Força, Benfica!

OPINIÃO09.04.201904:00

1.Força, Benfica! Faltam seis obstáculos. Somos os actuais líderes do campeonato, sem um qualquer aparvalhado à condição.  Somos a única equipa que depende de si própria para se sagrar campeã, o que lendo a generalidade dos media até parece ser encoberto pela costumeira frase «Benfica e Porto na liderança», o que é falso, pois que tendo os mesmos pontos, estão separados pelo desempate de duas vitórias encarnadas sobre os portistas. Temos a correcção político-futebolística contra nós, ou, pelo menos envergonhadamente, fazendo o discurso mole da normalidade de tudo o que se vem passando no campeonato. É, sem dúvida, uma luta difícil, para a qual importa uma concentração que não se deixe distrair por parvoíces comunicacionais de chicos,  chicos-espertos e outros cérebros da intriga e da mentira. Estas guerrilhas de comunicados pós-jogos é lamentável e, se eu decidisse pelo meu clube, deixava os outros a falar sozinhos e não alimentava o ruído que jamais beneficia quem lidera, que, outrossim, deve estar exclusivamente concentrado nos jogos.


O jogo contra o Feirense foi bem mais complicado do que o resultado final pode sugerir. Campo difícil, com uma equipa virtualmente despromovida mas que, como habitualmente sucede, se supera quando joga contra o Benfica. Decisões difíceis e polémicas da equipa de arbitragem, que inundaram, assanhadamente, os programas televisivos do costume, como se não houvesse passado e passados. Os mesmos que vociferaram contra o fora-de-jogo assinalado ao Feirense (sem dúvida, de dificílima decisão e de escrutínio)  haviam descoberto um offside de meia unha de um pé de Rafa no Benfica-Porto da meia-final da Taça da Liga. Os mesmos que acharam que a pisadela de Florentino em 2 cm da chuteira do adversário merecia penálti, entenderam que, naquela meia-final, os golos do Porto não foram precedidos de faltas grosseiras sobre jogadores do Benfica!


Uma referência ainda à enérgica reacção feirense. É que não vi tal alarido quando lá jogaram outras equipas, mesmo grandes. Por que será? E, em vez de protestaram nos fora-de-jogo, bom seria haver condições adequadas no campo para filmar e dilucidar os casos.

2.É cada vez mais previsível o tipo de  análise que se vem fazendo a um jogo de futebol, quase exclusivamente em função do resultado. O caso mais recente foi o da meia-final entre o Benfica e o Sporting. Tendo este vencido, logo se tiraram algumas conclusões: «Sporting melhor no jogo, merecido vencedor, Benfica cansado e em fase descendente, etc, etc...» Pus-me a imaginar o que seriam os comentários se Seferovic tivesse convertido uma ou duas oportunidades fáceis e Bruno Fernandes não tivesse marcado aquele magnífico golo: «Benfica superior, Sporting insuficiente, Benfica jogando o quanto baste para levar a melhor esta eliminatória, Sporting aos repelões e sem capacidade para alcançar a baliza encarnada, etc, etc...» E, se tivesse acabado 0-0, talvez pudéssemos ler ou ouvir: «Benfica cínico a poupar-se para a Liga, Sporting sem imaginação e incapaz de incomodar o adversário, etc...» Em qualquer caso, jogando melhor ou pior, o Benfica teve a eliminatória perfeitamente ao seu alcance, sobretudo na Luz em que o 3-0 esteve bem mais próximo do que o 2-1. Em síntese, Benfica 2, Bruno Fernandes 2 +, o que permite uma final tranquila e amistosa, curiosamente precedida imediatamente por um jogo mais ou menos burocrático no Dragão, na última jornada do campeonato.


