos, nascidos ou criados na academia do Seixal, casos de Rúben Dias, Gedson, Yuri Ribeiro, João Félix, Jota e até Alfa Semedo.

A formação é importante, mas não se deixa obcecar por ela, talvez para não ficar comprometido com a ambição de Luís Filipe Vieira, que admite o Benfica a lutar para ser campeão europeu com jogadores da casa. E como é um presidente de convicções e com pressa, decretou que na próxima época Jota, Ferro, Florentino e Willock sejam promovidos ao plantel principal.

Sinceramente, acredito que Rui Vitória estará preparado para este andamento e capaz de devolver o Benfica à elite europeia, que é na Liga dos Campeões e em mais nenhum lugar. 

Ontem, na conferência de Imprensa da UEFA, foi muito mais assertivo. Reconheceu qualidade de um lado e do outro, garantiu que a sua equipa está preparada para competir ao mais alto nível e todos os jogadores identificados com a dimensão do evento.  Além de contrariar o princípio de jogar para o ponto. Porque ganhar é o único desfecho que permite ao Benfica manter a Champions no horizonte e prestar singela homenagem aos campeões europeus de 1962. Hoje, em Amesterdão, sim, é mais do que um jogo!... 

Varandas ainda não deu à costa

Discordo da reação desajustada das claques do Sporting no final do jogo com o Loures, empenhadas em desestabilizar, não sei se por iniciativa própria ou se por indicação de terceiros.  É notório que a exibição da equipa não foi famosa, cingiu-se aos serviços mínimos, em função da fraca cotação do oponente, que a mais não obrigou, mas executou a tarefa, que era a de vencer a eliminatória. Sem brilho, mas em segurança, como manda a prudência.

Estas dispensáveis e trauliteiras organizações de adeptos não compreendem nada, só fazem barulho. São dispensáveis porque ainda não enxerguei uma razão plausível que as justifique tal como são, um cardápio intragável de comportamentos absurdos.  Também não pensam, comportam-se como bonecos que obedecem a quem lhes dá corda.

É um desperdício tentar explicar-lhes que aos profissionais se impõe o cumprimento das metas intermédias para não se perder de vista o objetivo final, embora não seja possível festejar sempre com champanhe, como ironizou, com fino sentido de oportunidade, o treinador portista Sérgio Conceição, na medida em que a época é longa, os plantéis são limitados, as lesões não avisam e os jogos não esperam.

Apesar do ataque a Alcochete e das suas sequelas, da ausência demorada de Bas Dost, do desagrado de Nani a uma substituição e do sub-rendimento de Bruno Fernandes, o que  não é pouco, José Peseiro tem-se esforçado por transmitir uma mensagem de confiança e de esperança num futuro melhor. Mas não basta. Falta-lhe uma estrutura de suporte, uma hierarquia que funcione. No essencial, falta-lha Varandas, não a presença dele, mas a sua indubitável confiança que a enigmática resposta «Por amor de Deus» (sobre a continuidade do treinador) não reflete.

O presidente estará sobrecarregado por uma vastidão de complexos problemas, mas é altura de dar à costa e de travar as correntes de ar que começam a sentir-se e a incomodar. Até quinta-feira, de preferência. Porque depois é depois e com o Arsenal do outro lado nunca se sabe…