Europa e Liga

OPINIÃO14.02.201903:00

NIM no arranque de regresso à Europa: FC Porto derrotado em Roma; mas bastando-lhe 1-0 em sua casa para entrar na elite de quartos de final da Champions. Valeu o golo mais surpreendente, porque de Adrián… Elogio FC Porto do último quarto de hora, reagindo a súbito 2-0 com personalidade no ímpeto ofensivo; e lá para dentro saltaram todas as reservas com baliza nos olhos: Adrián, André Pereira, Hernâni.
Hoje, terão a palavra Benfica e Sporting. Em casa do 2.º na Turquia, que Benfica sem Jardel, Fejsa, Grimaldo, Pizzi e Jonas?! Sobretudo, que robustez defensiva, recorrendo a jovens inexperientes, Ferro e Yuri Ribeiro? Em Alvalade, absoluta obrigação de triunfo sportinguista face ao Villarreal por Keizer cotado como «muito boa equipa», sendo penúltima na Liga espanhola! Olha se estivesse a meio da tabela…
Imediato regresso à nossa Liga, com estes aliciantes de topo: Benfica no território de Aves revitalizado por Augusto Inácio; e… Sporting-SC Braga, para ambos importantíssimo! Diferença reduzida na perseguição ao 3.º - logo, aumentada na luta pelo título/2.ª posição… -, ou bracarenses ultrapassando teste de fogo, de vez dando cabo da melancólica juba pouco leonina?

CHALANA. Para mim, e com zero de hesitação, o 2.º mais genial futebolista português que vi, depois de Eusébio (antes de Ronaldo vir complicar estas apreciações). Puríssima ARTE. Incrível magia num corpo franzino, requintes de técnica e de visão do jogo, delírio de imaginação criadora entontecendo adversários com panóplia de dribles saindo-lhe como lhe dava na gana, pela esquerda, pela direita, ou com túneis… Extremo-esquerdo de base, jorrava talento por toda a frente de ataque. Senhor de poderoso trunfo como não me lembro de ver, antes e depois dele:  dito esquerdino, usava o pé mais à mão, pois o direito pedia meças ao outro (enganador de guarda-redes, marcou penáltis com o direito). Em 2000, porque final de século, publiquei a minha Seleção de portugueses em 40 anos a ver futebol: Vítor Baía; João Pinto-Germano-Humberto-Hilário; Rui Costa-Coluna; Figo-Eusébio-José Águas-Chalana. Apesar de enormes extremos-esquerdos como Simões e Futre…
Fernando Chalana não pôde fazer a grande carreira internacional que tanto merecia. Espetaculares exibições no Europeu de França-84 (maestro do nosso 3.º lugar - sem esquecer alto nível de outros, vide ponta de lança Jordão, guarda-redes Bento, defesa-direito João Pinto) foram trampolim para o forte Bordéus de então (com a verba da transferência, Fernando Martins concluiu 3.º anel da Luz). Mas grave lesão em França - e com sequelas que o levaram para rápido ocaso. Seguindo-se martírios na sua vida pessoal. Noutro plano, martírio volta agora a atingi-lo, aos 60 anos. Desejo que, vendo a homenagem benfiquista na Luz, Chalana tenha podido sorrir.  

PERES. Deixou-nos, no início desta semana, outro virtuoso da bola, com resplandecente pé esquerdo e olho clínico a desmarcar colegas. Bicampeão no Sporting, campeão no Brasil (Vasco da Gama). Um dos ilustres Magriços -geração de ouro! - conquistadores do 3.º lugar no Mundial-66, nunca perdoou a Manuel da Luz Afonso (selecionador) e Otto Glória (treinador) não ter jogado algum dos 6 desafios dessa epopeia. Não havia substituições e, para entrar Peres, extremo ou médio do lado esquerdo, teriam de sair Simões ou capitão Coluna - meio-campo e ataque da mais brilhante equipa do Benfica: Jaime Graça (V. Setúbal, mas já de malas feitas para a Luz) e Coluna; José Augusto, Eusébio, Torres, Simões.


Fernando Peres, talento com forte personalidade rebelde (algumas vezes por isso tramado). Nos anos 70, antes do 25 Abril, o Sporting proibia que entrevistas a seus jogadores fossem publicadas sem prévia leitura de um dirigente (à falta deste, esporadicamente, o treinador). Quando o Chefão Vítor Santos começou a marcar-me tais entrevistas - e seriam muitas -, jornalista em início de carreira, mas com certezas de ética, recusou ir à censura. Solução: entregava o texto aos entrevistados e eles que tratassem disso. Uma tarde, em Alvalade, esperando que o Fernando Peres me devolvesse a entrevista, oiço berreiro danado entre ele e o censor; o Peres, em fúria: «Era o que faltava, eu não poder dizer isto! Digo, repito, e não admito que seja cortado!» E o que é que o craque Fernando Peres não poderia dizer? «Eusébio é o melhor jogador português»…


Fernando, não pudemos repetir o nosso abraço de há pouco mais de um mês.