Pirotecnia tem custos para o Benfica. Foto: EPA/RODRIGO ANTUNES

Há fogo onde se vê a Luz

A pirotecnia nos estádios é um problema que afeta transversalmente muitos clubes. No entanto, parece haver uma resistência particular por parte do Benfica em implementar soluções eficazes para eliminar estes incidentes. 'Estádio do Bolhão' é o espaço de opinião semanal do jornalista Pascoal Sousa

Perde-se totalmente a fé na resolução de um problema grave nos nossos estádios que é o uso reiterado da pirotecnia quando um clube com a grandeza do Benfica considera «inapropriada, injusta e totalmente injustificada» a decisão do Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) de interditar por um jogo o Estádio da Luz porque alguns dos seus adeptos, sejam eles da tal claque sem nome e ferida de legalidade, ou não, lançaram engenhos pirotécnicos para uma bancada repleta de adeptos do FC Porto, onde se encontravam algumas crianças.

Trata-se de um problema transversal, mas o Benfica, em particular, parece ter alguma resistência em encontrar uma solução para este tipo de incidentes, de resto, recorrentes na Luz. Por isso, sim, o castigo é apropriado, justo e totalmente justificado, sendo que com a reclamação no TAD terá sempre o efeito pretendido. Vai ficar tudo bem, como na história do arco-íris. Perde-se a fé num futebol em família, sem medo de sair ferido ou queimado, quando os clubes em Portugal têm uma via para sair impunes de penalizações que deviam cumprir sem reclamar. Villas-Boas decidiu remeter para as claques a fatura por mau comportamento e uso de pirotecnia, em vez de se ficar pelo estafado pedido para todos se portarem bem. A propósito, seria interessante, nesta matéria, saber se as claques pagaram mesmo os danos provocados ao FC Porto na temporada 2024/25. No Estádio do Dragão, pelo menos, o clima acalmou, já fora de casa nem por isso.

A Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD), em conjunto com a Liga, quer desenvolver ações concretas para acabar com este fenómeno que tão mal faz ao futebol português, que estraga o espetáculo e coloca em risco a integridade física de adeptos inocentes. Sucede que a Liga, por bem intencionada que seja esta nova direção, é dos clubes e se o Benfica reage assim... Exato, perde-se a fé. De acordo com dados provisórios da APCVD foram 166 as condenações efetivas por uso ou introdução de pirotecnia em recintos desportivos e 417 interdições de acesso a recintos desportivos - 314 relacionadas com fogo inimigo.

Os clubes pagam milhares de euros em multas em cada época desportiva e quando chega uma condenação que se alinha com o crime cometido, a reação é relativizar o ato e criticar a justiça desportiva, em vez de proteger quem paga bilhete e de agir duramente contra os piromaníacos. O TAD arruma com o castigo, o fogo volta aos estádios e para o ano sai mais um relatório alarmante para guardar na gaveta. Escusam de chamar os bombeiros. Quem atira gasolina num incêndio não necessita de auxílio e sim de um apoio mais profundo e especializado.