Entre o croquete e o courato!...
ENQUANTO o debate se situar ao nível do croquete e do courato o Sporting não vai a lado nenhum. Trata-se de uma questão de paladar e, em consequência, cada um come do que gosta, não esquecendo que há pessoas, como é meu caso, que gosto das duas coisas. A discussão é ridícula e estúpida, não ajuda a resolver problema nenhum e só contribui para uma desunião sem sentido. O Sporting Clube de Portugal precisa, particularmente no momento que atravessa, de todos os sócios e adeptos, isto é, daqueles que antes e depois do jogo, vão à rulote comer a bifana ou a sandes de courato, e beber uma cerveja por um copo de plástico, como precisa dos que se deliciam com croquetes antes e durante do jogo, para depois jantarem ou cearem no Gambrinus ou similar!
O debate dos verdadeiros problemas do Sporting, alguns dos quais envolvem a sobrevivência, deve ter um discurso pautado pela verdade, a humildade e a competência por contraponto à mentira, à arrogância e à incompetência!
E do discurso deve também ser afastada a expressão escumalha, no sentido figurado de grupo considerado de baixa condição moral, cultural e social, vulgo ralé. Na verdade, antigamente a identificação do que era a escumalha era coisa mais ou menos pacífica, porque, normalmente, escumalha era realmente gente de baixa condição social e cultural. Era assim que designávamos, por exemplo os carteiristas e os burlões vulgares que se encontravam no metropolitano ou nos cafés. Hoje, a escumalha já se expandiu e abrange pessoas de alta condição social e cultural, ao ponto de às vezes ter pena do que faz um pequeno assalto a um supermercado e ter o maior desprezo e revolta pelos políticos e banqueiros que, não obstante a sua elevada condição social e cultural as põem ao serviço da sua baixa condição moral. Esta baixeza moral já atingiu os órgãos de soberania o que é preocupante. Pode não ser escumalha, mas, no mínimo, são a fina flor do entulho!...
Ocorreram-me estas considerações no momento em que, com surpresa - se é que alguma coisa ainda me surpreende - vi na primeira página do jornal Expresso uma chamada de atenção para uma entrevista na página 35 do Vice-Presidente do Sporting Clube de Portugal para a área financeira, Francisco Salgado Zenha, onde se destacava a seguinte afirmação: “Quando chegámos, o Sporting era uma rulote”!
Admito que o Dr. Zenha desconheça que, no mundo do futebol, quando nos referimos a rulote, estamos a falar daqueles atrelados equipados para a confecção ou venda de alimentos e bebidas, como sejam os tais couratos, bifanas ou cervejas. Não posso, no entanto, admitir que o Dr. Zenha alguma vez ou em qualquer circunstância compare o Sporting Clube de Portugal com uma rulote. É de muito mau gosto e revelador de quando se candidatou não fazia minimamente ideia do que é o Sporting, ao contrário do que apregoava o seu leader que conhecia tudo e todos, incluindo, a alegada casa das máquinas, que afinal era uma rulote, sem máquina nenhuma porque é um atrelado! Julguei que o Dr. Zenha se tinha candidatado conscientemente e afinal caiu de pára-quedas, não no Estádio José Alvalade, mas no final do Campo Grande entre couratos e bifanas.
Não, Dr. Zenha, quando chegou, o Sporting não era uma apenas uma rulote à volta qual se juntam os adeptos que vivem o Sporting com paixão e que ao fim e ao cabo, aqui, como em qualquer lado, enchem os estádios de futebol. Espero, de resto, que com este discurso, e outros do mesmo teor, não tenhamos qualquer dia mais gente junto das rulotes que dentro do estádio, com ou sem sapatos! E digo mais: se, quando sair levar as rodas debaixo dos pés, deixe ficar o corpo da rulote, porque nós trataremos dela com o mesmo esforço, dedicação e devoção!
De resto, se o Dr. Zenha quer comparar a gestão da rulote com a gestão que tem feito, bem faria que não o fizesse publicamente, porque é capaz de ficar a perder. Problemas de tesouraria não me parece que tenham; também não me consta que, de um dia para o outro, despeçam o homem que faz as bifanas ou tira a imperial, sem ter alternativa; também acho que não rasgam o contrato com os fornecedores dos couratos, sem que tenha um plano B. Ou seja, não fazem aquilo que o senhor fez quando despediu o treinador ou «rescindiu o contrato com quem estava a assessorar a recompra da dívida a desconto». Para não dizer que o dono de uma rulote é capaz de saber que o haircut de uma dívida directamente com a banca não é normalmente possível a não ser que seja feito através de processos especiais de revitalização, por exemplo.
E não quero dizer mais nada por ora face a uma tão leviana imagem que só o diminui. Com efeito, ou assumiu um cargo desconhecendo completamente para onde ia ou então não consegue gerir a rulote, porque não está sequer preparado para vender sandes de couratos ou encher copos com cerveja.
Compreendo, no entanto, a imagem da rulote: confiando no alegado domínio e conhecimento da situação por parte do médico do futebol do clube, tornou-se num atrelado na área financeira!...
‘O tempora, o mores’
EENQUANTO nos entretemos a revistar sapatos e a dirimir conflitos gastronómicos, os nossos rivais discutem Teorias e Palpites nome curioso dado a uma sociedade do ramo imobiliário de que são sócios José António dos Santos e uma filha de Luís Filipe Vieira. A ela se refere Adão e Silva, um brilhante comentador político e desportivo, assumidamente benfiquista, mas sem cartilha. Antes fosse ele a definir o conteúdo das cartilhas, e o ambiente seria certamente outro!...
Na sua coluna do jornal Record refere, com fundamento, que José António Santos, detém desde 2017, 12,7% da SAD benfiquista, por haver adquirido as posições da Somague e do BES por três milhões de euros e assim poder encaixar com a OPA «uma mais-valia colossal»!
Esclarece ainda que não pode ser ignorado o facto de Luís Filipe Vieira, directa ou indirectamente, ser sócio daquele, o que sugere «um insustentável conflito de interesses».
Não relevo este conflito para o comparar com o conflito dos croquetes e dos couratos, mas antes para pôr em relevo o que é, e o que era, o dirigismo desportivo. Antigamente, os conflitos de interesses dos dirigentes eram com os seus familiares mais próximos, que muitas vezes se sentiam prejudicados material e afectivamente pela dedicação desinteressada ao clube; actualmente, os conflitos de interesses são com o clube, que, sem prejuízo da proteção e promoção social que dão aos seus dirigentes, ainda são prejudicados pelos negócios em beneficio dos próprios e dos seus familiares.
É por estas e por outras que eu acima me interroguei sobre quem é afinal a escumalha?