Heróis e vilões

OPINIÃO22.03.201903:06

A dicotomia entre heróis e vilões é das mais antigas do universo. A linha que os separa, por vezes, é ténue e não raras vezes houve a passagem de um lado para o outro. Há ainda a questão da perspetiva de quem analisa os assuntos.

O caso de Rui Pinto é, nos últimos tempos, o que mais dúvidas me causa quanto ao heroísmo ou a vilanagem dos seus atos. Partindo do princípio de que o acesso a correspondência privada é completa e perfeitamente ilegítimo, a questão colocada a seguir é se aquilo que Rui Pinto conseguiu descobrir - com alguns temas absolutamente fedorentos - não atenuam o crime inicial. Se o hacker agiu numa perspetiva de pureza pelo amor à causa futebolística, parece-me que a questão é pacífica.

No entanto, há indícios de que Rui Pinto tentou extorquir verbas avultadas a troco da não divulgação da informação privilegiada a que teve acesso. A comprovar-se, que assim foi, o amor à causa futebolística ficou guardada no cofre da consciência e abriu-se-lhe o de pretender uma  vida mais desafogada. Contas feitas, portanto, não difere dos autores das trapalhadas que descobriu porque a motivação foi a mesma: dinheiro. Sempre e só o dinheiro.

Ser herói ou vilão envolve sempre risco e, também, alguma coragem. Voltando ao dinheiro, o Sporting fechou esta semana um acordo com o fundo Apollo para um empréstimo de €65M, dando por garantia o contrato de direitos televisivos com a operadora NOS. O juro a pagar é alto, cerca de 8 por cento.

Apenas daqui a uns tempos se saberá se os atuais dirigentes foram heróis e conseguiram salvar as contas no imediato e deram um novo impulso ao clube ou o voltaram a afogar numa taxa de juro elevadíssima que consome uma boa parte das receitas. Mas para se ser herói ou vilão é preciso ter sempre coragem. A coragem que tem Ronaldo, que hoje volta à ação na Seleção. Ganha muito dinheiro, é certo. Mas é óbvio e incontestado porque tem acerto que engrandece o futebol. Como devem ter sempre os heróis.