Falta gente do futebol ao futebol

OPINIÃO02.06.202003:00

O futebol português é como aquele campo de estado civil no Facebook: é complicado. O futebol português é mesmo muitíssimo complicado, feito de demagogia, alianças, traições, chacota, humilhação, espírito de vingança e soberba. É feito de egos a rebentar pelo umbigo, falta de civismo e de solidariedade. Vivemos em guerra constante, jogamos debaixo de permanente e intoxicante cheiro a queimado. Tal como na célebre Guerra dos Tronos qualquer um dos atuais dirigentes gritaria Dracarys ao seu dragão contra a cidade,  preferindo reinar sobre cinzas a convencer almas a segui-lo. Mesmo os dos mais pequenos são aprendizes de feiticeiro. Com o futebol em risco, palavra do presidente da federação, perante uma crise que se avizinha e adivinha devastadora, e quando devíamos estar a falar de estratégias conjuntas e sólidas, como é que, mais uma vez, chegámos aqui?
Não posso passar ao lado da lição de Vítor Oliveira nas entrevistas aos vários suportes de A BOLA, bem como outras, como a de Luís Castro ou mais recentemente Paulo Bento, ou as declarações avisadas e avulsas por parte de André Villas Boas e também muitos jogadores. Sou obrigado a concluir que temos gente a menos do jogo em cargos que influenciem destinos de clubes e competições. Não basta tê-los em postos decorativos, é preciso ouvi-los, beber da sua experiência, testar as suas teorias. Não justificar que todos os jogadores devam ser dirigentes, mas sim que alguns já deveriam ter chegado ao topo da pirâmide, apesar de bastante inclinada, do futebol português. Por que há-de dirigir o jogo quem pouco ou nada deste sabe?
Olhem para o Bayern e avaliem o risco. Seja ou não bem sucedido, a formação de Oliver Kahn, antigo guarda-redes internacional, como sucessor de Rummenigge, antigo avançado, enquanto CEO, foi exemplar. Ou melhor, foi à alemã.