Futebol, pára-raios dos males do Mundo
Se o desporto quiser continuar a ser um construtor de pontes deverá resistir aos intolerantes que lutam contra a intolerância
Omês de Campeonato do Mundo no Catar vai contribuir para acelerar o processo de democratização do país, vai concorrer para a diminuição das infrações aos direitos humanos, vai ajudar a uma segurança laboral maior, vai trazer mais rapidamente igualdade às mulheres e liberdade às escolhas sexuais? Francamente, creio que, pelo menos, terá um efeito benéfico. Então, logo após o evento, teremos uma sociedade catari a funcionar segundo os nossos padrões? Obviamente, não. O que a abertura que naturalmente decorrerá da realização do evento trará será um salto evolutivo que permitirá queimar algumas etapas, num cenário fundado em convicções milenares, que não pode ser visto à luz de parâmetros ocidentais. O desporto, e o futebol em particular, pode ajudar nestes processos - como tem sucedido noutras partes do globo - desde que seja evitado o pecado do branqueamento de um regime que também se debate com contradições entre os ocidentalizados e os dogmáticos.
Sendo obrigação civilizacional pugnar pelos direitos humanos, será possível ostracizar mais de metade do planeta que não vive segundo os cânones da democracia? Se o desporto quiser continuar a ser um construtor de pontes, também deverá saber resistir à intolerância dos que estão empenhados no combate à intolerância, abrindo permanentemente portas ao diálogo. É essa a sua missão, uma tarefa que não pode ser conspurcada, como foi no caso da atribuição do Mundial ao Catar, por razões de benefício pessoal.
Em Portugal, onde não se recusa, em nenhum setor, o investimento que vem daquele país do médio oriente, de repente deram à costa uma série de arautos do politicamente correto, que se mantiveram no mais cândido silêncio durante todos estes anos em que se fortaleceu a relação económica com o Catar. E deviam andar distraídos quando o Mundial de sub-20 se disputou naquele país (1995), então sob um regime bastante mais radical; ou quando, em 2009, foi assinado um protocolo entre os comités olímpicos de Portugal e do Catar; ou quando fundos de investimento cataris comparam parte da EDP; ou ainda quando a construção no Algarve tem sido potenciada por investidores do Catar. Qual Bela Adormecida, só acordaram para a indignação um mês antes do Mundial...
ÁS – PEDRO PROENÇA
O Thinking Football Summit, organizado pela Liga Portugal, foi um sucesso que permitiu aprofundar o debate sobre o futebol nas mais variadas vertentes, levando a discussão a muitos milhares de participantes. Pedro Proença acrescentou créditos ao trabalho que tem desenvolvido e pretende levar para outras paragens.
ÁS – JOÃO FÉLIX
Aproveitor o jogo com a Nigéria para fazer dois em um: por um lado, graças a uma visão de jogo sublime, bateu forte, fortemente, à porta da titularidade na equipa de Fernando Santos; por outro, deixou Diego Simeone em xeque, mostrando que tem arcaboiço para fazer muito mais do que está a apresentar em Madrid.
DUQUE – KARIM BENZEMA
Bem podia dizer, depois de ter superado um conflito com a Federação Francesa de Futebol que o mantinha fora da Seleção, «tanto que eu andei (e penei) para aqui chegar», e afinal de contas vai falhar o Mundial do Catar, por obra e graça de uma lesão muscular. O detentor da Bola de Ouro não merecia a desdita.