Futebol, música e arte
1 Escrevo a olhar para a Ria de Aveiro. O sol começa a desaparecer e uma brisa, bem marítima, arrefece este final de tarde em que, uma vez mais, aqueci a alma com uma outra visita ao Museu da Vista Alegre. Local onde há magia e criação, devoção e ambição, coração e arte. E com uma empresa bem portuguesa, a Visabeira, a mostrar, também com o seu acolhedor Montebelo Vista Alegre, a sua capacidade de gestão e a sua ousadia na inovação e a garantir que em 2024 - data em que se comemoram os duzentos anos de uma «grande fábrica de loiça, porcelana, vidraria e processos químicos» - a festa seja linda, rija e merecida. E recordo, sentindo a brisa que já nos arrefece, os três fantásticos golos de Cristiano Ronaldo ao Atl. Madrid, a vitória suada do Benfica face ao Dínamo Zagreb - com dois golos do outro mundo de Ferro e Grimaldo! - e a convocatória emotiva, mas bem justa, de Dyego Sousa, Diogo Jota e João Félix para os primeiros difíceis confrontos de Portugal na luta pela defesa do seu título europeu! E quer a Sérvia quer a Ucrânia são, à partida, os adversários mais temidos nesta caminhada que terá uma interrupção em junho para a disputa, que desejamos vitoriosa, da final four da Liga das Nações. E, aqui, com este sol que se apaga e estas porcelanas que nos encantam, são bem verdadeiras as palavras de Vítor Hugo: «É triste pensar que a natureza fala e que o género humano não a ouve»! Vale a pena olhar e ouvir para a fonte da Quinta da Vista Alegre, limpar os olhos com esta água cristalina e subir um pouco e agarrar a história de Portugal dos últimos 200 anos, olhando, maravilhados, para os pratos e as terrinas, os copos e as peças especiais, as jarras e as canecas, os bules e as floreiras, as chávenas e os tinteiros, as garrafas e os pires que enchem, entusiasmando-nos, este museu cada vez mais procurado e cada vez mais visitado. E, tal como acontece no fantástico concerto de André Rieu no Altice Arena,- a não perder, aviso! - sabemos bem com Miguel de Cervantes no seu Dom Quixote que «onde há música não pode haver coisa má»!
2 E música entusiasmante, clássica e moderna, proporcionou-nos uma vez mais esta semana Cristiano Ronaldo. Levou a Juventus aos quartos de final da Liga dos Campeões, esmagando um convencido Atl. Madrid, e vai defrontar uma das equipas surpresa desta edição da Liga dos Campeões, o Ajax. Que goleou o Real Madrid e determinou uma mini revolução - para já! - com o regresso de Zidane, já vitorioso, ao comando técnico de uma equipa destroçada. Mas o que os quartos de final das duas competições europeias evidenciam é o claro domínio inglês (seis clubes em dezasseis) o que significa que o futebol inglês é claramente contra o brexit. Se ouvimos falar, numa incerteza permanente, na saída do Reino Unido da Europa, constatamos, ao invés, que o futebol inglês quer conquistar este ano a Europa. E salta à vista o desaparecimento de clubes franceses e russos e, no que respeita a estes últimos, com bons indícios lusitanos no que respeita ao ranking da UEFA. E, depois, a Espanha também mostra a sua força (com três clubes em dezasseis) e os futebóis italiano e português evidenciam a sua relevância com dois clubes em dezasseis. E sobram em verdadeira resistência o Eintracht Frankurt como representante do dito forte futebol alemão e a surpresa checa do Slavia Praga. Que deitou para fora da Europa um dos clubes mais titulados do futebol europeu nas últimas épocas, o Sevilha. O que vemos são, entre outros, grandes confrontos como o Futebol Clube do Porto - Liverpool ou o Manchester United- Barcelona. Ou o Nápoles - Arsenal e o Benfica de Bruno Lage face ao Eintracht Frankfurt liderado pelo austríaco Adi Hutter. E esta equipa alemã ainda não perdeu nesta Liga Europa… Oito vitórias e dois empates em dez jogos! Convém, de verdade, olhar para os números. Mas nada que impeça a forte crença na equipa de Bruno Lage, na sua clara e lúcida liderança e no regresso confiante ao Seixal dos quatro jogadores convocados por Fernando Santos para o arranque da fase de grupos do Europeu de 2020! Sendo o Benfica, a par do Wolverhampton de Nuno Espírito Santo, o clube mais representado na lista dos vinte e cinco escolhidos por Fernando Santos para este tempo de seleção. E depois deste tempo teremos as grandes finais. Na Liga interna e nas ligas europeias. Na Taça de Portugal e, também, nos mecanismos de condicionamento, que se multiplicarão, fora dos relvados. E eles já aí estão. Mas, regressando ao concerto extraordinário de André Rieu - não percam! - e acompanhando Beethoven direi que «milhares de pessoas cultivam a música, poucas porém têm a revelação desta arte». Como da pintura ou da porcelana. Da nossa Vista Alegre! Como da força única e do talento singular de Cristiano Ronaldo!
3 O Sporting jogou na sexta, o Futebol Clube do Porto ontem e hoje em Moreira de Cónegos o Benfica tem outra final. Hoje o Benfica, com o colinho dos seus adeptos, tem de ultrapassar a equipa surpresa desta edição da Liga NOS. Hoje o Benfica, depois do empate que doeu na passada segunda-feira, sabe que os três pontos são fundamentais para a assumida e ambicionada reconquista. Sabemos bem que cada jogo é uma final. Mas, tal como frente ao Dínamo Zagreb, estamos certos que este concreto Benfica tudo fará para alcançar a vitória e fazer-nos acreditar que a reconquista é um sonho possível. E sabendo todos que o calendário exige acrescidas cautelas e que a gestão do esforço determinará opções necessárias. Como nos ensinou o extraordinário Fernando Pessoa «reduzir as necessidades ao mínimo, para que em nada dependamos de outrem»! E hoje ao meio da tarde em Moreira de Cónegos combinaremos crença com necessidade sabendo bem que a necessidade é terna. E é esta ternura que sabe bem ao futebol. Ao futebol que nos entusiasma no arranque de cada jogo, em particular das competições europeias. Os hinos das Ligas aquecem as lamas e entusiasmam-nos. Como cada vez que escutamos o hino do nosso clube ou o hino de Portugal! E, assim, combinamos futebol, música e arte! E como nos ensina Goethe «só a arte permite a realização de tudo o que na realidade a vida recusa ao homem»!