Então? Assim é que é!
Éder, hoje um nome de quem já ninguém se lembra e que tanta fama e dinheiro deu a seus colegas...
COM a indesejada visita cá em casa de um chamado vírus COVID que, afirmando ser nosso amigo, entrou, abraçou-nos e cá nos tem andado a embalar acaloradamente e lacrimejante. Procuramos estar bonzinhos para escrever esta prosa que, aliás, deve ser lida ao longe por causa do contágio e para que o nosso director (que está sempre Bonzinho) não nos trate à Fernando Santos, e Queirós toca a fazer companhia a Ronaldo no banco, o qual nunca foi tão bem chamado de assento dos réus.
Mas vamos ao prato do dia, da semana e com desejo que seja o prato da casa. A vitória imperial da Selecção de Todos Nós sobre os queijeiros da Suíça, a lição de cátedra com elevação aos Céus do seleccionador Fernando Santos, a descida aos infernos por parte de Cristiano Ronaldo e o primeiro passo importante para Gonçalo Ramos apresentar credenciais para ser mais uma estrela na constelação das estrelas mais reluzentes.
Mas não nos armemos em arco de festa, pensando que ser campeão do mundo é só virar a esquina e apanhando o Tite distraído. Tudo o que está a acontecer a clubes, associações, selecções e astros (alguns fundidos) seria de prever desde 15 de Dezembro de 1995, quando um pacato belga que calçava chuteiras no FC de Liège, refilou das contas e fez queixa às entidades administrativas e judiciais, a União Europeia, que em Bruxelas lhe achou graça e, através do Tratado de Roma, os futebolistas passaram a estar livres no final dos seus contratos. Nasceria uma nova era para o futebol. Acabara a escravatura. E as grandes vedetas como Pedroto, Travassos (o Zé da Europa), Jesus Correia, Hernâni, Joaquim Machado, Germano, Coluna, José Augusto e tantos outros tiveram de ficar amarrados ao torrão natal e aqueles que não se deixaram inebriar por salários altos, ainda conseguiram empregos para o resto da vida, quando a bola deixasse de saltar. Eusébio nem pensava ir comprar caramelos a Badajoz… A Polícia de Salazar estava à espreita.
Ora com o caminhar sem freio do futebol para o profissionalismo e no qual o dinheiro e habilidade de certos senhores, foi criada uma indústria que hoje é umas das grandes fontes de riqueza, sobretudo dos profissionais, como é o caso do nosso Cristiano Ronaldo hoje, ao fim de 20 anos de carreira, dono e senhor da maioria do capital dos mais diversos estabelecimentos de moda e beleza, hóteis em Espanha, e Portugal, e estando na calha o investimentos em Nova Iorque, Marraquexe e Paris, falando-se, ainda, na aquisição duma companhia de aviação. Proprietário de mansões, avião, iate e 30 automóveis quase todos da última geração. Um homem de dinheiro reconhecido pela Forbes, um milionário, aos 37 anos de vida. E, agora, com o calor que imana da areia do deserto, anda no ar que no mundo dos camelos, lá pela grande Arábia Saudita e na qual o dinheiro brilha tanto como o sol, o Al Nassr diz ter preparados - e bem contados - euros para o bolso de Cristiano. Fala-se em 500 milhões e outro tanto ou mais para Messi. E, depoi s, todos temos de aturar isto, esperando com resignação, sem reacções parecidas com os elogios que o Ronaldo fez a um coreano chamado Fernando, para que António Costa nos aumente 10 euros nas pensões de reforma…Está claro que o dinheiro não pode dar tudo ao CR7 e a idade não perdoa. Ele foi o maior de todos os futebolistas, mas já outros nasceram depois dele e o futuro nos dará conta disso.
Nunca apertamos a mão a Ronaldo, mas não poderemos deixar de lhe agradecer a arte que ele foi senhor, e não podemos deixar de considerar que ainda maior seria se nas botas tivesse colado um pouco de humildade, aliás que conheceu quando foi o menino adorado nos Andorinhas. É verdade que tem tomado posições de ajuda a quem precisa, sobretudo de cuidados de saúde, mas isso só atenua a vida de fausto que o futebol lhe deu. À sua sombra também nasceram fortunas, sobretudo dos empresários, uma fauna que infesta o mundo da bola, e que não ficam felizes com estas atitudes...
