Futebol não é para românticos

OPINIÃO06.01.201903:00

RUI VITÓRIA não resistiu à primeira derrota depois do voto de confiança que Vieira lhe dera há pouco mais de um mês. De nada lhe valeram as sete vitórias que se seguiram - a que juntou o empate na Vila das Aves que garantiu presença na final four da Taça da Liga. Ao primeiro desaire o treinador caiu mesmo. O que mostra, por si só, quão frouxa era a luz vista pelo presidente naquela noite de insónia no Seixal. Sejamos claros: a saída de Rui Vitória era inevitável. O que Vieira fez há um mês foi apenas adiá-la, embora ninguém tenha ainda percebido bem porquê. Era - depois daquele desastre em Munique e da crise que o antecedeu - evidente que nem Vitória tinha condições para continuar a ser o treinador do Benfica nem o presidente tinha condições para segurá-lo, por muito que quisesse. Foi pena que nem um nem outro tenham percebido que chegara, ali, a hora de se despedirem. Acima de tudo porque, por tudo o que ganhou em três anos e meio na Luz, Vitória merecia uma saída bem mais graciosa. Culpados? Os dois, que terão acreditado em algo que todos os outros percebiam ser impossível. Ou a prova de que o futebol não se coaduna com romantismos.

POR falar em romance. Haverá, porventura, apenas uma falha que Vitória pode apontar a Vieira nesta relação de três anos e meio: a forma como nunca o conseguiu proteger da sombra de Jorge Jesus, fragilizando mais ainda (junto dos adeptos e, até, no balneário) a posição do treinador que lhe dera o tetra. Que fique, pelo menos, a lição para o futuro: seja quem for o treinador que escolha para o futuro, imediato ou mais longínquo (a não ser que seja José Mourinho...), tem Vieira de enterrar de vez esta história. Costuma o povo dizer que não há amor como o primeiro. Talvez seja verdade. Mas quando se está noutro casamento, é contraproducente andar sempre a falar de quão bom eram esses tempos ou, pior ainda, ser incapaz de descartar um possível regresso a outros braços. Pode até pensar-se. Dizê-lo à boca cheia é mais chato. Mais vale negar, mesmo que seja mentira. Que, ao contrário do romantismo, é coisa com que o futebol nem se dá mal.

POR falar no sucessor de Rui Vitória. O Vitória de Guimarães ficou chateado pelo facto de Luís Castro ser apontado como hipótese para assumir, de imediato, o comando técnico do Benfica. Já antes o seu presidente, Júlio Mendes, dera conta do seu desagrado em declarações a O Jogo. Não se percebe bem. Primeiro, pede à comunicação social que leia o artigo 85.º A do Regulamento Disciplinar da Liga, que fala sobre as punições para um emblema que alicie um treinador de outro clube a denunciar sem justa causa o seu contrato de trabalho. Como se alguém tenha, alguma vez, escrito ou pensado que a chegada de Luís Castro ao Benfica aconteceria à revelia do Vitória de Guimarães - parece-me, embora não conheça pessoalmente o treinador dos vimaranenses, ser Luís Castro, pela sua forma de estar no futebol, incapaz de uma saída assim, ou que se deixe influenciar por estas notícias a quase 15 dias do primeiro jogo entre as duas equipas;  aparentemente, disso não tem certeza a Direção do Vitória, o que é no mínimo estranho. Como se a mudança de Luís Castro para a Luz fosse um total disparate por nunca na história do futebol português (e até na história recente dos vimaranenses...) um treinador ter, a meio da época, trocado de clube... A não ser, claro, que o comunicado ontem emitido pelo Vitória tenha afinal outro destinatário que não a comunicação social. Mas isso é, tenham lá paciência, um problema que os vimaranenses terão de resolver com o Benfica. Mais estranho ainda: vendo o seu treinador tão valorizado - o que não pode ser mau para o Vitória -, entendeu Júlio Mendes dizer que sabe que o Benfica pretende Abel Ferreira, o técnico do rival SC Braga. Há coisas difíceis de perceber.