Esta década é do Benfica
O Benfica deu dois passos muito importantes na última sexta-feita para a conquista do seu sexto campeonato nos últimos sete anos. O primeiro consistiu na derrota caseira do FC Porto com o SC Braga - a primeira em quinze anos. O segundo passo foi a vitória em Alvalade, onde o Benfica não perde para o campeonato há oito épocas. Contas feitas no final da 1.ª volta, a vantagem de sete pontos sobre o FCP numa liga tão desequilibrada e pouco competitiva como a nossa é bem capaz de ser irreversível. Por dois motivos mais ou menos óbvios. Primeiro: o FCP tem andado a jogar pouco e não dá sinais de retoma. Segundo: o Benfica ganha todos os jogos mesmo quando não joga bem e contra isso não há nada a fazer. Reparem que estando o futebol encarnado muito longe do padrão de excelência exibido entre janeiro e maio do ano passado, o Benfica, não obstante, completou a primeira volta com 48 pontos em 51 possíveis, ou seja, 16 vitórias em 17 jogos! Um registo fenomenal que poderia levar um adepto mais distraído a pensar que temos por cá uma espécie de Liverpool à portuguesa. Nada mais falso, como se sabe: tirando a grande exibição no Bessa (4-1) contam-se pelos dedos de uma mão os triunfos do Benfica alcançados com exibições categóricas e futebol de encher o olho. A equipa tem jogado q.b. e a verdade é que o lastro de campeão, a rotina de ganhar e um plantel valioso para a realidade nacional mostram-nos que este Benfica chega perfeitamente para as encomendas caseiras. A exceção foi o jogo com o FCP na Luz, mas nem isso foi uma grande exceção porque o FCP, como se sabe, ganha muitas vezes na Luz. O próximo FC Porto-Benfica no Dragão, a 9 fevereiro, pode ajudar a esclarecer dúvidas. Há quem considere que é muito cedo para se falar em favoritismos (faltam 17 jornadas e há 51 pontos em disputa), mas parece-me muito razoável considerar que, não perdendo no Dragão, dificilmente o Benfica deixará fugir o campeonato. Ou seja, a luta só ficará mais renhida se o FCP vencer o Benfica e assegurar a primazia em caso de empate final.
Que o Benfica se substituiu ao FC Porto como poder dominante no futebol português - nos relvados e fora deles - não é novidade nenhuma. Como se pode ver na peça em anexo, o clube lisboeta pôs ponto final à vincada hegemonia portista (que atingiu a máxima expressão entre 1990 e 2010) nos anos da era Jorge Jesus e vai terminar este decénio com mais troféus que o rival (está com vantagem de 16-11), independentemente do que acontecer até ao final da época. Em termos domésticos é inegável a superioridade benfiquista (cinco campeonatos nos últimos seis anos), como é inegável que o Benfica vai claramente à frente dos rivais em receitas, assistências médias, formação, expansão e rentabilização da marca, capacidade negocial no mercado de transferências, influência e poder de mando nos centros de decisão. O único aspeto em que o FC Porto continua a ser claramente superior ao Benfica (e ao Sporting) é nas competições europeias, nomeadamente na prova-rainha (Liga dos Campeões), onde o FCP é há muito, de facto e por mérito próprio, a única equipa portuguesa com cara de grande - o currículo internacional portista não admite comparações a nível doméstico.
O desluzido desempenho benfiquista no modelo Champions é, aliás, a grande fraqueza do consulado vieirista (em 15 participações, 5 passagens contra 10 eliminações na fase de grupos; em 106 jogos, 37 vitórias contra 44 derrotas; e balanço negativo também em golos: 115-147). Pese embora uma meia-final e duas finais perdidas na Liga Europa (sempre com Jorge Jesus), esta é uma pecha difícil de aceitar pelos adeptos de um clube que foi dos maiores da Europa nos anos de Eusébio. É isso que continua a faltar a Luís Filipe Vieira ao fim de 17 anos. Fazer do Benfica uma equipa com estofo de Champions. Veremos se é esse o próximo passo. É mais que tempo.