Filosofice (ou não)
FOI Boskov (o Vujadin Boskov que só não se tornou treinador do Benfica porque o Real o desviou para Madrid - e que, depois, levou a Sampdoria à final da Taça dos Campeões que perdeu para o Barcelona de Cruyff) quem o revelou com um toque de poesia:
- O futebol é jogo imprevisível porque todos os jogos começam com 0-0.
Não, não acredito que, hoje, Sérgio Conceição não o diga (por outras palavras, certamente) aos seus jogadores (antes deles se lançarem ao desafio com o Famalicão). Devia, porém, fazer mais - e lembrar-lhes também a tirada ainda mais filosófica de um treinador brasileiro chamado Tadeu que se tornou famoso por ter afirmado o que afirmou antes de uma partida com equipa muito melhor que a sua, muito maior que a sua:
- É impossível a gente ganhar neles, mas não é difícil eles perderem com a gente.
É, é mesmo assim: é bem mais fácil uma equipa ganhar um jogo que parecia condenada a perder se quem parecia condenado a ganhá-lo desatar a perdê-lo dentro de si mesmo. Que foi o que aconteceu ao FC Porto contra o Rangers (e por isso perdeu por 1-1 - e já perdera como perdeu com o Feyenoord).
Nenhuma dúvida: no futebol, a vontade de ganhar não é o que mais importa. Vontade de ganhar todos têm (a não ser em situações anormais - quando jogadores se afunilam no bordo das suas tristes sombras ou se escondem nos seus sinuosos amuos) - pelo que, no futebol, só a vontade de ganhar é pouco. O que mais importa, pois, é a esperteza que se tiver para se procurar ganhar sobretudo o que não se pode perder. A esperteza, a classe, o caráter, o jeito. E isso (isso que o FC Porto de Sérgio Conceição já teve aos borbulhões) parece ser o que lhe vai começando a faltar, a faltar estranhamente (pelo menos nos últimos jogos da Liga Europa). E sim: se lhe faltar outra vez, esse FC Porto pode sair-se muito mal deste jogo com o Famalicão - e o Sérgio Conceição pode começar a sair ainda pior do seu futuro no Dragão.