FC Porto ganha batalha da comunicação
Dizem que a comunicação dos clubes profissionais de futebol pode ser abrasiva, pode ser intrometida, pode ser, até, influente na definição da opinião pública, mas não marca golos. Discordo. Não só, por vezes, ajuda a marcar golos, como ajuda a não sofrê-los.
Eu sei que muitos dirão que se trata de uma análise sobrestimada e por efeito de vício profissional. Não é verdade. Trata-se de uma análise realista, feita da constatação de uma experiência de anos e anos de atenção aos fenómenos que têm causas e efeitos no futebol português e que se elevam muito acima da habitual espuma das coisas que suscitam as frenéticas discussões públicas de assuntos risíveis e sem impacto na complexa realidade do nosso futebol.
A verdade é que o FC Porto está a ganhar - e por muitos - no jogo da comunicação, voltou a encontrar um padrão certo, do ponto de vista da eficácia e que, muitas vezes, é o oposto ao ponto de vista do desportivismo e da ética.
Para o FC Porto, e dentro de um realismo que é sustentado pela própria prática da vida social, política, financeira, a ética é uma treta. É chatérrima e não ganha jogos, nem influencia ninguém. O que ganha jogos - e isso o FC Porto sabe melhor do que os seus rivais - é uma política desportiva consistente, uma administração, uma equipa, um grupo à prova de bala, capaz de defender, se for preciso, o indefensável, e, last but not least, uma comunicação estruturada, com estratégia, com capacidade de intervenção funcional a qualquer momento, entendida da realidade do mundo do futebol e dos seus lugares mais influenciáveis (o que inclui obviamente a arbitragem, que continua a viver num bunker só aparentemente intacto e inacessível).
A verdade é que o FC Porto faz a agenda da discussão pública, ajuda a fazer acreditar que a sua razão é mais forte, porque os outros apenas reagem a ela, e manipula as realidades dando-lhes as cores e a imagem conveniente.
No FC Porto, sabe-se sempre quem fala, quando fala e por que fala: o treinador para as questões do jogo ou da equipa; o diretor de comunicação, para as questões da guerra e da manipulação dos acontecimentos; enfim, o presidente para as questões formais, ou para os seus pequenos momentos de indisfarçável prazer dialético.
O Sporting, por sua vez, optou por uma central de comunicação mais preparada para entender o mundo político e financeiro do que o mundo do futebol e que por isso lidará sempre mal com questões menos previstas, como a da atitude de Nani e a questão essencial da liderança interna no clube e na equipa de futebol.
No Benfica, em matéria de comunicação, e na fase pós João Gabriel, cuja importância muitos só viram depois de lá ter saído, é o primado do caos e da total incapacidade de perceber, pelo menos, onde está e para onde quer ir.
Atrevo-me a dizer que um clube com a grandeza e a dimensão do Benfica, se não levar a sério a comunicação, interna e externa, se achar que de umas vezes pode ser Varandas, de outras Vieira, de outras Vitória, a única coerência que consegue é a de termos a certeza de que alguém cujo nome começa por V irá falar. E teremos, ainda, uma outra certeza: um clube com uma comunicação errante, meramente reativa, sem estratégia, sem criatividade e sem coesão terá muito mais dificuldade em ganhar campeonatos, até porque o mundo que o rodeia nota que é frágil e ineficiente. No futebol, isso é coisa que não se perdoa ou, como diria Rui Vitória, ninguém respeita.
Tem isto alguma coisa a ver também com a excessiva expulsão de Conti ou com a fantástica e sempre otimista atitude competitiva do Chaves? Numa palavrinha, apenas: TEM!