Estrelas!

OPINIÃO24.06.202206:55

Recordações e boas emoções a propósito dos 20 anos da Academia do Sporting

OS 20 anos da Academia do Sporting Clube de Portugal - popularizada como academia de Alcochete - não podiam deixar de ser assinalados com a pompa e a circunstância com que os responsáveis leoninos o fizeram, e bem, e excluindo o lado menos feliz (para não lhe chamar outra coisa) de umas certas declarações do presidente Frederico Varandas, o aniversário da academia foi, na realidade, vivido com as memórias, as emoções e as recordações que se impunham.

Um momento, porém, creio ter mais sido especial do que qualquer outro, não me leve a mal o meu querido Aurélio Pereira, figura incontornável do futebol português, do Sporting, e do futebol de formação leonino em particular, que nunca me cansarei de elogiar, pelo caráter, pela bondade, pela inteligência, pelo invejável sentido de humor, que fazem dele, na verdade, pelo menos na parte de reconhecimento que me cabe, uma das melhores pessoas que conheci no futebol.

E não me levando a mal Aurélio Pereira (irmão desse outro senhor do futebol que dá pelo nome de Carlos Pereira, antigo internacional português, defensor de emblemas como os do Sporting e do Belenenses), a verdade é que me tocou especialmente o momento em que José Manuel Torcato fez questão de se dirigir a todos os jovens aspirantes a futebolistas no Sporting.

José Manuel Torcato é um antigo dirigente leonino (impossível não nos lembrarmos da dupla que formou com outro grande nome do Sporting, o saudoso Manolo Vidal, que nos deixou há dez anos) daqueles dirigentes e homens à moda antiga, para quem a palavra, a dignidade e a honra são tudo, e daqueles que sabem que se o sucesso pode vir de alguma arrogância, a grandeza virá sempre da humildade!

José Manuel Torcato e Manolo Vidal lideraram o futebol profissional dos leões e foram campeões em 1980 com o presidente João Rocha, voltaram para ser campeões em 2000 quando Luís Duque, braço direito do presidente Roquette, os chamou, e ainda foram campeões em 2002 já com o presidente Dias da Cunha.

No fundo, as palavras de José Manuel Torcato neste aniversário dos 20 anos da Academia leonina terão sido, porventura, o momento de maior, mais sentido e emocionado sportinguismo. Foram as palavras de um homem que parece ter sabido sempre que tendo o futebol caminhado para ser o que é hoje, uma indústria empresarial com brutal peso financeiro, nunca pode deixar que se confunda a gestão empresarial com a essência das emoções e da paixão, sem a qual o futebol perde todo o verdadeiro sentido.

Pude, entretanto, ler e ouvir lamentar-se a ausência de uma figura como Cristiano Ronaldo - que dá, oficialmente, nome à Academia sportinguista e é, naturalmente, o esplendor na relva da formação leonina - nesta passagem dos 20 anos sobre o nascimento da «fábrica de talentos» construída em Alcochete.

Com todo o respeito pelas diferentes opiniões, recordo que bem ‘mais ausentes’ estiveram, a meu ver, estrelas como Paulo Futre ou Luís Figo (e nem sei se foram, ou não, convidados), eles que não são, já, jogadores profissionais de futebol, ao contrário de Cristiano Ronaldo, que está sob a tutela profissionais de uma entidade patronal, com o peso, ainda por cima, do Manchester United.

Ou seja, uma coisa seria, por exemplo, a presença de Cristiano Ronaldo num qualquer evento de solidariedade, tão amplamente justificado que quase nem precisaria de explicações ao Manchester United; outra coisa, bem diferente, foi o que esta semana levou o Sporting a elevar o momento de celebrar os 20 anos da sua Academia - não se tratou de uma iniciativa solidária, mas de um ato oficial do clube leonino.

Sendo o aniversário da academia, celebrava-se, mais do que a academia, a escola de formação do Sporting. E Paulo Futre ou Luís Figo, mesmo não sendo ambos ‘fruto’ da Academia de Alcochete, são dois outros esplendores do futebol de formação do clube, e não têm hoje que dar satisfações a ninguém sobre as suas vidas. Dir-se-á que Futre foi formado no Sporting, mas se tornou estrela longe de Alvalade. Sim. A verdade é que Paulo Futre nunca escondeu - muito pelo contrário - o seu amor pelo emblema do leão. E Luís Figo é só um dos dois Bolas de Ouro nascido e criado no ‘berço verde e branco’. Ninguém os convidou? Isso será outra história.

Quanto a Cristiano Ronaldo, ninguém o pode acusar de esquecer o Sporting ou de nada fazer para o distinguir, e creio que nem valerá a pena lembrar o sportinguismo vibrante da senhora, mãe de Cristiano, a sempre empolgante Dona Dolores, bem como do mais velho dos filhos de CR7, Cristianinho, sempre que pode, visivelmente orgulhoso por vestir a camisola leonina.

