Futebol como laboratório da sociedade
A crise que assola o Sporting mereceu, em duas publicações de referência, fora da área desportiva, Expresso e Público, uma atenção particular, que contribuiu para enquadrar, na devida medida, o problema. Miguel Sousa Tavares e Vicente Jorge Silva, relacionaram a presente tragédia sportinguista com o fenómeno do populismo, um dos principais perigos para as democracias modernas. Disse, a propósito, em metáfora, Sousa Tavares que «é preciso matar os Brunos de Carvalho à nascença», ou seja, torna-se imperioso que a sociedade se proteja dos populistas demagogos. E se, em retrospetiva, há algo a recriminar à comunicação social no caso de Bruno de Carvalho, foi o escasso escrutínio a que foi sujeito quando apareceu na cena pública. Já Vicente Jorge Silva escreveu que «não podemos continuar a dormir se não queremos que os Brunos de Carvalho se reproduzam noutras espécies - sociais e políticas - e os bandos de arruaceiros das claques antecipem as brigadas fascistas e nazis de sinistra memória.»
O Sporting entra hoje numa semana decisiva para o seu futuro e cada dia sem uma solução é um tiro na alma do leão. Se o rumo que o clube vai seguir for aquele que foi anunciado por Bruno de Carvalho - sessões de esclarecimento pelo país, à imagem do PREC, na convicção de que assim será possível blindar o presidente da contestação generalizada, a que se segue uma Assembleia Geral para decidir o que deve ser decidido na serenidade das urnas - o clube de Alvalade corre riscos muito profundos e persistentes. Repito o que escrevi há dois dias: uma instituição centenária, com milhões de adeptos, como o Sporting Clube de Portugal, não correrá risco de existência. Mas o retrocesso pode ser dramático, com consequências que perdurarão por muitos anos. A resposta está nos sportinguistas, entre os quais incluo aqueles que vão suportando o quórum do Conselho Diretivo. São eles que, mais dia menos dia, vão ser confrontados com a responsabilidade histórica pelo que estão a fazer. E, se parece evidente um certo afastamento da realidade de Bruno de Carvalho (a responsabilização dos jogadores pelo que aconteceu em Alcochete pareceu aquela culpabilização das vítimas que é feita noutros crimes igualmente hediondos), como explicar quem o mantém, ainda, no poder?