Fátima e Tóquio
Como a devoção por Fátima nos Camarões pode dar a Portugal medalha olímpica...
MAIS do que uma questão de fé é uma história fascinante que pode acabar na sua imortalização em Tóquio (como adiante se perceberá): tendo nascido nos Camarões, sendo campeã africana por três vezes, Auriol Dongmo aventurou-se ao Facebook e lançou ao Sporting a pergunta: se o clube não estava interessado numa lançadora de peso? Não, não fora por acaso que o fizera: por ser devota da Senhora de Fátima, escolhera Portugal para o ataque ao futuro (podendo ter escolhido França) e o Sporting também não fora por acaso:
- Disseram-me que era o melhor clube de Portugal, um dos melhores da Europa no atletismo…
Mas mais: era no Sporting que estava Paulo Reis, que amigo lhe dissera ser o melhor treinador de lançamentos que Auriol poderia ter, o Paulo Reis. O destino tem caprichos assim: Paulo Reis vivia (e treinava) não longe de Fátima - para Leiria foi Auriol viver (e treinar) e logo se atirou, em devoção, ao Santuário:
- Foi incrível e maravilhoso. A fé é a coisa mais importante na minha vida, não sei se seria capaz de treinar o que treino sem o apoio de Fátima…
A pandemia afastou-a do que poderia ter sido o seu primeiro pedaço de eternidade como portuguesa nos Europeus que se anularam. Durante o confinamento fez do seu andar, centro de treinos:
- Não podendo estar com ele, o meu treinador arranjou-me barras, pesos para eu treinar em casa…
Com as competições em regresso, Auriol Dongmo tornou-se a lançadora com as melhores marcas no mundo. Mais do que o sonho de ir para além dos 20 metros, tem, quente, o sonho na medalha olímpica. No ultimo fim de semana de janeiro, saiu de Karlsruhe com o recorde de Portugal a 19,65 metros - e a razão de eu estar aqui a lembrar-lhe a sua história é para dizer que nos Mundiais de Doha (onde ela ainda não pôde estar como portuguesa) o pódio se formou assim: Gong Lijiao (China), 19.55; Danniel Thomas-Dodd (Jamaica), 19.47; Christina Schwanitz (Alemanha), 19.17…