Entre Mourinho e Rúben Amorim
Será que as mesmas palavras, repetidas ‘ad eternum’, ainda são eficazes?
QUANDO um treinador comunica numa sala de imprensa, a mensagem pode ser direcionada para um ou vários recetores, dentro ou fora do seu grupo, e influenciar bem mais do que este(s), mesmo que não intencionalmente. Ser capaz de mexer com os rivais, os próprios jogadores, restantes agentes e o ambiente de um encontro a seu favor é arte de poucos. Mourinho teve o dom anos a fio e apenas terá começado a perdê-lo quando um Guardiola irritado virou o jogo: «Aqui, ele é o puto-jefe, o puto-amo, mas responderemos em campo.» Lembram-se? Pep ganhou o balneário, o jogo e a batalha. Até aí, Mou tinha sido genial a retirar a pressão dos atletas, a transformá-los em super-heróis e a massacrar os adversários. Depois, devorado pelos próprios fantasmas, tornou-se no anti-Guardiola, um eterno vilão, o treinador hiperdefensivo que ataca os árbitros e os próprios jogadores quando perde, o que passou a acontecer mais vezes. Mourinho tem de redescobrir o seu caminho!
Rúben Amorim é um comunicador hábil. Manteve um discurso coerente, que protegeu o máximo que conseguiu o grupo, a responder bem mais do que lhe exigiam no início, e nunca incendiou os rivais. A questão aqui é o contexto: será que as mesmas palavras, repetidas ad eternum, ainda são eficazes? O receio agora estará no pior a emenda do que o soneto, sem saber se é ou não o momento para inflexões no discurso - só o técnico, que convive com os atletas, o saberá -, a fim de que a equipa sprinte definitivamente para o título. Se este ainda não passou, Amorim não pode esperar muito mais tempo para dizer, não que é candidato, porque isso todos sabem, mas que faça chuva ou faça sol o Sporting vai ser campeão. O risco existe, mas ser um pouco do bom Mourinho no meio do bom Amorim que tem sido pode ser o passo que falta.