Força Vítor

OPINIÃO29.11.202002:30

Tem sido uma semana terrível. Por isso este artigo é diferente. É uma carta a um Amigo que está a resistir. Que, com o seu oxigénio, nos faz sorrir nós últimos dias. É  um artigo que celebra a vida mas que não esquece aqueles que, ao longo desta semana, nos deixaram. Sabendo bem que cada um de nós é um ser que se não repete! Neste curto espaço de tempo deixaram-nos quatro homens do futebol. Partiu o Senhor José Bastos, um dos vencedores, por exemplo, da Taça Latina e uma referência do Benfica. Era de uma simpatia contagiante e de uma humildade cativante. Depois o Senhor Reinaldo Teles, um dos homens do crescimento e da afirmação do Futebol Clube do Porto. Éramos adversários, que não inimigos. Não esqueço a sua simpatia durante os anos em que todas as semanas, às quintas-feiras, dei aulas na Universidade Lusíada no  Porto. Ali conheci o Homem e o Pai, para além do dirigente assumido e frontal do Futebol Clube do Porto.


Depois a partida de Diego Armando Maradona, um dos mitos do futebol contemporâneo. Tenho, com a  sua assinatura, o seu livro: ‘Eu sou El Diego’! Que merecia ser lido por muitos que , ao longo dos últimos dias, falaram, em múltiplos espaços, de Maradona sem que o tivessem visto jogar e, ao menos, tivessem lido este seu impressionante relato pessoal. Mas que, decerto, se emocionaram com todas as homenagens que lhe foram prestadas e, de entre elas, destaco a dos All Blacks! Arrepiante! Impressionante!

E, ontem, também sem avisar,  somos dolorosamente confrontados com a morte de Vítor Oliveira, um dos grandes Senhores e senadores do futebol português. Era de uma singular humanidade e de uma impressionante generosidade. Era  um  fidalgo no trato e de uma especial grandeza nas relações. Com ele parte o treinador respeitado, o comentador sagaz e o Homem livre, com pensamento e com personalidade. E, assim, percebemos, desde o Padre António Vieira, que «todos os homens morrem de repente»! Mas também relemos José Marti e assumimos que «a morte é uma vitória e quando se viveu bem o caixão é um arco de triunfo»! Mas também sabemos desde o nosso imortal António Vieira que «nem vivemos como mortais nem vivemos como imortais»! E é a nau que é a vida e o vento que é o tempo que nos fazem cantar e fraternizar, ler e passear, confidenciar e embarcar nesta  nau em que, mesmo em pandemia, «uns governam o leme , outros mareiam as velas»!

E, assim, e como , sempre com  carinho, me recordam os Doutores Joaquim Barbosa e Eduardo Barroso - pronto e  rápido restabelecimento meu Querido e Bom Amigo! - «a saúde é um estado transitório que não augura nada de bom». E , neste tempo de  pandemia que nos condiciona e abala, um Grande Amigo lutou, e luta, contra este vírus perturbante. Num dia recebo um telefonema dando conta que o «nosso grande Amigo Vítor» está nas urgências do Amadora-Sintra, um hospital com grandes médicos e enfermeiros(as) e com um pessoal dedicado e sempre disponível. E sei do que falo e do que escrevo! Liguei-lhe e ainda me atendeu. Estava à espera dos resultados do Covid- 19! Depois não lhe consegui falar mais. Tive notícias através de sua simpática de dedicada Esposa. Estava nos cuidados intensivos, tinha tido uma «noite má”», passou para os cuidado intermédios - uff!!! - e , finalmente, ontem uma sua mensagem: «A luta continua. Estou a melhorar!» O Vítor é um Amigo. E um Amigo é aquele que dá a mão. Nos bons mas principalmente nos maus momentos. O Vítor é um jurista de mão cheia e que dedicou grande parte da sua vida à investigação e a alguns dos principais casos da justiça de e em Portugal . O Vítor é um sportinguista vibrante e já sabe, decerto, que o seu Sporting de Rúben Amorim lidera a Liga NOS. E logo, num ano em que não vamos ter, de verdade,  um Natal normal. O Vítor, nas suas origens angolanas - que sempre  proclama com um orgulho que arrepia -, é o Chefe de uma Família que protege e ampara, que acarinha e, com inteligência, acompanha. O Vítor é de uma permanente disponibilidade e de um otimismo que contagia. Nele as palavras serenas de Helen Keller fazem todo o sentido: «O otimismo é a fé em ação. Nada se pode levar a efeito sem otimismo.» E por tudo isto, um dia destes, entrei na lindíssima Capela de São Sebastião, ali na Ericeira, e olhando para o bonito altar deixei-me embalar numa oração e rezei, sonorizando um  fundo musical de guitarra portuguesa, pelo meu Amigo Vítor .  Acredito firmemente que nos vamos reencontrar, que iremos confraternizar, que iremos brindar à vida e que chamaremos, com todas as cautelas e devida distância, o José  Eugénio, o Joaquim e o Eduardo, para um fraterno e plural convívio. Ali, na Cave que é bem Real, estarão todas as cores, diferentes paixões, sentidas emoções e uma profunda satisfação. E com a certeza que o Doutor José Eugénio Dias Ferreira já nos transmitiu que «antes confinado que finado»! É que a vida é variedade   mas tem de ser vivida. E que só a vida vivida tem sentido e vale mesmo a pena. Força meu Querido Vítor. Um abraço do tamanho do Mundo, do teu Tamanho.

E não esqueças que uma mesa espera por nós, o teu picante está guardado e que nos faltam escutar muitas estórias do teu Sporting, da tua Angola e da tua vida. Da tua intensa e imensa VIDA! Força Vítor!