Gala hoje e depois na Luz
O FC Porto festejou 125 anos na semana passada com o mesmo presidente de 1987 (Viena, Amesterdão e Tóquio), 2003 (Sevilha), 2004 (Gelsenkirchen e Yokohama) e 2011 (Dublin): Jorge Nuno Pinto da Costa, que se encontra no poder há 36 anos. Sete cidades cuja simples menção resume aquele que é para mim (sem desmerecer o penta doméstico) o feito mais relevante do FC Porto na ‘era Pinto da Costa’: a conquista de sete títulos internacionais em três momentos diferentes… com três plantéis diferentes… orientados por cinco treinadores diferentes - por ordem cronológica: Artur Jorge (Taça dos Campeões), Tomislav Ivic (Taça Intercontinental e Supertaça da UEFA), José Mourinho (Taça UEFA e Champions), Victor Fernández (Taça Intercontinental) e André Villas Boas (Liga Europa). Um palmares único na história do futebol português construído pelo tal clube provinciano e complexado que começava a perder jogos assim que atravessava a ponte D. Luís e que, sob a liderança de Pinto da Costa, se transformou na equipa portuguesa mais titulada e competitiva em termos internacionais. É evidente que esta equipa do FCP que logo recebe o Galatasaray já não é o baluarte (nem pouco mais ou menos) que ganhou para Portugal três taças europeias em pleno século XXI (só Real, Barcelona e Sevilha ganharam mais desde 2000). Sérgio não tem plantel para tentar uma saga como a de Mourinho em 2003-2004, mas parece claro o FCP ainda tem matéria prima e estofo suficientes para continuar a cumprir aquilo que nos habituou: passar da fase de grupos (conseguiu-o por 14 vezes em 22 participações) e esperar que nos oitavos não calhe logo um tubarão de dentes muito afiados. Lembre-se que no ano passado saiu o Liverpool e o Porto foi imediatamente arrumado: 0-5 em casa.
O jogo de hoje com o Galatasaray encerra alguns perigos que a lembrança da derrota caseira com o Besiktas fará avivar, mas desta vez Sérgio Conceição não cairá no erro de apostar num meio campo soft - antes pelo contrário. A equipa ainda não atingiu o nível de há um ano (dinâmica e intensidade muito acima do padrão doméstico) e entretanto surgiu um problema bicudo com a lesão grave de Aboubakar. Dada a indisponibilidade de Tiquinho Soares (não foi inscrito), o FCP vai fazer cinco dos seis jogos na Champions francamente reduzido no poder de fogo: há Moussa Marega (que nunca marcou na Champions), mais o jovem André Pereira e o trintão Adrián Lopez. Parece curto para as exigências, embora, reconheça-se, o cenário pudesse ser muito mais inquietante se a truta do pote 1 não se chamasse Lokomotiv Moscovo, mas Real Madrid, Barcelona, Bayern ou Juventus. Assim, pode ser que não se note demasiado a falta de pontas de lança (temo que sim, no entanto). Não podendo defrontar o Gala hoje, Tiquinho Soares certamente não falhará a gala de domingo na Luz, em mais uma edição do clássico com o Benfica, que em abril passado foi decidido com um tiro fulminante de Hector Herrera ao cair do pano. Todos os benfiquistas sabem que foi nesse jogo que Rui Vitória desperdiçou oportunidade única de assegurar o penta (encolheu-se…), mas julgo que poucos terão noção exata das dificuldades (expressas em números) que o Benfica tem encontrado com o FC Porto na nova Luz. Em quinze clássicos realizados neste magnifico estádio, o Benfica ganhou apenas três, empatou seis perdeu outros seis. Ou seja: o FCP tem sido claramente superior na nova Luz e o Benfica dá a ideia de não conseguir libertar-se de uma espécie de trauma sempre que enfrenta o rival nortenho. De Rui Vitória pode dizer-se o mesmo, aliás: fez seis jogos com o FCP e ainda não conseguiu vencer um (três empates e três derrotas). Os benfiquistas suspiram pelo murro na mesa que quebre o tabu, os portistas anseiam pela manutenção do status quo. Quem sabe se não é o Braga quem fica a rir…