Acresce que Ronaldo teve um treinador e seleccionador que reagia como o Zé da Bancada e só lhe faltava pedir autógrafos ao seu pupilo. Quase sempre o seleccionador não se sentou na sua cadeira a ouvir Ronaldo, depois de convidar este para se sentar também. Houve não saber estar de ambas as partes e, ainda nos lembramos, porque foi público, o comportamento de jogador e treinador nos últimos minutos do França-Portugal, no Europeu que ganhámos com um golo do céu de Éder, hoje um nome de quem já ninguém se lembra e que tanta fama e dinheiro deu a seus colegas.
Se Éder imitasse o CR7 que teria acontecido?
Cá da nosa tossiqueira, com os nervos em franja, ficamos à espera que todos saibamos ocupar o nosso lugar para podermos ver bem o Portugal-Marrocos e a final com o…Brasil.
Fernando Santos reze, nem que seja a Alá, para que Ronaldo se despeça como campeão e com mais uma marca dos seus golos.
Temos pena do Zé que se esfarrapa todo com as defesas milagrosas do Diogo, das loucas correrias do jovem Pepe, do renascido Félix e o novo menino de ouro Gonçalo Ramos, que está à espera de um grande abraço e desejo de bom futuro por parte de Ronaldo. Que grande golo seria, Cristiano! Mas não acreditamos nisso.
Venha de lá esse tiro certeiro...
O GRITO DA CELEBRAÇÃO
F ICAMOS à espera do grito de guerra e de tiro certeiro de Cristiano Ronaldo - huuuuuuu!!! E se puder ser que seja já no jogo com Marrocos. Um golo daqueles que parece um búfalo... e lá vai disparo para o Sommer ir buscar a bola ao fundo das redes... E com pontapé pode ser que a barrica do dinheiro do sheik tenha muitos cheques…
Quem segura o ‘pistoleiro’?
A CHANCELA GR
Apartir de agora o cidadão reconhecido em Olhão, 101 dias depois do nascimento deste século, também passou a contar o Gonçalo Ramos, que é agora conterrâneo do Grazina, do Moreira e do guarda-redes Abraão, heróis do campo da Padinha. Moreira que também, segundo julgamos, jogou no Benfica. A chancela de G de boleador e o R de rematador já começa a ser marca registada. E com Rui Costa a fazer contas à vida e Roger Schmidt a embalar o pistoleiro para outras pradarias. Não será fácil segurar o algarvio. E a porta do cofre dos benfiquistas vai custar a fechar…
Magriços, em 1966 / Bosman, o que fez lei
QUANTO VALERIAM ESTES?
T EMOS frente aos nossos os terceiros classificados do Mundial de 1966. Qual deles o menos famoso? Só tivemos o calcanhar de Aquiles nos guarda-redes pois foram utilizados o Carvalho,José Pereira e Américo. Nesses tempos, jogar à bola, mesmo como um profissional a roçar o não-amador, não dava para resolver o futuro. Só 29 anos depois é que apareceria a Lei Bosman e, então, os escravos tornaram-se senhores. Mas foi muito tarde.
Saudades. Jacinto!...
UMA VOZ DA BÉLGICA
C AÍU na nossa mesa um mensagem recebida de Antuérpia. Uma lembrança de um velho amigo e de um grande futebolista. Nascido no Leixões e sendo vendido ao Benfica, foi campeão europeu e vestiu a camisola das Quinas. Acabou a carreira ao serviço do FC Porto.
Há muitos anos na Bélgica, onde também jogou e fez jogar, nunca se esquece do seu Leixões. Do Benfica e do seu país. Exultou com a esmagadora vitória sobre a Suiça.
Nos seus 80 anos, e a ter de driblar alguns problemas de saúde, jamais esqueceremos este grande futebolista e a apreciacão que um dia ouvimos da boca do saudoso e consagrado jornalista de A BOLA, Carlos Pinhão: «Este rapaz tem dois pés que são autênticos tacos de bilhar».