Falando de coisas quase mitológicas
É quase recorde: 96 golos do Benfica na Liga. A última vez em que os portugueses puderam assistir a tal vendaval ofensivo fora em 1973/74, quando o Sporting treinado por Mário Lino e com jogadores como Yazalde, Damas, Fraguito e Dinis, entre outros, chegaram igualmente aos 96 golos. Mas em apenas 30 jornadas. A diferença, porém, é mínima: 3,20 golos por jogo dos leões, 3,00 para as águias. Claro que Bruno Lage está a marimbar-se em chegar aos 100 golos. Ele quer é ser campeão nacional. Até pode bastar marcar apenas mais um golo para Lage ser campeão: 1-0 ao Rio Ave e 0-0 ao Santa Clara. Ou o inverso. Mas chegar à centena de golos seria quase mitológico, depois do também quase mitológico 10-0 ao Nacional. Só quatro equipas portuguesas chegaram aos 100 golos na Liga. O Sporting de 1946/47 (123) e de 1948/49 (100) e o Benfica de 1963/64 (103) e de 1972/73 (101). Os encarnados cavalgam numa avalancha de golos na Liga: 4-1 ao Feirense, 4-2 ao V. Setúbal, 6-0 ao Marítimo, 4-1 ao SC Braga e 5-1 ao Portimonense. Nada menos de 23 em meros cinco jogos. Impossível aproximar-se dos 123 golos dos cinco violinos, difícil atingir os 103 do Benfica dos anos 60, mas perfeitamente acessível chegar aos três dígitos. Quem tem Seferovic (21 golos na liga), Rafa (15), João Félix (13), Pizzi (12) e Jonas (11) pode sonhar com algo quase mitológico.
NÃO menos quase mitológicos são os números de Bruno Fernandes: 31 golos em todas as provas e nada menos de 19 na liga. Nos últimos 20 anos nenhum jogador português marcou mais numa edição da Liga portuguesa. Os melhores, até agora, eram Simão em 2002/03 e Nuno Gomes em 1999/00, ambos no Benfica e ambos com 18 golos. Melhor só Nuno Gomes, em 1998/99, com 24. Apenas mais dois portugueses ultrapassaram, nas três últimas décadas, os 19 de Bruno Fernandes: Cadete em 1991/92 (24) e Gomes em 1990/91 (22), ambos pelo Sporting. É quase impossível Bruno Fernandes igualar os 24 de Cadete. Teria de marcar cinco golos nas duas últimas jornadas. Mas é perfeitamente acessível chegar às duas dezenas e até igualar os 22 de Fernando Gomes. Bruno Fernandes desatou a marcar golos após a derrota em Alvalade com o Benfica (2-4), ou seja, no último jogo de Nani pelo Sporting. Saiu um mitológico de Alvalade para reaparecer, ainda em mais alta escala, o mitológico Bruno Fernandes. Um médio, não um ponta de lança. Ou antes: um mimo.
NÃO menos quase mitológica é a tarefa de Fernando Santos na Liga das Nações. O povo pede um quarteto de luxo na frente: o melhor português de sempre (Cristiano Ronaldo), o segundo português da atualidade (Bernardo Silva), o melhor jogador da Liga portuguesa (Bruno Fernandes), a maior esperança portuguesa dos últimos anos (João Félix). Porém, entre aquilo que o povo pede e as ideias do selecionador nacional poderá haver grande diferença. Este quarteto de luxo marcou nada menos de 91 golos esta época pelos respetivos clubes: Bruno Fernandes (31), Ronaldo (29), João Félix (18) e Bernardo Silva (13). Mas quem defenderá se este quarteto jogar junto de início? O melhor mesmo é pensarmos que este quarteto se transformará num trio.