Faz tudo isso muito mais pelo Sporting do que a (compreensivelmente improvável) presença de Cristiano Ronaldo nos 20 anos da ‘casa de talentos’ do Sporting Clube de Portugal. Mais: aposto que o futuro do Sporting passará inevitavelmente por Cristiano Ronaldo. Mais tarde ou mais cedo. Como investidor, presidente ou outra coisa qualquer. Veremos se me engano.
 

PARECE ter o Benfica tido, e se a teve, teve-a bem, a perceção de que seria desportivamente importante, e politicamente fundamental, conseguir contratar o jovem talento argentino que é Enzo Fernandez, sobretudo depois de ter perdido para os alemães do Eintracht de Frankfurt a corrida pelo talento germânico que é, inquestionavelmente, o campeão do mundo de 2014, Mario Göetze.

O confirmado acordo com o River Plate e Enzo Fernandez - mesmo admitindo que o jogador chegue a Lisboa mais tarde do que o Benfica desejaria - deve, naturalmente, ser visto sempre como uma operação extraordinária do staff do futebol da águia, naturalmente com o presidente Rui Costa e o diretor desportivo Rui Pedro Braz à cabeça, porque se estarão (e estão) sempre sujeitos à crítica, também nunca se deve deixar de dar o mérito a quem realmente o tem.

O que começa a ter a sua graça é esta espécie de ‘campeonato das transferências’ (e contra mim falo, como jornalista, evidentemente…) com que um certo ‘circo mediático’ faz questão de se alimentar e ir alimentando o que, porventura, alguns julgarão ser a pacífica, ou talvez mesmo acéfala, plateia de consumidores do futebol.

Resumindo: se um clube (Benfica ou outro) compra é porque compra; se não compra é porque não compra; se vende caro é porque vai receber pouco; se vende barato, é porque não sabe negociar; se compra caro devia comprar mais barato, e se compra barato é porque o jogador, hum, não deve ser lá grande coisa!

A propósito, volto a Cristiano Ronaldo para lembrar o que já li e ouvi (eu e o leitor, certamente), apenas desde que terminou a época.

Primeiro, que o Man. United o queria despachar. Depois, que não encaixaria no novo projeto, e o novo treinador, Erik ten Hag, não contaria com ele para a ‘revolução’ a fazer na equipa. A seguir, ten Hag veio publicamente assumir não prescindir, afinal, dos golos de Ronaldo (bem me queria parecer que ninguém prescinde de quem faz, mesmo aos 37 anos, qualquer coisa como 30 golos numa época fraca)… Agora, já é Cristiano Ronaldo que vai decidir se fica ou não em Manchester (foi, confesso, o que sempre me pareceu). Por fim, podemos ler que o Bayern, imagine-se, estará a preparar uma ‘bomba’ de mercado, apontando à contratação de Ronaldo para o lugar de Lewandovski. Este Cristiano ainda faz, e de que maneira, mover o ‘circo’. Essa é que é essa!
 

NÃO foi há muito tempo que Lionel Messi, outro rapaz importante no futebol, fez publicamente uma espécie de pequeno balanço - sobretudo das dificuldades - desta primeira época em Paris, para onde se mudou (deixando, talvez, o coração para trás...) no verão de 2021.

«Depois de tanto tempo no mesmo lugar... Nunca seria fácil, com a idade que tenho, porque uma coisa é fazê-lo mais jovem, ou por termos realmente vontade de mudar. Naquele momento, eu não queria mudar, e não o imaginava, sequer, mas vi-me forçado a decidir, e a verdade é que foi um ano difícil. Tinha tudo em Barcelona. Fui para lá muito novo. Vivi mais em Barcelona do que na Argentina e estava muito bem. Nunca tinha pensado mudar.»

 «Além disso, estava habituado a uma maneira de jogar. No Barcelona, os meus companheiros já me conheciam há anos, jogava com eles e já me conheciam de memória. Em Paris, foi tudo novo para mim», disse Messi nesta entrevista concedida ao canal de televisão argentino, TyC Sports. Para agravar, Messi diz ter enfrentado mais dificuldades ainda ao testar positivo à Covid-19 no início deste ano. E confessou ter-se ressentido bastante da doença.

«A verdade é que me deu muito forte. Fiquei com sequelas nos pulmões. Não conseguia treinar. Voltei e estive um mês e meio sem poder correr porque tinha os pulmões afetados.»

É Messi quem o diz, não sou eu. Talvez alguns, mais ‘iluminados’, possam agora compreender melhor como nunca deveriam ter dito que «a Covid foi igual para todos». Não foi.

E houve quem pagasse um preço alto. Talvez demasiado alto.