Gratidão
Por muito fortes e intensas que sejam as relações entre os treinadores e jogadores com os seus clubes, os ciclos têm sempre um fim. A forma como são interrompidos, ou finalizados em definitivo, difere em todos os casos. Os intervenientes são diferentes, sejam dirigentes, treinadores, jogadores, elementos do staff ou adeptos. Os egos e vaidades sobrepõem-se demasiadas vezes ao reconhecimento. A gratidão, que deve ser mútua, é esquecida pelo narcisismo que se sobrepõe a tudo o que em conjunto foi realizado. O futebol é um jogo colectivo, de difícil execução, com margens de erro grandes, em que os factores aleatórios são inúmeros. Isto provoca uma maior incerteza no resultado final. Os mais pequenos têm sempre possibilidades de sucesso, os maiores podem sempre ser derrotados. Mas os valores da competição e dos seus intervenientes não podem estar sujeitos a mudanças de humor. As equipas, e os seus membros, principalmente jogadores e treinadores, são as maiores referências para os adeptos. As relações estabelecidas entre quem sofre por fora em todos os jogos e quem está dentro das quatro linhas a tudo fazer para que se consiga atingir o sucesso tem que ser de reconhecimento mútuo, de respeito, e, no final, de gratidão.
O que mais me marcou no Vitória foi sem dúvida a relação de carinho que os adeptos tiveram pela equipa e por mim em particular. Nunca esquecerei muitos momentos, dentro e fora do estádio, mas a ovação a 10 minutos do fim do jogo da meia-final da Taça da Liga, quando a equipa perdia por 3 a 0 com o Braga, e estava praticamente eliminada de atingir o sonho de voltar a jogar uma final, é um momento único. Essa força e confiança reflectiu-se no jogo seguinte, ganhámos ao Benfica para o campeonato. E este ano vencemos o Braga e jogámos a final. A atitude dos adeptos foi sempre utilizada por mim como exemplo de confiança e crença. Esta semana, a homenagem espontânea dos adeptos, foi mais um marco de um reconhecimento mútuo. Estarei sempre grato aos vitorianos.