Devo dizer que o Benfica deveria ter entrado para, cedo, tentar marcar um golo. Aliás, nas poucas vezes em que a equipa acelerou viu-se a relativa fragilidade da defesa contrária. É certo que houve duas ou três oportunidades para matar a eliminatória, mas nunca a determinação constante de o fazer. Depois,  a partir dos 60 minutos, foi a velha máxima: quando se joga para não perder, acontece, quase sempre, que se acaba por perder. Não alinho, porém, na ideia de uma equipa mais fragilizada do que há semanas. Qualquer equipa por melhor que seja quando está em boa forma colectiva, tem jogos menos conseguidos. Vejam-se as grandes equipas da Europa, onde isso acontece. É ou foi o caso do Man City, Liverpool, Barcelona ou Bayern.


Há um ponto com o qual, todavia, embirro, mas que, em Portugal (e não só) é frequente: a tornada compulsiva troca de guarda-redes, com o verdadeiro titular a jogar no campeonato e o suplente a ser titular nas taças e tacinhas. Falando do Benfica, saiu Vlachodimos e entrou o miúdo Svilar. Nos dois jogos contra o Sporting, não ficou isento de culpas nos dois golos de Bruno Fernandes (sobretudo no do jogo da Luz que, verdadeiramente, foi o decisivo), pese embora a excelência da execução do médio leonino. Pergunto para quê esta mania substitutiva numa posição nuclear? O que se ganha com isso? Neste caso, ainda é mais notória, para mim, a bizarria da mudança, pois que Svilar, com os seus 19 anos, não tem qualquer experiência nestes rasgadinhos dérbis. Aliás, até se tem falado que irá ser emprestado para rodar. Ora se esta intenção corresponder à verdade, um guarda-redes que irá estagiar num outro clube, estagia antes em dois jogos decisivos para a conquista de um troféu?

3.  Esta quinta-feira, joga-se para a Liga Europa. Dois jogos contra uma equipa alemã, numa fase crucial do nosso campeonato. Já aqui escrevi que, embora formal e oficialmente não se possa dizer, o Benfica deve apostar antes de tudo no campeonato. Esta Liga Europa não dá sequer dinheiro (só por via indirecta através da melhoria do ranking para a Champions), mas dá jogos a mais, cansaço quase sempre, e lesões às vezes. Claro que adoraria ver o Benfica a ganhar esta competição, a única a que, agora, os clubes portugueses podem ainda aspirar. Mas o lençol, não sendo curto, não é elástico. Por isso, se fosse eu a escolher a equipa para os confrontos com o Eintracht Frankfurt, chamaria não a equipa B, mas antes a A menos ou a B mais. Atrevidamente, seria assim: Vlachodimos, Corchia, Jardel, Ferro e Yuri Ribeiro; Fejsa, Krovinovic, Zivkovic e Cervi; Jota e Seferovic…

4.No cacharolete de alguns programas televisivos dedicados ao futebol (?), e no meu irreprimível zapping proporcionado por uma das melhores invenções das últimas décadas ao dispor no comando tv, deparei com um oráculo onde li que «João Félix pintou o cabelo». A seguir, talvez ainda se venham a lembrar que o jovem vai tratar do acne desta ou daquela maneira! Não fiquei para ver se tal novidade assim tão importante foi dissecada pelos comentadores residentes. Mas fiquei a reflectir sobre o modo como, subliminarmente, se procura desestabilizar um jogador de excelência e com grande futuro.


Não tenho de dar conselhos ao meu homónimo, mas a nossa diferença de idades leva-me a pedir-lhe para não ligar patavina a estas historietas e prosseguir, humilde e inteligentemente, o seu caminho de larga expectativa. Ele que nunca esqueça que o sucesso de hoje pode ser o fracasso de amanhã, que a fama desta semana se pode virar contra si na semana seguinte, que a fronteira entre génio e besta é menor do que a espessura de um fio de cabelo, que entre milhões e milhões de euros em notícias em catadupa, são precisos muito trabalho, dedicação e consistência. João Félix tem dado prova de que é um rapaz esclarecido e atento. Com 19 anos tem muito tempo à frente para prosseguir uma carreira de ouro, não precisando sequer de queimar etapas que, não raro, têm consequências negativas. Por isso, caro João, não se deixe nunca inebriar pela lógica mundana e de maliciosa distracção com que o querem, mefistofelicamente, seduzir.