Ensinamentos Chineses
Não tagareles, ó tagarelas
1. Discurso de Chuang-Tse:
«Sempre a dispersar a tua força espiritual.
Sempre a desperdiçar a tua energia essencial.
Sempre a tagarelar apoiado contra uma árvore.»
Tagarelar como um desperdício de forças. Tagarelar: falar sem objectivo, sem um sentido. Desperdiçar energia atirando palavras para o lado.
Falar é gastar respiração, é cansar-se. Cansar-se sem objectivo: tagarelar.
Os pulmões dos tagarelas não param de inspirar e expirar a rotações aparentemente aceleradas, mas afinal num quase ponto morto. Sem qualquer avanço.
Os pulmões dos tagarelas ao raio-x são mais assustadores que os pulmões dos fumadores.
Não sintas,
ó ‘sentidor’
2. Para preservar a «energia essencial», o Tao chinês, via filosófica e espiritual, aconselha um «jejum do coração»: poupar o coração, não consumir o coração, não o colocar em movimentos demasiado sentimentais.
Suspender, portanto, os sentimentos. Hipótese para jejum do coração.
Para poupar energia: não sintas.
De tempos a tempos, portanto, além do jejum alimentar e da abstinência sexual que muitos métodos de endurecimento físico aconselham, eis mais um jejum a acrescentar aos métodos de fazer forte um ser humano: o jejum do coração.
Não puxes,
ó puxador
3. Deixar crescer quem está a crescer.
Mêncio, aquele que é considerado um filho espiritual de Confúcio. Em vez de falar de conceitos conta histórias.
Gosto desta história, que aparece em História do pensamento chinês de Anne Cheng:
«Um homem de Song, desolado por não ver os brotos (plantas jovens, ainda a formarem-se) da sua plantação crescerem com bastante rapidez, teve a ideia de os ajudar dando-lhes um puxão.»
Mais tarde esse homem entrou em casa e disse que estava bem exausto porque «tinha ajudado a plantação de trigo a crescer», puxando os brotos para cima. O filho saiu a correr para ver a plantação «e percebeu que os brotos arrancados já haviam secado». Não chegariam a adultos.
Há uma conclusão magnífica de Mêncio:
«No mundo são raros os que não ajudam os brotos a crescer.» Ou seja, são muitos os precipitados.
E depois diz: é certo que não se deve abandonar o crescimento dos cereais à sua sorte, ou seja: deve proteger-se quem está a crescer, proteger o que é jovem das intempéries, das agressões de alguns animais, etc. No entanto, também não se deve forçar o crescimento, puxando. Crescer não é um efeito da acção humana.
Crescer é algo natural. Ninguém fica mais alto fisicamente por ser puxado pelos cabelos ou esticado à força. É preciso respeitar os dias e a sua passagem. A natureza como aquilo que, precisamente, resiste à ansiedade humana.
Adaptável, pois, aos cereais e aos jovens atletas.
Como
se governar
4. Governar um país - ou uma autarquia ou uma equipa.
Os ensinamentos de Confúcio e as suas prioridades.
Diálogo entre aprendiz e mestre:
«Zigong: o que é governar?
O Mestre: É velar para que o povo tenha alimentos suficientes, armas suficientes e assegurar a sua confiança.
Zigong: E se fosse necessário renunciar a uma destas três coisas. Qual seria?
O Mestre: as armas.
Zigong: E se tivéssemos que abdicar de uma segunda coisa. Qual das duas seria?
O Mestre: renunciaríamos aos alimentos. Desde sempre os homens estão sujeitos à morte: mas um povo sem confiança será incapaz de sustentar-se.»
Com confiança, o homem procurará alimentos no caso de eles faltarem.
Sem confiança, deixará apodrecer os alimentos que lhe restarem.