Enzo Bonito
Enzo Bonito, italiano de 23 anos, venceu uma prova de automóveis, a Race of Champions, na Cidade do México, no passado fim de semana. Ninguém quereria saber disto (eu seguramente não), contudo acontece que Bonito bateu Lucas Di Grassi, ex-piloto de F1 atualmente na Fórmula E, e ainda Hunter-Reay, que vencera três Indy 500. E então? Ora bem, Enzo Bonito nunca tinha competido em provas reais, é só um campeão de e-sports, com carreira sentado num banco, com volante e pedais a sério, sim, mas em frente a um ecrã e disputando corridas simuladas. Foi a primeira vez que tal aconteceu: um piloto da ficção venceu pilotos da realidade. Começa-se a redefinir fronteiras.
Na verdade, isso do real tem - ou não andassem filósofos a discuti-lo há milénios - bastante que se lhe diga. Ainda anteontem ouvi num 90 segundos de ciência, da Antena 1, Diana Prata, investigadora do Instituto de Biofísica e Biomédica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, apresentar projeto que procura concluir de que forma o nosso cérebro interpreta choros e risos falsos e verdadeiros. Admite-se no estudo - o que me parece interessante - que a nossa reação possa até ser mais verdadeira a estímulos falsos, pois esses colocar-nos-ão num estado intensificado de alerta, esforço e concentração a fim de produzir uma reação.
A respeito de mentalização na preparação para tarefas, já agora, gosto de recordar história do soldado americano torturado durante anos no Vietname, privado de tudo. Quando libertado, animalesco, uma das primeiras coisas que fez no regresso a casa foi jogar golfe, tendo surpreendido os amigos com a aptidão preservada, pois para manter a sanidade durante o cativeiro todos os dias se imaginava a jogar, pousando a bola, ritualizando gestos, visualizando tacadas. Imaginou tanto que treinou. E alguém ainda fica assim tão surpreendido com o feito de Enzo Bonito?