Estamos numa fase ‘sui generis’
O Sporting atravessa um momento raro. A assembleia-geral de 23 de junho constituiu uma ocasião histórica e exuberante de viragem, que nos lançou, assim o desejamos, numa era de transição a caminho da normalidade. A militância não meteu fim-de-semana, nem foi para a praia saborear o calor intenso que se fazia sentir. O sol não compareceu muito tentador, incitando à desmobilização. Os elementos pareciam querer tomar o partido da abstenção. Mas o amor ao Sporting falou mais alto do que a elevada persuasão do astro rei. O clube reclamava a nossa presença urgente e nós fomos lá dizer presente. Um dia lá mais para diante, mais separados que estejamos do fenómeno, com aquele distanciamento que se recomenda aos historiadores, valerá a pena analisar, com detalhe e pormenor, a relevância daquele dia e os sinais que emitiu para o país inteiro. Um país que, dias e dias a fio, ia assistindo, entre o atónito e o apreensivo, às várias manifestações grotescas de prepotência, de pesporrência e de desagregação, profusamente veiculadas pela comunicação social e assim servidas, constantemente, à cidade e ao mundo. No dia 23 de junho tivemos um fresco de democracia em estado puro. A legitimidade do voto fez valer a sua pujança e a maioria ditou o caminho mediante um exercício muito desafiante e exigente, ou não tivesse sido levado a cabo em circunstâncias tão adversas. É caso para dizer que custou, mas foi. A destituição do Conselho Diretivo colocou-nos numa situação que, não sendo inédita é, felizmente, muito inabitual. Dá-se o caso de ser uma Comissão de Gestão a definir o essencial de (pelo menos) a próxima época futebolística. Cabe-lhe escolher o treinador e tratar do plantel, assim como prover a todas as necessidades associadas à busca do sucesso. A Comissão tem uma missão espinhosa, a desenvolver em tempo curto, mas dotada de enormíssima relevância. Enquanto a fisionomia do plantel se vai dando a conhecer, o rosto do treinador já foi desvendado: José Peseiro. Trata-se, em minha opinião, de um treinador muitíssimo competente e capaz. Para sua e nossa desdita ficou associado àquela semana funesta, na qual alimentámos um mirífico par de sonhos em foram de títulos, postados, ali, à mão de semear, caindo, depois, na amargura e no desapontamento, por força de dois cruéis e consecutivos resultados negativos. Foi um momento traumático e, como o são todos estes reveses, difícil de digerir. Mas bem sabemos que os maus resultados acontecem no futebol, onde esperanças fundadas passam, num fósforo, a afundadas mesmo com os mais exornados e mais pintados. Que o digam, para já, a Alemanha, campeã do Mundo, a Argentina, sua Vice, Portugal, campeão da Europa e a Espanha, recente campeã da Europa e do Mundo. Podemos conjeturar, podemos prever, podemos até agoirar. Mas nenhuma das atividades trará sorte ou virtude. José Peseiro é um treinador de indiscutível qualidade e um digno depositário dos destinos da equipa. Foi escolhido e contratado e agora terá de ser assumido a apoiado. Assumido, salvo melhor opinião e desde logo, pelos candidatos à presidência. Não parece saudável nem viável que, uma vez realizadas as eleições, se tenha como objetivo a rotura com o técnico. Não podemos estar sistematicamente a acrescentar instabilidade a um tecido tão fustigado pela agitação. Uma vez assumido o novo treinador, deverá ser apoiado, mesmo por aqueles que teria optado por outra escolha. No futebol não há unanimidades. Cada cabeça dá a sua sentença. Uma vez feita a escolha devemos convergir em torno da opção feita. E se isto é sempre assim, mais se justifica no presente. Estamos ainda algo combalidos a ressacar da intensa confrontação interna que vivemos. A unidade é mais necessária do que nunca.
Notícias da auditoria: a bem da verdade
A Comissão de Gestão anunciou, entretanto, a realização de uma auditoria forense. Concordo plenamente com esta iniciativa. No rescaldo dos acontecimentos vividos no passado recente é fundamental que nos seja dita a verdade sobre a situação do clube. Já disse e repito-o agora que não concordo com qualquer ímpeto do tipo de uma caça às bruxas. Mas a auditoria é essencial. Uma auditoria feita com objetividade, rigor e independência, visando um objetivo vital: que saibamos a verdade. A verdade sobre a situação económica e financeira; a verdade sobre a vertente patrimonial; a verdade sobre os compromissos e os encargos; a verdade sobre tudo. É sobre a verdade que poderemos construir o futuro e não com os famosos castelos no ar ou com a demagogia poluente. É para isso que as auditorias devem servir. Conhecer e esclarecer a realidade para poder informar os sócios e habilitar à tomada das opções adequadas. O esclarecimento é capital. Claro está que, caso se descubra algo merecedor de participação disciplinar ou de outra índole - e só neste caso -ela deverá ser feita. Foi sempre esta a posição que assumi. Mas o que compete à Comissão de Gestão é clarificar e revelar. As campanhas eleitorais são sempre propensas à generosa prodigalidade das promessas, pelo que a manutenção dos pés na terra será de todo aconselhável. Ficaremos a aguardar o desenvolvimento deste dossiê.
As emoções do futsal
Encaixado entre o França-Argentina e o Portugal-Uruguai tivemos o grande jogo do dia. A vitória sobre o Benfica constituiu mais um momento memorável desta saga de vitórias com que vibramos intensamente. Uma vez mais estivemos em desvantagem o que, no final, só dá mais sabor ao sucesso. Depois houve festa e houve civismo. Glória aos vencedores e honra aos vencidos. Envio uma enorme felicitação a todos e a cada um dos responsáveis por mais esta tarde em cheio, a qual, além do mais, ajudou a amenizar o prematuro regresso da nossa Seleção.
‘Last but not least’: parabéns ao Sporting, muitas felicidades e muitos anos de vida
Na fita do tempo completámos mais um ano de existência. Desta vez não houve ensejo para que festejássemos junto e em grande, tal como o homenageado o mereceria, esta data que nos diz tanto. Cada um de nós terá feito a sua celebração pessoal, à base de recordações de um passado cheio de glória e de votos de um futuro pletórico de conquistas. Renovámos os votos de fidelidade e de empenhamento, disso estou seguro. Parabéns ao Sporting. Parabéns a todos nós que o fazemos único na sua grandeza.