Félix, Bruno, Herrera, cada caso é um caso

OPINIÃO01.06.201902:12

Não pretendo escolher qual dos três foi o melhor jogador do campeonato. Interessa-me, antes, o lado mais óbvio: todos eles foram decisivos nas suas equipas e, por essa mesma razão, serão os jogadores mais pretendidos no estrangeiro. Falo de João Félix, o miúdo que, de surpresa, apareceu no Benfica de Bruno Lage e maravilhou o mundo; falo de Bruno Fernandes, além de um crescimento incrível como jogador de futebol, uma grande revelação na qualidade de liderança do Sporting; falo também de Hector Herrera, o mexicano que comanda, em todos os domínios, a equipa de Sérgio Conceição.
Curiosamente, sendo todos iguais na colossal influência que tiveram, na época, nas suas equipas, são muito diferentes quanto aos seus nível de maturidade futebolística, o que por si só, ajuda a explicar a razão pela qual João Félix ainda deveria ficar, pelo menos mais um ou dois anos na Luz; Bruno Fernandes estará no auge da sua valorização no Sporting e, por isso, talvez no momento certo para sair; e Hector Herrera se encontra no limite do interesse internacional, tendo o FC Porto perdido na época passada sua última chance de fazer um bom negócio.
Dos três, há noção de que se encontram em estágios diferentes de oportunidade, por parte dos seus clubes. O Benfica tem a vantagem de ter uma situação financeira mais desafogada, até pela garantia de entrar direto na Champions, e de ter podido, assim, estabelecer uma nova política de contratações e de vendas de passes dos seus jogadores, desejando ficar com o núcleo duro dos melhores, optando, finalmente, por uma filosofia de consolidação dos seus valores e da correspondente coesão e melhoria da qualidade competitiva da equipa. É algo que os clubes portugueses há muito não têm podido fazer, algo que o Benfica, pelo menos a acreditar nas afirmações do seu presidente, já percebeu que deve garantir, seguindo a experiência muito entusiasmante do Ajax.
No limiar de uma mudança de política desportiva, o Benfica poderá ter, enfim, uma época em que apenas terá de comprar poucos mas bons e manter os mais desejados internacionalmente. O Benfica sabe que pode perder no negócio imediato, mas ganhará em valor coletivo, o que também valorizará o individual.
No entanto, é importante que se diga, o Benfica não deverá manter jogadores como João Félix para a vida. O campeonato português não tem condições necessárias e essenciais ao desenvolvimento e à maturidade de um jogador que tem todo o direito de pensar que pode atingir o topo do mundo.  
A questão de Bruno Fernandes, é outra. Com 24 anos (fará 25 dentro de poucos meses), o capitão do Sporting está num patamar ideal para ter atingido o auge da sua valorização. Ora, o Sporting, que está longe de viver em estabilidade financeira, não terá suficiente financiamento europeu numa Liga Europa que continua a ser um género da Liga dos pobres. O Sporting pode precisar de aceitar a oportunidade do negócio da venda de Bruno Fernandes, mesmo sabendo que, a acontecer, terá pela frente o tremendo desafio de ter de inventar uma nova equipa, com um novo conceito de jogo.
Enfim, o caso de Hector Herrera e do FC Porto. O capitão dos dragões tem 29 anos de idade e termina contrato. O FC Porto deixou, pois, passar o derradeiro momento em que poderia ter tirado algum proveito financeiro de uma transferência inevitável. Acrescia o facto de ter sido mais fácil encontrar um substituto para Herrera, do que achar solução para uma pepita de ouro como Bruno Fernandes ou um diamante como João Félix. Herrera sairá a custo zero e isso não pode deixar de ser considerado um erro de estratégia e de gestão. Algo correu muito mal.

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