Hoje é o primeiro dia… do resto de uma vida confusa

OPINIÃO24.09.202004:00

Há quase sete meses, o Sporting exasperava os seus adeptos de forma inimaginável nos 16 avos da Liga Europa. Depois de uma vitória por 3-1 em Alvalade, face a uns obscuros e inesperados turcos do Basaksehir, foi a Istambul perder a eliminatória, com os seguintes requintes de malvadez: ao intervalo perdia 2-0, pelo que estava eliminado; na segunda parte, Vietto reduziu para 2-1, apurando o Sporting; depois dos 90, Visca marcou pelos turcos e levou o jogo a prolongamento; a um minuto do fim dos 120 finais, o mesmo Vietto comete uma grande penalidade que Visca marcou, colocando o resultado final nos 4-1 que ditaram o afastamento do Sporting.

A história só vale a pena ser recordada por ser um manual de erros que não se podem cometer. Desde o estar a ganhar 3-0 em casa, na primeira eliminatória e, depois, sofrer um golo, até ao penálti cometido a um ou dois minutos do fim, quando a eliminatória não estava perdida. Recordemos que essa foi uma jornada fatídica para as equipas portuguesas: Porto, Benfica e Braga também foram eliminados, embora fosse o Sporting o único que vinha com um bom resultado da primeira mão.

Hoje, recomeça para o Sporting a Liga Europa. Frente ao Aberdeen, da Escócia, o treinador já não é Silas, mas Rúben Amorim, embora oficialmente (por ter o curso completo) continue a ser Emanuel Ferro. Para já, joga em Alvalade, sem público e se à última hora não houver mais novidades do Covid. Mas, para chegar à fase de grupos, onde já estão Braga (3.º na Liga) e Benfica (caído da Liga dos Campeões), ainda tem mais uma prova que pode não ser simples: joga com o vencedor do LASK/Dunajská Streda. A primeira é uma equipa austríaca que na fase de grupos da época passada perdeu em Lisboa por 2-1, mas ganhou em casa por 3-0; a segunda, uma equipa eslovaca com a qual os leões não têm historial.

Este ano teríamos, por certo, melhores condições do que o ano passado. Não pela valia dos jogadores, mas pela atitude que o novo treinador trouxe à equipa. O problema é que o treinador está fora do terreno, depois de ter apanhado Covid, assim como alguns jogadores que poderiam ser, ou quase por certo seriam, opções para alinhar no jogo de hoje. Nas próximas partidas esperemos que todos estejam bem e não haja mais episódios virais.

Pandemia ao ataque

Ofacto de tantos jogadores do Sporting terem sido apanhados pela pandemia faz-me pensar se foi acaso, descuido ou azar. O certo é que noutras equipas com a mesma dimensão, ou mesmo mais pequenas, nenhuma teve um jogo adiado. Só o Sporting - Gil Vicente o foi, devido às ocorrências do Covid não só na equipa de Alvalade, como também na de Barcelos.

Ontem, tanto Gonçalo Guimarães como José Manuel Delgado se interrogavam, nestas páginas, sobre como gerir o futebol em época de pandemia. O primeiro afirma claramente que o adiamento decretado pelas autoridades de Saúde foi contra o protocolo, como já haviam sido casos semelhantes na Liga 2. A questão é interessante, porque se temos jogos sem público, como forma de prevenção, não se entende bem por que motivo, afastados os casos positivos (e não havendo quarentena obrigatória para toda a equipa), não podem e devem jogar aqueles que estão negativos, o que se espera hoje acontecer na Liga Europa.

Ou seja, ou os jogadores vivem eternamente numa bolha (como está a acontecer aos do Sporting para prepararem a receção ao Aberdeen e a deslocação a Paços de Ferreira), ou a todo o momento teremos jogos recalendarizados até se chegar à confusão total. O tempo que há para as competições já é escasso, e em todos os países da Europa se vive com o cutelo de ter de interromper a normalidade possível por causa da pandemia. Se as competições começam a afunilar, em menos de nada teremos jogos todos os dias, como aconteceu no final do campeonato passado.

A somar a isto, há o facto de não se ter deixado claro o que acontecer às equipas que não possam, de facto, jogar. Perdem pontos? Espera-se que possam? Já se sabe que o jogo do Sporting com o Gil Vicente foi adiado para a semana de 12 a 16 de outubro. Claro que isto tem um custo para ambas as equipas, nomeadamente para o Sporting, caso vença o Aberdeen hoje e o play-off a 1 de outubro, porque no dia 22 do mesmo mês terá o primeiro jogo europeu na fase de grupos. Não é nada que atrapalhe muito, a menos que, daqui até lá, mais e mais jogos tenham de ser adiados. Naturalmente, há que prevenir a doença, mas também há que prever os procedimentos a ter, caso o quadro se agrave. E isto não é ser pessimista, é ser realista.

Santo nome de Ronaldo

Já se sabe que o capitão da Seleção Nacional e goleador da Juventus (continua, apesar da idade e do resto) é o maior dos jogadores de futebol em ação, senão o maior de todos os tempos (percebo que a memória de Eusébio fique ofendida, mas a verdade é que Ronaldo é um fenómeno pelo menos tão raro quanto foi o avançado do Benfica e da Seleção). Por isso, é natural que a Academia que o formou tenha o seu nome.

Parece que a Academia do Nacional já tinha tido a ideia em 2012, pelo que o clube madeirense, região de onde é natural Ronaldo, ficou ofendido. Mas a minha questão é esta: haverá lugar para disputas nesta matéria? Ó senhores dirigentes do Nacional, há em várias cidades praças e ruas com os mesmos nomes. Não tem o Sporting o direito de usar como nome (que é uma homenagem e não um tratado comercial de naming) aquele que foi o seu mais brilhante aluno? Alguém impôs ao Nacional retirar o nome que lá pôs? Não tem Ronaldo estatuto suficiente para ter o nome em mais do que um lugar?

Curioso, na verdade, foi o Sporting lembrar-se de dar nomes de grandes atletas seus às portas do Estádio e à Academia. É verdade que Porta 1 não me diz nada. Mas se for Porta Peyroteo ou Porta Yazalde já me evoca memórias interessantes. A iniciativa é boa, mas tem um senão (que, aliás, não é culpa do Sporting): é que, com esta história do Covid não entramos por porta nenhuma. Somos obrigados à televisão para ver um jogo… e enquanto durar, já nem me queixo.